Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 12, 2005
Dora Kramer:Pés no chão e cabeça no lugar
Em geral dado a vanglórias e exibições de força, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, acaba de produzir uma sensata análise a respeito da política eleitoral a ser adotada pelo PT na campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva em 2006.
Foi na reunião realizada no fim de semana no Rio de Janeiro com o objetivo de firmar a hegemonia do grupo moderado do PT no tocante às posições a serem defendidas no encontro nacional que rediscutirá o programa e a composição da direção do partido, em setembro.
Dirceu abordou questões delicadas, como a possibilidade real de Lula perder a eleição ou nem vir a se candidatar a um novo mandato, caso não haja urgente e consistente correção de rumos na conduta do PT.
É verdade que o ministro deixou o Governo de fora e atribuiu só ao partido a responsabilidade por tantos e tão recentes infortúnios políticos, incluindo derrotas eleitorais significativas em 2004.
É fato também que José Dirceu pode ter carregado nas tintas com o intuito de fazer da hipótese da derrota uma ameaça para o futuro de todos os detentores e/ou postulantes a cargos eletivos no partido e, assim, mobilizar o contingente petista pela reeleição de Lula.
Seja a finalidade qual for, o essencial é o registro de uma mudança de posição. Em última análise, Dirceu exortou o PT a manter os pés no chão e pôr a cabeça no lugar quando disse que a reeleição de Lula não está garantida por inércia, gravidade ou pela simples capacidade de o poder reproduzir a si mesmo.
Na pajelança do Rio, José Dirceu iniciou de fato a operação pela conquista de um novo mandato para Lula, fazendo isso justamente pela via do choque da realidade.
No lugar de insistir numa tese provável, mas não definitiva e incontestável – a inexorabilidade da reeleição –, Dirceu preferiu mostrar aos correligionários o cenário possível do fracasso e preparar, com bases mais firmes e menos ilusórias, o caminho para evitá-lo.
Quebrou um tabu, estabeleceu um de ponto de partida realista e ainda tomou da oposição a exclusividade de abordagem de temas desconfortáveis e embaraçosos como esse.
Diferentemente de 2004, quando a cúpula petista/governista trafegou o tempo todo no terreno da presunção de que o eleitorado mantinha-se fiel e entusiasmado tal como em 2002, que o poder central por si só capitalizaria adesões partidárias, que bastaria acusar o adversário de crime de lesa-pátria para inibir o desempenho da oposição e que aos ungidos (os candidatos do PT) pela graça do divino qualquer tipo de conduta era permitido.
Muito provavelmente a repetição de fracassos políticos das mais variadas naturezas (eleitoral, congressual e governamental) serviu de alerta e apontou para a necessidade de um forte freio de arrumação. Daí, a proposital crueza das afirmações de Dirceu.
Embora no Governo seja a primeira vez que alguém do núcleo petista de poder expõe as coisas dessa forma, o partido já viu esse filme em outras ocasiões.
Não foi uma nem duas vezes que Lula, ao longo de sua trajetória de candidato do PT à Presidência da República, anunciou disposição de não se candidatar, exatamente como tática para obter unidade interna em torno de seu nome.
Foi assim nos preparativos eleitorais das disputas de 1994, 1998 e 2002.
Numa hora, era a esquerda que precisava ser enquadrada; noutra, eram as ambições no campo moderado que deveriam ser aplacadas. Desse modo, em 1998, postulantes à candidatura, como Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque, desistiram no meio do caminho.
Da mesma forma, ameaçando não se candidatar, Lula conseguiu, em meados de 2001, esfriar os ânimos da esquerda contra a política de alianças já aprovada pelo partido, mas não totalmente absorvida pelas tendências.
Desta vez, obviamente não há vislumbre de contestação à candidatura à reeleição, mas a questão das alianças, nunca resolvida, ressurge com força até pela necessidade do Governo de buscar parceiros à direita, fora das balizas determinadas lá atrás quando o centro era a fronteira mais remota a que o PT se permitia chegar.
Note-se que na reunião onde José Dirceu aventou a possibilidade de Lula não disputar um segundo mandato (hipótese, aliás, sempre mantida pelo próprio presidente no ar), ele advertiu para a necessidade de o PT incorporar a parceria com o PMDB no seu cardápio partidário-eleitoral, até abrindo mão de candidaturas em estados importantes como o Rio Grande do Sul.
Conhecedor de seu aparelho como ninguém, o general sabe que a rebeldia da tropa tem um limite. Cada soldado ou oficial graduado no PT tem seu projeto político diretamente ligado ao sucesso ou insucesso pessoal de Luiz Inácio da Silva.
Até porque em seus 25 anos de existência o PT não preparou outro líder do mesmo tamanho e abrangência de Lula – não obstante a existência de mão-de-obra petista capacitada à formação de um elenco de primeira linha –, os petistas podem divergir dele, mas não se arriscam a caminhar sem ele.
É sobre isso que José Dirceu está falando quando lembra à nação petista que o poder é passageiro, sendo, então, prudente garantir longa vida ao cobrador e ao motorneiro. O DIA Online
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