O elo se fechou O empresário Marcos Valério, que dizia
não ter nada a ver com o PT, negociou
e avalizou empréstimo de 2,4 milhões
para o partido. Mais: a SMPB, uma de suas
agências, que trabalha para o governo,
bancou uma parcela, pagando 350 000 reais
Alexandre Oltramari
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Montagem com fotos de Nélio Rodrigues/1º Plano/Denio Simões/BG Press
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A SOCIEDADE ATÉ ENTÃO INVISÍVEL No papel acima, os dados do empréstimo bancário tomado pelo PT e avalizado por Genoíno, Delúbio e Marcos Valério, cujas assinaturas aparecem no papel reproduzido acima: ele é "avalista e devedor solidário" |
O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dono de duas agências de publicidade, tem sido acusado de ser o operador do mensalão, apelido dado ao dinheiro que o PT distribuiria para deputados do PP e do PL. Ele nega. Nega ter participado do tal mensalão e nega até mesmo que tenha relações próximas com o próprio PT. Em entrevista publicada na edição passada de VEJA, Marcos Valério disse que é amigo íntimo do tesoureiro Delúbio Soares, mas nada tem a ver com o partido. Admitiu que já esteve treze vezes na sede do PT em Brasília apenas neste ano, mas garantiu que foi para "tomar um cafezinho" com o amigo Delúbio Soares e discutir "futilidades e um pouco de política". Na mesma entrevista, questionado sobre ter sido avalista do PT num empréstimo bancário, o empresário não confirmou nem negou, mas, três horas depois, orientado por seu advogado, pediu para retificar sua resposta: "Não fui avalista do PT". Na semana passada, VEJA descobriu que, como já se desconfiava, nada disso é verdade. A verdade é muito pior. Marcos Valério tem uma sociedade secreta com o PT cujos elos são financeiros. O homem da mala e o partido que foi eleito para moralizar a política estão umbilicalmente ligados por obscuras transações envolvendo dinheiro, muito dinheiro. E o que é pior para todos: dinheiro público.
VEJA teve acesso a documentos bancários guardados nos arquivos do Banco Central cuja leitura prova que o PT fez um empréstimo de 2,4 milhões de reais no dia 17 de fevereiro de 2003 no BMG, em Belo Horizonte. O empréstimo teve a assinatura de três avalistas. Dois são dirigentes conhecidos e têm cargo formal na direção do partido. Um é José Genoíno, que preside a legenda. O outro é Delúbio Soares, o tesoureiro. O terceiro é ele mesmo: Marcos Valério. Sua assinatura, cujos círculos lembram aqueles grandes rolos de arame farpado usado em trincheiras, está colocada no documento sobre a seguinte identificação: "Avalista e devedor solidário". Desmascara-se, assim, a maior mentira do empresário: ele foi, sim, avalista do PT. Na realidade, ainda é, pois a dívida ainda não foi quitada. Na semana passada, VEJA perguntou ao presidente José Genoíno se Marcos Valério assinou algum aval para o partido. "Não sei de nada disso, não. Eu tenho de me informar. Acabei de descer do avião", disse Genoíno. Eram 9h37 da manhã de sexta-feira passada e ele acabara de desembarcar em São Paulo. "Acho que não tem isso. Vou me informar. Me ligue em uma hora."
Uma hora depois, Genoíno já estava na sede do PT em São Paulo e travou-se o seguinte diálogo:
Veja – E então?
Genoíno – Olha, não tem isso, não. O que temos com o Marcos Valério são dívidas de campanhas de políticos que ele fez para a gente como publicitário.
Veja – Ele nunca foi avalista do PT em alguma operação bancária?
Genoíno – Nunca. Ele nunca foi avalista do PT. Não tem isso, não.
