Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 01, 2005

FOLHA DE S.PAULO LUÍS NASSIF:O poder e o mediador

A propósito da coluna "Diplomacia paralela e showbiz", recebo carta do empresário Mário Garnero. Na coluna, rebati versões sobre sua suposta influência nos recentes encontros do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, com o primeiro escalão do governo George W. Bush.
Menciona entrevista à revista "IstoÉ" de 29 de dezembro de 2000 na qual, provocado pelo repórter, Bush, filho, o elogiou. Também afirma conhecer a atual secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, há quase 20 anos.
Sustenta que foi ele quem apresentou a jornalista Lally Weymouth, correspondente diplomática sênior do "Washington Post" e da "Newsweek" (e herdeira do grupo), ao então presidente do PT, José Dirceu. Menciona colunas minhas sobre ele, em que menciono sua rede de relações internacionais.
Vamos aos fatos:
Não se coloca em dúvida que Garnero é dos brasileiros com maior círculo de relacionamentos internacionais. No entanto, de todas as informações da coluna, a única possivelmente incorreta é a de que Garnero não conhecia Condoleezza Rice.
A partir de um elogio arrancado de Bush, filho, não é possível concluir que tenha influência em sua administração. Aliás, o ex-embaixador nos Estados Unidos Rubens Barbosa me liga para confirmar que, no seu período em Washington, era imperceptível a presença de Garnero na administração Bush, filho. Seu contato era com o grupo de Bush, pai, que pouco tem a ver com o do filho.
Os contatos do governo Bush, filho, com o governo Luiz Inácio Lula da Silva foram conduzidos pelo Departamento de Estado e por outros canais paralelos, sem a participação de Garnero.
A partir desses contatos do Departamento de Estado, Lally conheceu Lula e José Dirceu em fins de 2002, na sede do PT na Vila Clementina. Aprofundou o relacionamento em um almoço no Barbacoa, em São Paulo, e no La Vecchia, em Brasília. Sem Garnero.
A viagem de Dirceu aos Estados Unidos teve um componente social e outro diplomático. Garnero se incumbiu brilhantemente da parte social. Na diplomática, não houve o seu "dedo" nem na conversa com Condoleezza Rice, conforme sustentou à "Veja", nem no jantar de Lally em Washington. Tudo foi acertado pelo Departamento de Estado.
Na política, há as fontes de poder e os mediadores. A fonte de poder é o Estado brasileiro, no episódio em questão representado pela Casa Civil. A serviço dele, estavam na comitiva três dos mais brilhantes diplomatas brasileiros -Ronaldo Sardenberg, Roberto Abdnur e Américo Fontenelle, como funcionários do Estado brasileiro. Não tem cabimento supor a necessidade do "dedo" de um mediador socialmente bem relacionado.
Não se tire de Garnero o mérito de seus relacionamentos sociais, de sua capacidade de juntar a fina flor do capitalismo internacional em seus eventos. Mas, quando ciceroneia a Citic chinesa para conversar com o governo brasileiro, não é por ter acesso aos chineses. É por ter acesso ao governo brasileiro. É uma grande diferença.

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