Nesta semana, o preço do petróleo furou sucessivamente o que parecia ser o teto. E, aqui dentro, o futuro petróleo do pré-sal virou motivo de briga entre pessoas do governo. Disputas entre a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia se resolvem; o perigo maior é o de que mudanças impensadas elevem o risco regulatório na exploração desse petróleo, a qual já será tecnicamente complexa.
petróleo, a qual já será tecnicamente complexa.
Numa entrevista que fiz com o ex-diretor de exploração e produção da Petrobras Wagner Freire e o professor Helder Queiroz, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, na Globonews, eles explicaram que as perspectivas do petróleo na camada de pré-sal são mesmo promissoras, mas que demorará muito tempo, talvez uma década, para que esse produto seja comercializado. O que vai acontecer agora é só um teste, parte das avaliações do tamanho da reserva.
— Os concessionários sequer declararam a comercialidade dessas descobertas e é preciso perfurar mais para fazer uma avaliação mais precisa e saber exatamente a dimensão dos campos. Não há um mar de petróleo de Santa Catarina ao Espírito Santo. Em algumas áreas de concessão, o petróleo não está confinado àquela área, por isso será preciso fazer um processo complexo — que talvez exija arbitragem — do que se chama tecnicamente de unitização. A mudança do modelo de exploração torna tudo isso mais complicado ainda. Imagine dois blocos vizinhos com regimes regulatórios diferentes tendo que discutir a fórmula de divisão do petróleo explorado? — comenta Wagner Freire.
Desde que foi descoberto petróleo na camada de présal, muita coisa contraditória já foi dita pelas autoridades.
Semana passada, o ministro de Minas e Energia defendeu a criação de uma nova empresa estatal para cuidar só do pré-sal, e criticou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, porque ele discorda disso.
O governo está pensando em mudar a forma de exploração para um sistema de partilha de produção, acabando com os leilões de concessão que existem hoje. O argumento é de que os campos serão muito produtivos, e o modelo atual lesaria o governo.
Wagner Freire acha que isso é bobagem, porque o government take (participação do governo na receita das empresas) pode ser aumentado por decreto com a elevação da participação especial, e ele não vai aumentar mudando o modelo.
Pode até ocorrer o oposto.
Helder Queiroz acredita que o que deve ser preservado é o “ambiente de negócios”, tão bem sucedido que permitiu que essas descobertas fossem feitas: — O Brasil optou pelo modelo de concessão, com a Petrobras como líder.
Quando se associa, ela consegue repartir os riscos.
Não podemos deixar para trás mudanças que permitiram um círculo virtuoso — afirma o professor.
Toda esta safra atual de idéias — mudar regime de concessão, criar uma nova empresa estatal, modificar a lei do petróleo, estabelecer destinos para o dinheiro que virá da exploração do pré-sal — só consegue gerar confusão e risco regulatório exatamente quando as coisas estavam dando certo. É preciso mais objetividade na análise das possibilidades e barreiras para se extrair essa riqueza do fundo — muito fundo — do mar.
É bom lembrar — ressaltou Wagner Freire — que o campo de Roncador, por exemplo, foi descoberto em 1996 e poderia estar produzindo 500 mil barris/dia, porque é um supercampo, mas ele produz apenas 180 mil barris, porque ainda se discute onde será instalada a segunda plataforma.
Helder Queiroz diz que uma das razões da atual disparada dos preços é que muitos projetos não se realizaram.
A Agência Internacional de Energia listou 27 projetos de plataforma que deveriam entrar em operação em 2008 e não vão entrar.
Motivos assim fizeram com que caísse a relação entre oferta e procura. Ainda há, no mundo, uma oferta excedente de 1,4 milhão de barris/dia de petróleo, mas o normal é ter algo em torno de 5 milhões de barris/ dia além do consumo.
Este choque do petróleo que vivemos atualmente tem uma característica bem diferente dos anteriores.
— Em 1973, houve um embargo; em 1979, a guerra Irã-Iraque fez com que a produção do Irã caísse, da noite para o dia, de 5 milhões de barris/dia para 500 mil barris. Agora não há um motivo, mas, sim, vários: a China, que não era importadora, passou a ser a segunda maior; os custos de produção aumentaram muito: o aluguel de uma sonda era US$ 70 mil por dia, hoje quem encontra uma para alugar paga sorrindo US$ 600 mil; de 2006 para cá, triplicou o volume de negociações com os papéis futuros de petróleo — contou Helder Queiroz.
Os dois especialistas admitem que, mesmo descontando todos esses fatores, não dá para explicar uma alta tão descontrolada e forte do petróleo. O primeiro carregamento do ano passado pagou o preço de US$ 55 por barril e, esta semana, o preço bateu em picos de US$ 146. Ontem acabou fechando a US$ 144.
Ambos acham que a turbulência no mercado de petróleo vai continuar, porém, a médio prazo, apostam que o preço cai um pouco. Wagner Freire acredita que não abaixo de US$ 100. Este seria o novo patamar. Para Helder Queiroz, pode cair para US$ 70, pois a história do petróleo é cheia de choques e contrachoques.