Antonio Milena |
IGUAIS, MAS NEM TANTO Valério já foi comparado a PC Farias (foto): há, sim, semelhanças, mas também há uma diferença central. Lula não é Collor |
À primeira vista, fica difícil entender por que o PT faz tanta questão de esconder que Marcos Valério já foi seu avalista. Em tese, seu amigão Delúbio Soares poderia ter pedido que, num gesto de gentileza, concordasse em ser avalista no empréstimo de 2,4 milhões de reais. Não há crime numa operação assim. Examinando-se o negócio mais a fundo, porém, descobre-se um motivo para o despiste: Marcos Valério não foi apenas "avalista e devedor solidário", mas chegou a pagar uma das prestações, no valor de 350.000 reais. O dinheiro saiu da conta da agência publicitária SMPB Comunicação, no Banco Rural. Em valores exatos, o pagamento foi de 349.927,53 reais e aconteceu no dia 14 de julho de 2004. Seria até compreensível que o PT fizesse algum depósito em favor da SMPB, que, afinal, é uma agência de publicidade, trabalha em campanhas eleitorais e pode ter feito, conforme diz José Genoíno, algum serviço publicitário para o PT. Mas o contrário, a agência dar dinheiro ao partido, é uma transação comprometedora. É prova de que a SMPB e o PT estão entrelaçados em um casamento clandestino – mas, ainda assim, um casamento, daqueles em que se é fiel na alegria e na tristeza. SMPB e o PT ajudam-se mutuamente nas urgências financeiras. Até aí se entende. Afinal, cada um se casa com quem quer. É assunto privado. Só deixa de sê-lo quando as ajudas são feitas com a participação do dinheiro público. É esse justamente o caso de PT e Valério.
Uma das fontes de receita da SMPB é o governo do PT. Isso mostra a existência de um ciclo conhecidíssimo, mas que raramente se consegue trazer à luz com tanta nitidez como agora: o dinheiro sai dos cofres públicos, faz uma escala na conta da agência de publicidade e acaba aterrissando no caixa do PT. Simples. Muito simples. De uma simplicidade tal que qualquer homem comum entende se tratar de grossa corrupção. A SMPB de Marcos Valério tem dois contratos de publicidade com o governo. Um é com os Correios, pelo qual a agência já recebeu, só neste ano, 15 milhões de reais. O outro é com o Ministério do Esporte, de 650.000 reais. A SMPB tem também contrato com a Câmara dos Deputados, assinado na gestão do petista João Paulo Cunha, pelo qual já recebeu 10,7 milhões de reais. Sua outra agência, a DNA, possui três contratos com o governo. O maior deles é com o Banco do Brasil, que rendeu cerca de 105 milhões de reais à agência no ano passado. Depois, vem o contrato com a Eletronorte, cujo valor total é de 12,5 milhões de reais. Há, ainda, um terceiro contrato, selado com o Ministério do Trabalho, pelo qual a agência recebeu neste ano 506.000 reais.
Ailton de Freita/Ag. O Globo |
AVARIADO, MAS INTEIRO Jefferson, com os estragos no olho esquerdo produzido por um acidente doméstico: novas suspeitas confirmadas |
Qual o total de dinheiro nosso entregue ao camarada Valério para prestar serviços de propaganda ao governo? 144,4 milhões de reais. Quando se contabilizam contratos de prazos maiores, a conta passa de 400 milhões. Quanto disso entrou na ciranda financeira do casamento entre o PT e a SMPB? Não se pode precisar. Mas é, sem dúvida, uma boa linha de investigação para os órgãos competentes. O que se sabe com certeza é que existe uma sociedade entre o partido e o falso publicitário – e que ambos se favorecem dela. No início do ano passado, a empresa de participações de Valério, a Graffiti, que controla a agência de publicidade DNA, contraiu um empréstimo de mais de 15 milhões de reais e deu como garantia a receita de um contrato publicitário que, pouco antes, fora firmado entre a SMPB e os Correios.
O empréstimo de 2,4 milhões de reais foi pedido por Delúbio Soares assim que o presidente Lula tomou posse, no começo de 2003. Verificando-se os bastidores do negócio, constata-se que Marcos Valério entrou em cena logo no início. Sua participação foi decisiva:
• Ao saber que Delúbio pedira o empréstimo mas não estava tendo sucesso, Valério entrou na operação para reforçar o pedido.
• Ao perceber que o PT enfrentava dificuldades na negociação, Valério fez questão de participar das conversas com a direção do banco.
• Com a intenção de mostrar os músculos do PT no governo, Valério levou a direção do banco a visitar o então ministro José Dirceu, da Casa Civil. Quem? José Dirceu, aquele que se propõe a incendiar a militância petista em defesa da luta contra a corrupção e em defesa do governo.
• Por fim, para viabilizar o empréstimo, Valério resolveu usar a força de seu patrimônio pessoal. Assinou o contrato como avalista do empréstimo de 2,4 milhões.
