Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 26, 2008

Geraldo Alckmin, o único candidato anti-Lula

Todos no jato eleitoral de Lula

Embalado por uma popularidade recorde, o presidente
se torna a principal influência nas eleições de outubro, 
provoca briga entre aliados e seu apoio já é objeto 
de desejo até de quem lhe fazia dura oposição


Otávio Cabral

Fotos Carol Guedes/Folha Imagem; Cristiano Mariz; Alex de Jesus/O Tempo/AE; Carlos Mesquita/Ag. O Dia; Chico Porto/JC Imagem; Beto Barata/AE, ABR
DE CARONA NO AEROLULA 
Sem coragem de enfrentar a popularidade de Lula, caciques e candidatos do DEM e do PSDB embarcaram no avião eleitoral do presidente. O tucano Geraldo Alckmin ficou bravamente sozinho no teco-teco da oposição

Poucas coisas animam tanto o presidente Lula como a proximidade de uma eleição. Nos últimos 26 anos, ele já encarou as urnas sete vezes. Na mais recente, ao conquistar seu segundo mandato presidencial, Lula obteve 58 milhões de votos, a segunda maior votação de um governante nas democracias ocidentais. As refregas eleitorais fazem parte do DNA de Lula e, mesmo quando não é candidato, ele acaba se envolvendo nas disputas. Há uma eleição à vista. Ela ocorrerá em outubro e definirá os novos prefeitos de 5 564 cidades, ajudando a desenhar os novos contornos da paisagem política do país. Na semana passada, questionado sobre as eleições, o presidente deu uma resposta tão curta quanto enganosa. "Eleições? Estou fora", disse Lula. O verdadeiro significado da frase é seu contrário. Embalado por uma popularidade recorde, o presidente não apenas já embarcou na campanha como é a principal influência na disputa municipal que começou no início deste mês. Ganhar uma carona no Aerolula eleitoral é motivo de disputa entre aliados e objeto de desejo de candidatos que lhe faziam dura oposição. O cenário que vai se descortinar para Lula, do alto da cabine de comando das eleições municipais, também é decisivo para se ter uma idéia da força que ele terá para influenciar a própria sucessão.

Se pudesse ser traduzida em números, a propulsão eleitoral de Lula estaria resumida à dinheirama que o governo vem despachando para as bases políticas de seus aliados nas últimas semanas. Entre as cinqüenta cidades que mais receberam recursos federais, 43 são administradas por partidos que dão sustentação ao presidente. Mas, como não se tem notícia de governante que use a caneta para prejudicar correligionários antes de uma eleição, a aritmética sozinha não significa muita coisa. Mais do que de canteiros de obra de última hora, sua força emana de uma peculiar combinação de fatores. "Nunca houve um cabo eleitoral como Lula. Ele é popular, carismático e tem a economia a seu favor. É por isso que todo mundo quer o presidente em seu palanque", afirma o cientista político Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice. De acordo com a última pesquisa disponível, Lula é aprovado por 55% dos brasileiros. É a melhor avaliação atribuída a um governante desde que o instituto Datafolha começou a realizar esse tipo de pesquisa, há 21 anos. Nunca um presidente chegou às portas de uma eleição com níveis de popularidade tão elevados.

A bordo de uma coalizão formada por catorze partidos, o presidente pretende pilotar seu jato eleitoral com discrição. Lula não quer que seu disputado apoio político cause turbulência em sua base de apoio em Brasília. Ele terá uma amostra dos obstáculos que tem pela frente nesta semana ao visitar Salvador. O candidato petista, Walter Pinheiro, e o atual prefeito e candidato à reeleição, o peemedebista João Henrique, já espalharam cartazes pela cidade com suas fotografias ao lado do presidente. Atrás nas pesquisas, porém, o petista ficou tão revoltado com a expropriação que ameaça entrar na Justiça contra o prefeito para garantir a exclusividade da imagem de Lula. "João Henrique entrou no avião agora e já quer se sentar na janela. Mas o candidato do Lula aqui sou eu", diz o petista. Para reduzir desgastes, o presidente autorizou que ministros participem das campanhas de seus partidos, mas pretende manter-se a milhas de distância de situações de risco. Nos próximos dias, além de Salvador, Lula vai ao Rio de Janeiro, Belém, João Pessoa, Fortaleza e São Paulo. Gravará programas de televisão e participará de comícios onde existir consenso em torno de uma candidatura. Nas cidades com mais de um candidato aliado, o presidente autorizará o uso de sua imagem, mas não dará declarações para evitar atritos.


Fotos Lailson Santos
A GUERRA É AQUI 
O governador de São Paulo, o tucano José Serra, e o atual prefeito, Gilberto Kassab, candidato à reeleição: a disputa na capital, que dividiu a oposição, é uma prévia para 2010. Lula, por enquanto, está levando a melhor

A batalha por uma carona no Airbus eleitoral do presidente ganhou força na semana passada com a divulgação de mais uma rodada de pesquisas. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, os candidatos que estão na frente pertencem a par--tidos da ampla base de sustentação política de Lula. O presidente conta com a ajuda da oposição para manter seu vôo eleitoral em nível de cruzeiro. A maioria dos líderes oposicionistas preferiu nem lançar candidato. Em Belo Horizonte, o tucano Aécio Neves apóia Márcio Lacerda, do PSB. Em Manaus, o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio, preferiu apoiar Serafim Corrêa, também do PSB. No Recife, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, aposta em Raul Henry, do PMDB. Todos são apoiados por Lula e integram sua base política. Algumas adesões são mais explícitas. Ex-secretário-geral tucano, Eduardo Paes se filiou ao PMDB e se candidatou à prefeitura do Rio com o apoio do presidente. ACM Neto, expoente dos Democratas, também passou por uma metamorfose. Aguerrido adversário de Lula, a ponto de ameaçar dar uma surra no presidente, ele agora só fala do governo para elogiar os programas sociais. É líder em Salvador. "Político sem verba e sem cargo tende à extinção. Por isso, há uma onda de adesão", afirma o cientista político Rogério Schmitt, da Tendências Consultoria.

A eleição em São Paulo é uma das poucas disputas relevantes em que Lula deverá enfrentar grandes resistências. Dona do maior colégio eleitoral do país, berço do PT e do PSDB, a eleição paulistana é interpretada pelos estudiosos como uma espécie de prévia da batalha presidencial de 2010. É a única a exibir um candidato com perfil claramente anti-Lula. O tucano Geraldo Alckmin, derrotado pelo presidente em 2006, precisou dobrar a ala encabeçada pelo governador José Serra, que defendia a retirada de sua candidatura. A idéia era apoiar a reeleição do atual prefeito, Gilberto Kassab, do DEM, em troca do apoio à candidatura presidencial de Serra em 2010. Alckmin embolou o jogo – e já aparece empatado com Marta Suplicy, candidatíssima de Lula, em primeiro lugar nas pesquisas. Mas, com dois candidatos fortes, Alckmin e Kassab, a oposição acabou aumentando as chances de Lula ajudar a eleger a petista. Se isso vai mesmo acontecer, ainda é cedo para saber. O inegável é que o desenho produzido pelas urnas paulistanas será decisivo para organizar as forças que vão duelar em 2010. Uma vitória em São Paulo dará a Lula ainda mais força para influir decisivamente na escolha da tripulação que pilotará o Airbus presidencial a partir de 2011. A conferir.

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