FSP
O jogo oposição-governo é extraordinário. Sai um novo escândalo, real ou não, ou alguma declaração do presidente da República. Imediatamente, dezenas de microfones se dirigem aos candidatos a candidatos da oposição, que se esmeram em frases de efeito -irremediavelmente iguais, irremediavelmente banais.
Vez por outra, sai uma entrevista mais substanciosa, com críticas técnicas e políticas de maior envergadura. Mas, se o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, vai depor sobre política econômica, a oposição se derrete em mesuras ao "sucesso extraordinário" de sua obra. Tenha a santa paciência! Recentemente, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) revelou as razões da virulência dos senadores Tasso Jereissati e Jorge Bornhausen contra o PT. Radicais petistas tentaram envolver a mãe de Tasso e um irmão de Bornhausen na CPI do Banestado. É compreensível que a bonomia e a civilidade de Palocci mereçam todos os aplausos, especialmente de quem já foi vítima da ira petista. Mas não sua política econômica.
Ao confundir o personagem político com sua obra, essas lideranças impedem a montagem de uma proposta alternativa consistente e ajudam a consolidar essa estratificação dos clichês.
Indicado ministro, Palocci foi um alívio porque se pensava que, fora dele, haveria o caos, o populismo desenfreado, a irresponsabilidade fiscal. Quando ficou claro que o governo Lula não seria desse estilo, o jogo teria que ser outro, uma discussão mais sofisticada que permitisse, mesmo dentro de parâmetros da ortodoxia, implementar algumas mudanças básicas e óbvias na política monetária e cambial.
Agora que a temperatura vai baixando, essas questões mais relevantes se apresentam: quem vai explicitar, com todas as letras, a proposta alternativa a esse modelo econômico capenga?
O governador mineiro, Aécio Neves, tem tentado empunhar a bandeira da gestão. Tem o que mostrar em seu Estado, mas gestão é precondição. A definição de um modelo político alternativo vai muito além da gestão, passa por conhecimento sobre como enfrentar a armadilha financeira dos juros, clareza sobre o modelo de desenvolvimento alternativo, estratégia de negociações comerciais, avanços sem rupturas etc.
Dos pré-candidatos, o prefeito de São Paulo, José Serra, é o único que dispõe desse instrumental e da capacidade de agregar quadros. Mas parece inibido pelo patrulhamento do pensamento monofásico.
Esse imobilismo é agravado pela atitude das lideranças do PSDB, que ainda não exorcizaram o fantasma dos erros cambiais de 1994. Nesta semana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ensaiou uma autocrítica, ao admitir que Lula está preso à mesma armadilha que imobilizou seu governo. Depois, na Espanha, ao ouvir elogios à política de Palocci, tratou de apresentá-lo como um continuador de sua grande obra. Não tem remédio, no seu caso, o vaidoso sempre vence o inteligente.
Está na hora de o PSDB começar a explicitar uma proposta de governo, com começo, meio e fim. Vai haver patrulhamento, especialmente do pensamento cabeça de planilha. Mas não se irá mudar o país nem se chegar ao poder escondendo o que se pensa.
Entrevista:O Estado inteligente
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