No depoimento que prestou à Polícia Federal na semana passada, Valério mentiu sobre esse assunto. Disse que nunca agendou nenhum encontro "pessoal ou oficial" com o então ministro José Dirceu, da Casa Civil. Disse ainda que só esteve com Dirceu "em reuniões sociais, tais como um churrasco comemorativo do aniversário de um deputado" de cujo nome não se lembra. Antes, em entrevista publicada em VEJA, contou que esteve "três ou quatro vezes" com Dirceu e "quatro ou cinco vezes" na sua ante-sala no Palácio do Planalto, onde jogava conversa fora com a assessora-chefe da Casa Civil, sua amiga Sandra Cabral. Na negociação do empréstimo de 2,4 milhões de reais, porém, os caminhos de Valério e Dirceu se cruzaram. Num dado momento, dirigentes do BMG reuniram-se com Valério e Delúbio no hotel Blue Tree, em Brasília, para discutir o empréstimo. Ainda em Brasília, Valério levou os dirigentes do banco à presença do então ministro José Dirceu. De quem? José Dirceu. Depois disso, o empréstimo foi liberado. Os 2,4 milhões de reais foram depositados na conta bancária do PT no Banco do Brasil.
Procurado por VEJA, que deixou três recados em seu gabinete, o deputado José Dirceu não retornou as ligações. Contudo, o ex-ministro já afirmara que não tinha relações nem políticas nem pessoais com Valério, a quem recebeu, segundo ele, apenas duas vezes na Casa Civil. Valério também foi procurado pela revista, que queria saber as razões que o levaram a mentir sobre o aval ao PT. Ele acionou seu advogado, Rogério Tolentino. "Por orientação dos advogados, ele não vai fazer nenhuma afirmação que possa conflitar com a defesa", disse Tolentino. "Por isso, ele não pode confirmar, desmentir nem dar nenhum esclarecimento. Hoje ele está quieto", arrematou. VEJA também procurou a direção do BMG para um esclarecimento: por que o banco não executou as garantias do empréstimo já que a operação não foi quitada pelo PT? A assessora de imprensa do banco, a jornalista Angélica Appelt, enviou uma nota à revista na qual se lê: "A direção do banco BMG não pode comentar as informações levantadas pela revista em respeito à lei do sigilo bancário".
Marcos Valério entrou para o epicentro do escândalo no dia 12 de junho, quando o deputado Roberto Jefferson, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, apresentou seu nome ao país e acusou-o de ser o homem da mala do PT . De lá para cá, todos os indícios que já apareceram conferem à perfeição com as suspeitas. Jefferson disse que Valério era o operador do mensalão e que, nessa condição, fazia viagens freqüentes a Brasília, nas quais levava malas de dinheiro retirado do Banco Rural. De fato: Valério esteve 31 vezes em Brasília, apenas no período de maio a dezembro de 2003 – o que dá uma viagem por semana. Na véspera de suas viagens a Brasília havia saques vultosos nas contas de suas empresas, e os saques eram mesmo feitos no Banco Rural. Cruzando-se as datas das viagens com as dos saques, tem-se um balé perfeitamente simétrico. Entre julho e dezembro de 2003, Valério sacou 11,2 milhões de reais de suas empresas. Desse total, 6,2 milhões foram retirados na véspera de suas visitas a Brasília ou no dia em que se achava na capital federal.
A agenda de sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, que depôs no Conselho de Ética da Câmara, trouxe um dado adicional. Há uma anotação indicando que Valério lhe pedia que reservasse suítes com cofre nos hotéis em Brasília. Em seu depoimento, Karina contou que ouviu sua colega Simone Vasconcelos, que costumava acompanhar Valério nas viagens a Brasília, reclamar que andava cansada de ficar em quartos de hotel "contando dinheiro" e assistindo ao "entra-e-sai de homens". Na semana passada, Jefferson, com o olho esquerdo avariado pela – diz ele – queda de um armário, acrescentou novos detalhes às peripécias de Valério e, de novo, os indícios não tardaram a vir. Disse que o empresário fazia pagamentos do mensalão numa agência do Banco Rural no 9º andar de um shopping em Brasília. Pois bem: os registros da portaria do prédio informam que Valério esteve lá pelo menos uma vez, em 19 de agosto de 2003. No mesmo dia, 150.000 reais foram sacados da conta da DNA no Rural, em Belo Horizonte.
Givaldo Barbosa/Ag. O Globo
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NADA SERÁ COMO ANTES O PT hoje, com Silvio Pereira, José Genoíno e Delúbio Soares, e o PT ontem, com seus fundadores: trajetória política exuberante tisnada agora pelas más companhias e pelos negócios obscuros |
Carlos Namba
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Com tantos indícios conferindo com as suspeitas, Marcos Valério transformou-se em peça-chave das denúncias. Jefferson, em seu depoimento da semana passada, disse que o célebre PC Farias, o tesoureiro de Collor que enriqueceu a si e ao patrão fazendo traficâncias dentro e fora do governo, "é pinto" perto de Valério. Ele define o falso publicitário como uma "versão moderna e macaqueada" de seu antecessor PC Farias. A comparação é um lance de retórica, mas existem alguns paralelos entre os dois: eram ambos obscuros até que as denúncias rasgassem o anonimato, circulavam discretamente pelos gabinetes poderosos da República, tinham uma penca de empresas e, sempre que eram questionados sobre seus negócios, davam explicações que não resistiam à primeira checagem. Há, no entanto, uma diferença fundamental. PC Farias atuava com autorização expressa do então presidente Collor, e o produto de suas propinas era dividido entre os dois. Agora, sabe-se que Valério tinha salvo-conduto de dirigentes do PT, mas não se conhece nenhuma ligação entre ele e o presidente da República. A amigos, Lula tem dito que nunca ouvira falar do empresário.
A descoberta de que Valério e o PT se cruzam em negócios bancários reforça as suspeitas de que o empresário atua em nome do partido, mas também provoca um dano imenso à imagem do PT. Em seus 25 anos de vida, a legenda virou um partido poderoso e parecia ter percorrido sua trajetória sem perder as qualidades originais, entre as quais se ressaltava o compromisso com a ética e a moralidade pública. Esse era seu diferencial, o que fez da estrela vermelha um símbolo de esperança para o Brasil. Agora, o cenário é outro. Na quinta-feira passada, o tesoureiro Delúbio Soares, ex-professor de matemática, aproveitou um evento que reuniu trabalhadores da educação na Assembléia Legislativa de Goiás, em Goiânia, e fez o discurso que lhe resta diante de tantas evidências: disse que o impeachment de Lula está sendo urdido pela "direita", acusou a imprensa de trabalhar a favor dos "setores conservadores", incluindo VEJA no rol dos criticados, e acabou conclamando a militância do PT a lutar contra os golpistas. A militância do PT, outrora tão aguerrida, parece apática e perplexa diante da lama. A atual liderança do partido é incapaz de arrastar multidões às ruas. Também era o que faltava: esperar que pessoas honestas, só porque são de esquerda, marchem sob a bandeira do falso publicitário e do tesoureiro do PT gritando a palavra de ordem: "Dinheiro / público / É do Valério e do Delúbio".
