Na coluna de ontem, foram comentadas as conclusões mais importantes. Hoje, com a ajuda da cientista política da USP Lourdes Sola, serão examinados prováveis impactos econômicos, políticos e culturais. Mas, convém advertir, há nisso mais perplexidades do que certezas. As avaliações estão apenas começando.
Certas conseqüências econômicas ou já são sentidas ou são previsíveis. Mudam os padrões de consumo de segmentos expressivos da população mundial. Já há e continuará a haver forte impacto sobre os suprimentos de energia, matérias-primas e alimentos. Não está inteiramente claro se o aumento da produção global e as inovações tecnológicas darão conta da nova demanda ou se a saída para um ambiente de crescente escassez será a redução do padrão de consumo - ou o que vem sendo chamado um tanto vagamente de "mudança de paradigma".
Muito provavelmente, negócios ligados ao turismo e viagens internacionais terão expansão jamais vista. Mudarão os padrões de consumo cultural (cinema, teatro, TV, música, literatura). "A internet está se encarregando de democratizar globalmente o consumo e de homogeneizar os padrões culturais", avisa Lourdes.
E, por falar em internet (apêndice de primeira necessidade das classes médias), é prematuro avaliar seu desempenho como instrumento de mobilização e de disseminação de valores. As pressões sobre a China no caso do Tibete mostram esse novo potencial.
A universalização da internet desmonta seculares mecanismos de controle político e social. As classes médias tendem a apoiar governos conservadores, mas, ao mesmo tempo, democráticos e abertos a processos suaves de mudança. A marcha da globalização as fortalece. Isso parece sugerir que assumirão a defesa de padrões também globais de comportamento. Mas significaria isso que estariam afastadas ameaças protecionistas e a adoção de ideologias de tintura nacionalista? Não dá para prever.
"Uma das conseqüências deve ser a crescente descentralização do processo de tomada de decisão, o que parece dificultar o jogo de governos totalitários. Outra, paradoxalmente, é o surgimento de novas formas de colonialismo, como começa a acontecer com o desembarque de milhares de trabalhadores asiáticos nos países mais pobres da África para a produção de alimentos, minérios e obras de infra-estrutura", observa Lourdes
Não dá para ignorar o aumento de outra fonte provável de pressão: a defesa do meio ambiente. As classes médias são particularmente sensíveis à adoção de padrões mais rigorosos de preservação. E, nesse tema, tendem a defender intervenções internacionais. Sabem que desarranjos em regiões remotas, como excesso de emissão de monóxido de carbono, têm conseqüência direta sobre a saúde e a qualidade de vida. Por isso, tendem a exigir a adoção de padrões de excelência ambiental.
Enfim, isso nos lembra que algo do Admirável Mundo Novo de Huxley está para acontecer ou já está acontecendo.