Deputado acha que oposição perde tempo e terreno com "estratégias rebuscadas" Mestre de cerimônias de mais um episódio da série Palocci no Congresso iniciada semana passada e com novas sessões previstas para os próximos dias, o presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, deputado Geddel Vieira Lima, não antevê pancadaria, mas também espera que não se repita, hoje, o clima de chá e simpatia que permeou a sabatina do ministro da Fazenda na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na opinião do deputado, guardada a civilidade no trato, a comissão não pode tomar a iniciativa de abrir mão do dever de ir direto ao ponto e "tratar com o ministro dos assuntos que ele mesmo já se mostrou disposto a abordar. Se não quiser, se Palocci preferir falar de ajuste fiscal e contenção de recursos, caberá a ele solicitar a restrição. Do contrário, o Poder Legislativo estará sendo mais realista que o rei e frustrando a expectativa das pessoas". Vieira Lima passou o dia ontem ao telefone para sentir o "pulso" dos integrantes da comissão, preparando três ou quatro perguntas relativas às denúncias para fazer ao ministro. "Na condição de presidente, preferiria não falar, mas se ninguém se dispuser, eu falo." O conteúdo das perguntas não revelou, mas antecipa o desejo de ver o ministro da Fazenda discorrendo clara e detalhadamente sobre a conduta de seu ex-assessor e amigo Rogério Buratti. Radical opositor do governo Luiz Inácio da Silva no PMDB e crítico das maneiras, na opinião dele, amenas de o PSDB e parte do PFL fazerem oposição, Geddel Vieira Lima considerou mais um erro crasso a decisão de tucanos e pefelistas de não perguntarem nada na semana passada sobre as denúncias de corrupção, limitando os questionamentos à pauta de economia. Equivocaram-se, diz, por vários motivos, sendo o mais grave a "impressão de conivência" passada à opinião pública. "Além disso, a oposição vai firmando uma imagem de chantagista, dá razão ao argumento do governo de que seus adversários não estão interessados em investigar, muito menos em esclarecer coisa alguma sobre as acusações de corrupção. Só querem fazer um jogo eleitoral e, por isso, sangram o governo mas, nos momentos cruciais, recuam alegando estratégia política." Na visão do presidente da Comissão de Finanças e Tributação, o excesso de "rebuscamento" estratégico pode servir para a oposição exibir seus dotes de refinamento na arte da esgrimas, mas, não só dificulta a compreensão do cidadão comum a respeito do que se passa, como ajuda o governo a mudar o foco das denúncias para o debate sobre as divergências internas em relação à política econômica, de acordo com ele, um dilema falso, uma forma de escapar do que está realmente em jogo. Neste aspecto, o deputado admite, o governo está sendo mais competente que a oposição. "Com o mesmo tipo de manobra o PT conseguiu sair da pauta da corrupção e impor a agenda do caixa 2 e, desse modo também, José Dirceu vai fazendo crer que as investigações são meros frutos de perseguições políticas, que o Congresso, a polícia e o Ministério Público não fazem outra coisa a não ser agredir o Estado de direito." Para ele, hoje a Câmara deve ter claro que o ministro da Fazenda não irá lá para fazer uma palestra comum sobre sua área de atuação. "Palocci está indo por causa do envolvimento de seu nome em atos de corrupção e por isso não nos cabe desviar o assunto. Se ele for convincente, defendo inclusive que não seja convocado na CPI dos Bingos. O que não podemos é render homenagem ao faz de conta porque, aí sim, a população poderá, com razão, nos condenar."
Guarda-costeira Na reunião de Antônio Palocci com a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o ministro teve direito à presença de uma tropa de elite na mesa diretora dos trabalhos: além do presidente do Senado, os ex-presidentes da Casa Antonio Carlos Magalhães e José Sarney. Sentaram-se ali como se fosse a coisa mais natural do mundo tantos ilustres assistirem a encontros de praxe entre ministros e parlamentares. Como não é usual, fizeram mesmo o papel de grupo de apoio ao titular da Fazenda. Hoje, será difícil o cenário de repetir. Se o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, quiser fazer parte da mesa será informado ao microfone que o gesto visa a dar cobertura política ao ministro. Mesmo assim, Aldo não poderá ter a companhia de antecessores: o último, Severino Cavalcanti, renunciou para escapar da cassação, e o penúltimo, João Paulo Cunha, está em vias de ser julgado, e talvez cassado, por quebra de decoro parlamentar.
Sinuca O Tribunal Superior Eleitoral deixou suas excelências sem saída ao entregar ao Congresso proposta de agravamento de penas para crimes eleitorais, incluindo o usa do caixa 2. Deputados e senadores preferiam adiar o assunto para uma futura, e remotíssima, reforma política. Agora estão obrigados a se pronunciar se não quiserem perder o discurso.
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terça-feira, novembro 22, 2005
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