As cinco pontas do dinheiro
O empréstimo do PT pago parcialmente por Marcos Valério é parte de um ciclo em que o dinheiro público sai dos cofres de estatais e volta para a cúpula petista. O ciclo tem cinco fases
Montagem sobre foto Nélio Rodrigues/1º Plano
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1. O DINHEIRO SAI
As agências de publicidade de Valério ganham ou renovam contratos com empresas estatais. Em apenas um ano ele recebeu 144 milhões de reais nesses contratos
2. MANOBRA DO EMPRÉSTIMO
No caso específico da transação desvendada por VEJA, Valério aparece como avalista de um empréstimo de 2,4 milhões de reais feito pelo PT
3. O SOCORRO AO PT
O PT não paga as parcelas do empréstimo. Elas vão se acumulando. As empresas de Valério socorrem o PT e pagam uma parcela de 350 000 reais
4. A RECOMPENSA
Pelos bons serviços financeiros prestados ao PT, as empresas de Valério continuam ganhando contratos oficiais
5. O OUTRO PAGAMENTO
Para tentar manter a sociedade secreta em funcionamento, Valério mente à Polícia Federal sobre suas reais vinculações com o PT. De quebra, tenta envolver políticos tucanos
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| | | | O HOMEM-BOMBA Roberto Jefferson, deputado e presidente licenciado do PTB | | | | | O deputado federal foi citado por Marinho na fita como seu superior no esquema de corrupção. Em outra reportagem de VEJA, foi envolvido em nova denúncia de irregularidade na máquina pública, desta vez no IRB. Acuado pelas acusações, resolveu falar: em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, denunciou o pagamento de um mensalão aos deputados que ajudassem o governo na Câmara. | | O que diz | | Nega ter chefiadou ou participado de esquemas de corrupção nos Correios e no IRB. Sobre o mensalão, diz não ter envolvimento no caso, mas admite o recebimento de doações milionárias do PT para financiar as campanhas eleitorais de seu partido. | | | | |
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| | | | O CORRUPTO Maurício Marinho, ex-funcionário dos Correios | | | | | Como chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da ECT, Marinho foi flagrado em fita revelada por VEJA aceitando propina de um empresário. O funcionário dizia representar o PTB na estatal e garantia ter relação estreita com o presidente do partido, deputado Roberto Jefferson. A divulgação da gravação detonou a maior crise política do governo Lula. | | O que diz | | Em entrevista a VEJA, Marinho desmentiu atuar a mando de Jefferson. Na CPI aberta para apurar o caso, Marinho negou ter recebido propina, mas admitiu a existência de contratos e negociações irregulares em diversos setores dos Correios. | | | | |
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| | | | O DIRETOR Antonio Osório Batista, diretor afastado dos Correios | | | | | Ex-deputado do PTB da Bahia, Osório chegou ao cargo de diretoria nos Correios por indicação de Roberto Jefferson e indicou Marinho para o posto de chefia. Na conversa revelada por VEJA, Marinho conta que Osório, um assessor e ele próprio integram um grupo encarregado do esquema ilegal. A citação de seu nome na fita fez o ministro das Comunicações afastá-lo do cargo. | | O que diz | | Não comenta as acusações de corrupção. Sobre Marinho, afastado por ele na semana anterior à denúncia de VEJA, diz: "Ele é um profissional competente, com currículo espetacular". O afastamento de Marinho, afirma, foi por causa de problemas de saúde. | | | | |
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| | | | O ECONOMISTA Lídio Duarte, ex-presidente do IRB | | | | | Duarte era funcionário de carreira da estatal, mas pediu demissão do cargo de presidente por causa da forte pressão a que era submetido para que entregasse uma mesada de 400.000 reais ao PTB. Antes de deixar o cargo, contou a um graduado servidor os problemas que vinha enfrentando por se negar a produzir a mesada de 400.000 reais via operações administrativas irregulares. | | O que diz | | Em depoimento à Polícia Federal, negou ter sido pressionado a dar mesada ao PTB e até que tenha concedido entrevista a VEJA a respeito do tema - apesar de a entrevista ter sido gravada. Sobre a saída do IRB, diz que o motivo foram problemas políticos. | | | | |
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| | | | O CORRETOR Henrique Brandão, da seguradora Assurê | | | | | Em função da ligação estreita com o deputado Roberto Jefferson, o corretor conquistou influência invejável no governo, com estatais fazendo de tudo - até violando normas técnicas - para entregar os seguros nas mãos dele. No IRB, os privilégios do corretor agigantaram-se. Brandão é acusado de tentar arrancar de Lidio Duarte a mesada de 400.000 reais ao PTB de Jefferson. | | O que diz | | Brandão não nega ter envolvimento com Roberto Jefferson mas garante que jamais cobrou a mesada de Duarte no IRB. "Nunca fiz isso na vida. Sou amigo pessoal do Roberto Jefferson, me relaciono com todos os partidos, mas minha vida é vender seguros." | | | | |