O quadro é de incerteza e volatilidade. O melhor seria, para o Brasil, consolidar o marco regulatório e trabalhar duramente para entender todas as zonas de sombra na regulação. Desta forma, pode atrair um maior número de investidores.
O erro é perder tempo com as brigas de grupos dentro do governo e assustar os negócios com a instabilidade regulatória.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
julho
(457)
- Clipping do dia 31/07/2008
- O Brasil pós-Doha editorial O Estado de S. Paulo
- Doha e as ilusões da geopolítica
- DOHA As razões do fracasso Luiz Felipe Lampreia
- Arrecadação esconde a realidade
- Algo saiu muito errado Carlos Alberto Sardenberg
- Dora Kramer - Os "coronéis" à beira-mar
- Celso Ming - Diplomacia de resultados
- Míriam Leitão - O Plano B
- Merval Pereira - Levamos uma "trucada"
- NOBLAT:Nada mais justo do que Celso Amorim sair de...
- Miriam Leitão Mais uma declaração desastrada de Ce...
- AGORA CELSO AMORIM PARTIU PARA A DELINQÜÊNCIA INTE...
- Níveis de complementaridade-Demostenes Torres blog...
- Clipping do dia 30/07/2008
- Augusto Nunes - Coisas da Política
- Merval Pereira - Dificuldades e facilidades
- Míriam Leitão - Rodou a rodada
- Fracasso de Doha mostra novo equilíbrio de poder, ...
- Clóvis Rossi - Todos perdem com fracasso de Doha; ...
- Celso Ming - Também não foi desta vez
- AMORIM CONCLUI O PRIMEIRO CAPÍTULO SOBRE A VERDADE...
- ''A estratégia comercial brasileira fracassou junt...
- Empresa nova já nasce velha-blog de Lucia Hipolito...
- Deterioração das contas externas O Estado de S. Pa...
- A raposa e o galinheiro - Sandra Cavalcanti
- A cartada do Brasil EDITORIAL Folha de S. Paulo
- A Universidade do MST
- Merval Pereira - Novos ventos
- Míriam Leitão - Déficit diferente
- Clipping do dia 29/07/2008
- Clipping do dia 28/07/2008
- Clipping do dia 27/07/2008
- Clipping do dia 26/07/2008
- Democracia grampeada-Ruy Fabiano
- PERTO DO CRISTO, LONGE DE DEUS 1 - UMA TRAGÉDIA CA...
- Miriam Leitão Novo mundo
- O GLOBO EDITORIAL, Raiz na pobreza
- l Merval PereiraO mundo real
- Mariano Grondona Sobre el empecinamiento y su sup...
- Joaquín Morales Solá | Un gobierno bajo el mando d...
- Joaquín Morales Solá |
- João Ubaldo Ribeiro Anotações políticas
- Daniel Piza
- Alberto Tamer
- Mailson da Nóbrega Mais uma do presidente do Ipea
- Celso Ming - A classe média muda o jogo (2)
- 18 anos de rombo fiscal Suely Caldas*
- EUA começam a rever estratégia de isolamento
- OPERAÇÃO SATIAGRAHA
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- Augusto Nunes-SETE DIAS
- Augusto Nunes-SETE DIAS
- VINICIUS MOTA Obama em Berlim
- MELCHIADES FILHO Piá curitibano
- RUY CASTRO Cura-se qualquer doença
- Miriam Leitão Visão estrangeira
- O GLOBO EDITORIAL, Estágio final
- Merval Pereira - Vendendo utopias
- Os enclaves econômicos Paulo R. Haddad*
- Celso Ming - A classe média muda o jogo (1)
- OPERAÇÃO SATIAGRAHA
- Os sem-terra em Genebra
- Grandes e pequenos partidos Marco Aurélio Nogueira
- O povo desorganizado Demétrio Magnoli
- Ilha de Cuba, para onde vai? Sergio Fausto
- veja Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Cory Booker
- Claudio de Moura Castro
- millÔR
- André Petry
- Reinaldo Azevedo
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- raDAR
- Especial As conseqüências da queda da fertilidad...
- Demografia: Previdência
- Especial: Demografia
- Demografia: Ambiente
- Demografia: Negócios
- Demografia: Saúde
- A prisão do Carniceiro da Bósnia
- Estados Unidos Campanha presidencial passa pela ...
- Sistema S Governo e empresários fecham acordo
- Inflação Os juros sobem: cadê o corte de gastos?
- Preso deputado chefe de milícia
- A polêmica lista dos políticos com ficha suja
- Geraldo Alckmin, o único candidato anti-Lula
- Como os subsídios dos ricos nos afetam
- Novo relatório da Satiagraha
- Yeda Crusius: mansão comprada após a eleição
- A parceria da Embraer com a JetBlue
- Os estragos provocados pela TPM
- Realeza A plebéia que pode vir a ser rainha da ...
- Os oceanos ameaçados pelo lixo
- Café de barista em casa
- Os melhores grãos do mundo
- Livros RETRATO DE UM EDITOR
- O DEUS TÍMIDO DO ROCK
-
▼
julho
(457)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA