O GLOBO
Como quem não quer nada, o governador de Minas, Aécio Neves, vai construindo seu espaço político no PSDB para ser, se não o candidato escolhido, no mínimo um eleitor decisivo no partido. Os movimentos até agora têm sido bem sucedidos no sentido de reduzir a força política paulista: algumas reuniões estratégicas foram realizadas em Belo Horizonte, em vez de Brasília ou São Paulo onde sempre ocorriam. E pela primeira desde sua fundação o PSDB não tem políticos paulistas na presidência e na secretaria-geral do partido ao mesmo tempo. O senador Tasso Jereissati foi eleito presidente por aclamação, por pressão de Aécio, e o prefeito José Serra indicou o deputado federal do Rio Eduardo Paes para a secretaria-geral, em vez de um tucano paulista.
O almoço que reuniu em Brasília Aécio, o ex-presidente Itamar Franco e o vice-presidente José Alencar teve um objetivo: mostrar que há um espaço para se fazer política que não apenas o da agressão e o da acusação. Se formos mais adiante na especulação das possibilidades, um candidato que não seja de São Paulo pode até construir uma aliança de forças políticas que dará a essa candidatura um perfil diferente do que o da polarização com o PT pela agressão.
Uma candidatura unindo Minas, o segundo colégio eleitoral do país, seria muito forte por que São Paulo está dividido entre Serra e Alckmin, no PSDB, e Lula pelo PT. Os mineiros gostam de lembrar que Juscelino foi eleito com o apoio de Minas e do Nordeste, quase sem força em São Paulo. Além do mais, a possibilidade de o PMDB apoiar uma eventual candidatura de Aécio é bastante razoável. Ele chegou a ser convidado para trocar de legenda quando o prazo legal permitia, para se transformar no candidato oficial do partido.
Por outro lado, pelo tamanho do eleitorado de São Paulo, e neste estágio do processo, os 14% de popularidade de Alckmin são menos estimulantes a longo prazo do que os 10% de Aécio. Além disso, ele é de um colégio eleitoral distinto do de Lula, tem algum carisma, tem governo bem avaliado, tem experiência política (foi presidente da Câmara, quer dizer, sabe lidar com o baixo clero) e pode se beneficiar do imaginário que cercou a trajetória estancada do avô Tancredo Neves.
O governador Aécio é o candidato, no PSDB, que tem mais espaço para crescer, pois é pouco conhecido fora de seu estado, assim como o governador Alckmin, mas tem a menor avaliação negativa nas pesquisas que o partido realiza. A última pesquisa CNT/Sensus, mostra que Aécio teve uma subida de cerca de nove pontos percentuais nos últimos nove meses, passando de 19,2% para 28,1%.
O governador de Minas acha que "não podemos continuar vivendo com toda a concentração econômica e política em São Paulo". Ele não está preocupado apenas com a escolha do candidato, mas com um programa de governo "planejado por paulistas, executado por paulistas, e isso não é bom para o Brasil".
Em sua análise, as disputas em São Paulo são intestinais nos partidos e depois tomam conta da posição nacional. O próprio presidente Lula lhe disse que está preocupado com a disputa entre o senador Aloizio Mercadante e a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy pelo lugar de candidato do PT ao governo de São Paulo. E no PSDB há disputa entre Serra e Alckmin.
Aécio Neves lamenta que as duas forças políticas que venceram a disputa com as forças mais retrógradas criaram entre si um antagonismo tão grande que, tirando essa crise, segundo ele, "não tem reflexo nem nas posições dos partidos, nem nas idéias em que o PT avançou tanto em muitas delas. Nós não podemos jogar no lixo essa possibilidade de atuação conjunta".
Aécio avisa que, a partir de Minas, existem pessoas que querem construir pontes, e não dinamitá-las. "Acho uma burrice a oposição querer tirar Palocci. Quem quer tirar é uma parcela do PT, então deixe eles tirarem. Não vamos fazer esse serviço para eles", diz o governador, para quem "se temos tanta confiança de que podemos ganhar as eleições, prefiro um país estabilizado, com perspectiva de crescimento, com confiança dos investidores, do mercado internacional". Aécio acredita que o governo já sangrou o que tinha que sangrar, e o PT, no mínimo, ficou igual aos outros partidos.
"Agora temos que bater na questão da gestão, da eficiência. Mostrar que somos capazes de gerir o país melhor do que eles, em vez de ficar disputando quem é ladrão. Prefiro ser sócio do êxito da política econômica, dizendo que a única coisa que dá certo nesse governo é o que eles herdaram de nós, do que ser sócio do imponderável amanhã, de uma crise. Não vamos dar a eles a justificativa de que não deu certo por que o PSDB desestabilizou o governo pela busca do poder".
O governador de Minas avalia que "a oposição que o PT fez em relação a nós, radicalizada, inconseqüente, irresponsável, nos fez perder tempo com reformas que não deixaram aprovar e depois tiveram que fazer, deu certo para eles, mas não serve para o PSDB". Aécio critica, por exemplo, a derrota da Medida Provisória 258 que unifica a Receita, " só por que é proposta do governo", ou a falta de apoio para uma reforma tributária "para não favorecer o governo"
Existem outras formas de fazer oposição, afirma Aécio, que acha "mais corajosa uma oposição que seja firme na apuração das denúncias, na fiscalização, mas que aceite ajudar o país em determinados aspectos, mesmo que isso ajude o governo". O governador de Minas avalia que, do jeito que anda a radicalização política, "caminhamos para uma campanha sangrenta" e pergunta: e depois? "Alguém vai ganhar a eleição no ano que vem, e no dia seguinte, vai governar com quem?"
Entrevista:O Estado inteligente
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