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| | | | O EX-MINISTRO José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil e deputado do PT | | | | | A denúncia sobre o mensalão derrubou o principal auxiliar de Lula 50 horas depois da fala de Roberto Jefferson à comissão de sindicância da Câmara. Segundo Jefferson, Dirceu não apenas sabia do esquema como também o comandava. Além disso, Dirceu está na mira por ter coordenado o loteamento de cargos entre os partidos aliados ao governo - inclusive para a presidência do IRB. | | O que diz | | Dirceu desmente participação em qualquer episódio de corrupção. Atribui as denúncias à tentativa "da oposição e das elites do país" de desestabilizar o governo. Ao deixar a Casa Civil, disse ter "as mãos limpas" e prometeu defender o governo e o PT. | | | | |
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| | | | OS ACUSADOS Valdemar Costa Neto, Bispo Rodrigues e Pedro Henry, deputados federais | | | | | De acordo com o depoimento de Roberto Jefferson na comissão de sindicância da Câmara, o dinheiro correspondente às mesadas de parlamentares da base aliada era entregue pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a líderes ou presidentes dos partidos. Costa Neto e Rodrigues, ambos do PL, e Henry, do PP, recebiam os "pacotinhos" e distribuíam nas suas bancadas, relatou Jefferson. | | O que dizem | | Todos negam as acusações. Dizem não ter envolvimento ou sequer conhecimento do suposto esquema do mensalão. Também defendem seus partidos, dizendo que as bancadas não recebem dinheiro para apoiar o governo Lula nas votações do Congresso Nacional. | | | | |
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| | | | O DONO DA 'PENSÃO' José Janene, deputado do PP | | | | | Acusado por Jefferson de ser um dos beneficiários do mensalão, Janene não seria apenas um dos deputados pagos pelo esquema - segundo o deputado do PTB, o parlamentar pepista também ajudava Marcos Valério a distribuir o dinheiro. O ex-tesoureiro do PP afirma ter ouvido comentários indicando que a entrega do mensalão ocorria no apartamento de Janene, conhecido como "pensão". | | O que diz | | José Janene nega ter embolsado o mensalão, diz que não tem envolvimento algum na entrega do dinheiro e desmente o uso de seu apartamento para a distribuição dos "pacotinhos" aos parlamentares. Ele abriu pedido de queixa-crime no STF contra Jefferson. | | | | |
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| | | | A DEPUTADA Raquel Teixeira, deputada licenciada do PSDB e secretária de Estado de Goiás | | | | | Antes de se afastar da Câmara para integrar o governo de seu Estado, a parlamentar tucana teria recebido uma oferta de 30.000 reais por mês mais luvas de 1 milhão de reais por ano para mudar de partido e entrar na base aliada ao governo Lula. Segundo o relato, a oferta foi feita pelo deputado Sandro Mabel, líder do PL, que nega a acusação. Raquel Teixeira rejeitou a oferta. | | O que diz | | Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, ela confirmou oficialmente que ouviu a proposta. A deputada afirma ter relatado o caso ao governador de Goiás, Marconi Perillo, e diz não ter feito denúncia porque não tinha provas nem testemunhas da oferta. | | | | |
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| | | | O PROPONENTE Sandro Mabel, deputado do PL | | | | | Líder de seu partido na Câmara, Mabel é acusado por Raquel Teixeira de oferecer 30.000 reais por mês mais luvas de 1 milhão de reais por ano para que a tucana mudasse de partido e entrasse na base aliada ao governo Lula. É autor de uma representação na Corregedoria da Casa por quebra de decoro parlamentar contra a autora da denúncia, que, de acordo com ele, está mentindo. | | O que diz | | Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara na investigação do mensalão, Mabel reconheceu ter convidado Raquel Teixeira a fazer parte de seu partido. Garante, no entanto, que não pagaria por sua mudança: "Fiz o convite, mas não ofereci dinheiro". | | | | |
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| | | | A EX-MULHER Maria Christina Mendes Caldeira, publicitária e socialite | | | | | Separada do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto, Maria Christina reforçou as suspeitas em torno da atuação de seu marido no suposto esquema do mensalão, garantindo que seu ex-marido é "amigo próximo" do tesoureiro do PT Delúbio Soares, que é acusado por Roberto Jefferson de ser o coordenador da distribuição de dinheiro aos parlamentares da base aliada na Câmara. | | O que diz | | Ao relatar detalhes da relação entre o ex-marido e o tesoureiro do PT, ela afirmou que Costa Neto embolsou parte de uma doação do governo de Taiwan para a campanha de Lula para presidente, e que o deputado usa dinheiro do PL para fins pessoais. Ele nega. | | | | |
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| | | | O GOVERNADOR Marconi Perillo, governador de Goiás | | | | | Ouviu da deputada Raquel Teixeira, integrante de seu partido e de sua equipe de governo em Goiás, o relato sobre a proposta de mesada. | | O que diz | | Perillo conta ter repassado o relato ao presidente Lula durante uma visita do presidente a Rio Verde (GO). A resposta de Lula teria sido: "Isso foi algo que o Sérgio Motta (ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso) introduziu". | | | | |
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| | | | A SECRETÁRIA Fernanda Karina Sommagio, ex-secretária de Marcos Valério | | | | | Suas entrevistas revelaram detalhes da ligação entre seu ex-chefe e integrantes da cúpula do PT e do transporte de malas com dinheiro retirado do Banco Rural e Banco do Brasil. Segundo ela, os pacotes saíam do escritório de Valério rumo a Brasília, onde deveriam ser distribuídos. A ex-secretária também saberia de casos de corrupção envolvendo contratos de Valério com o governo federal. | | O que diz | | Ao prestar depoimento à Polícia Federal, Fernanda chegou a desmentir suas declarações. Depois, mudou de posição outra vez e disse que só tinha recuado das denúncias porque sofrera ameaças. Afirma temer retaliações pelas denúncias contra o ex-chefe. | | | | |
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| | | | OS MINISTROS Walfrido Mares Guia, Ciro Gomes, Miro Teixeira | | | | | Roberto Jefferson afirma ter procurado os ministros do Turismo, Integração Nacional e Comunicações, pela ordem, para tentar denunciar o caso e levá-lo ao presidente. José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação Política), e Antonio Palocci (Fazenda) também teriam ouvido de Roberto Jefferson os relatos sobre o suposto pagamento de mesadas aos parlamentares. | | O que dizem | | Walfrido, Ciro e Miro confirmaram ter ouvido a denúncia sobre o mensalão em conversas com Roberto Jefferson. Afirmam, porém, que não denunciaram o caso publicamente ou levaram a informação a Lula por falta de provas. Palocci nega ter sido informado. | | | | |
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| | | | O TESOUREIRO Delúbio Soares, tesoureiro do PT | | | | | Centro do esquema denunciado por Jefferson, Delúbio seria o responsável por reunir o dinheiro do mensalão e distribui-lo aos parlamentares dos partidos aliados. Segundo o deputado do PTB, o tesoureiro, auxiliado por Marcos Valério, desembarcava com o dinheiro em Brasília e se dirigia à residência dos líderes e presidentes de partidos para fazer a distribuição do mensalão. | | O que diz | | Em entrevista, afirmou que estava sendo "caluniado e massacrado", mas não acusou Jefferson de ser um mentiroso. Não exigiu retratação e recusou-se a fazer uma acareação com o detrator. Fala em "chantagem", termo que implica em admissão de culpa. | | | | |
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| | | | O SUBSTITUTO Luiz Appolonio Neto, ex-presidente do IRB | | | | | O sucessor de Lídio Duarte na presidência do instituto afirma ser apadrinhado pelo ex-governador Luiz Antonio Fleury e pelo deputado Roberto Jefferson. Como o antecessor saiu do cargo reclamando da pressão para entregar uma mesada de 400.000 reais ao PTB, restam as dúvidas: o pagamento continuou sob sua gestão? Ele foi capaz de resistir à pressão, já que é ligado ao PTB? | | O que diz | | Appolonio não falou sobre o pagamento da mesada. Só rebateu uma acusação de irregularidade no IRB relatada numa sindicância interna da estatal. O relatório diz que o ex-presidente do IRB é suspeito de irregularidade num pagamento de indenização. | | | | |
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| | | | O SUPERIOR Antonio Palocci, ministro da Fazenda | | | | | Como o IRB é de responsabilidade de sua pasta, Palocci era o superior direto de Lídio Duarte quando o ex-presidente do órgão pediu demissão. Como a justificativa oficial para a saída foi uma discordância política em relação à condução do IRB, não se sabe se Palocci ouvira ou não relatos de corrupção. Foi confirmado que o ministro se reuniu com Jefferson e Brandão em 2004. | | O que diz | | Os assessores do ministro desmentem que ele tenha conhecimento de casos de cobrança de propina no IRB. Informam ainda que o ministro da Fazenda se encontrou com o corretor Henrique Brandão apenas uma vez, em reunião pedida por Roberto Jefferson. | | | | |
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| | | | O OPERADOR Silvio Pereira, secretário-geral do PT | | | | | Jefferson acusa o secretário, conhecido em Brasília como Silvinho, de ser, junto com Delúbio, responsável pela administração do mensalão. Com trânsito livre no Planalto - apesar de não ter sido eleito para nenhum cargo e de não ocupar função dentro do governo federal -, tem enorme influência na distribuição de cargos. Junto de Dirceu, ofereceu a presidência do IRB ao PTB. | | O que diz | | Nega o envolvimento com o esquema do mensalão. Silvio Pereira confirma ter se reunido com Marcos Valério, mas para tratar de "peças de publicidade para a campanha municipal de 2004", e não de qualquer esquema de distribuição de dinheiro a deputados. | | | | |
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| | | | O HOMEM DA MALA Marcos Valério Fernandes de Souza, publicitário | | | | | Acusado de ser o encarregado do pagamento do mensalão aos deputados que participavam do esquema. Valério é suspeito de sacar o dinheiro, depositado nas contas de suas agências, e levá-lo a Brasília em malas para a distribuição aos líderes de partidos aliados. Marcos Valério é sócio das agências SMP&B Comunicação e a DNA Propaganda, que têm cinco contas do governo federal. | | O que diz | | O publicitário nega as acusações e afirma que "nunca fez entrega" de dinheiro aos parlamentares em nome do PT. Ele colocou à disposição do Ministério Público Federal a quebra dos seus sigilos bancário e fiscal, bem como das empresas de que é sócio. | | | | |
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| | | | O ESCUDO José Genoino, presidente do PT | | | | | O ex-deputado é acusado por Roberto Jefferson de conhecer e aprovar o esquema do mensalão. Também teria acertado com o PTB a doação de 4 milhões de reais para campanhas do partido de Jefferson. Presidente do PT desde o início do governo Lula, teria conhecimento de detalhes da distribuição de cargos a aliados, inclusive nos Correios. No partido, defende Silvio e Delúbio. | | O que diz | | Genoino negou diversas vezes a existência do mensalão. Sobre os Correios, afirma que não há participação direta do PT e diz que a oposição usa o caso indevidamente para atrapalhar o governo. Ao falar tenta desvincular a cúpula petista das denúncias. | | | | |
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| | | | O CONFIDENTE Luiz Gushiken, ministro da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica | | | | | Ao lado de Palocci, o ministro ocupa o lugar de principal interlocutor de Lula. Desta forma, poderia dizer até que ponto o presidente sabia do suposto esquema do mensalão. Nos Correios, ele é alvo de uma suspeita mais direta: em sua gestão, a Secom mudou as regras de concorrência para um contrato de publicidade na estatal. Uma agência de Valério se beneficiou da mudança. | | O que diz | | Gushiken não falou sobre o caso. | | | | |
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| | | | O MANDANTE Arthur Wascheck Neto, empresário | | | | | Um dos donos da empresa Comam, que fornecia material para a área de informática dos Correios. Ele contratou o bacharel em direito Joel Santos Filho para gravar em vídeo a entrega da propina a Maurício Marinho. Segundo o depoimento de Wascheck à CPI dos Correios, a fita foi gravada porque ele suspeitava que "algo andava errado" nas licitações realizadas sob Marinho. | | O que diz | | O empresário desmentiu qualquer intenção política com a gravação, dizendo que não pretendia fazer uma denúncia ou iniciar uma crise. Negou também o envolvimento da Abin na gravação e a acusação de fazer a fita para tentar extorquir Antônio Osório. | | | | |
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| | | | O LÍDER DO GOVERNO Fernando Bezerra, senador do PTB | | | | | Líder do governo Lula no Congresso, Bezerra tentou e não conseguiu nomear Ezequiel Ferreira de Souza, seu afilhado político, para a Diretoria de Tecnologia dos Correios. A indicação tinha sido sugerida por Silvio Pereira, secretário-geral do PT, mas a escolha foi barrada. Bezerra recebeu uma carta anônima explicando o motivo do veto: haveria um esquema ilegal naquela vaga. | | O que diz | | Em depoimento a VEJA, o senador do PTB disse ter procurado José Dirceu para saber o motivo do veto da Casa Civil à indicação de Ezequiel. Não obteve resposta. Assinou o requerimento da CPI dos Correios porque diz desejar ver o episódio esclarecido. | | | | |
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