O Globo |
30/7/2008 |
Uma pergunta que não encontra respostas simples, mas que vem dominando as discussões sobre a campanha presidencial americana, é sobre as razões por que o candidato democrata, Barack Obama, apesar de todo o seu sucesso de público, inclusive internacional, e da economia em crise, não consegue deslanchar na preferência dos eleitores, como mostram as pesquisas de opinião. Quando parecia que a bem-sucedida viagem ao exterior havia aberto o caminho para tornar realidade a percepção de que Obama vencerá a eleição de novembro, duas pesquisas do mesmo instituto Gallup embaralharam novamente os dados. Uma, feita com eleitores registrados, deu-lhe uma vantagem de 9 pontos percentuais, a maior registrada até aqui. Outra, feita para o jornal "USA Today" com os "eleitores potenciais", deu uma vantagem de cinco pontos para o republicano McCain. Demonstrando que ainda existem nuances nessa disputa, o próprio Obama, em uma reunião para angariar fundos para a campanha, admitiu que, embora as indicações sejam de uma vitória em novembro, ainda há muita dificuldade pela frente. Também o Pew Research Center encontrou dificuldades semelhantes para os dois candidatos. Enquanto McCain tem um déficit de entusiasmo entre seus eleitores, Obama tem um de coesão entre os democratas que apóiam a senadora Hillary Clinton. A favor de McCain está o fato de que ele tem o apoio de quase 80% dos eleitores que votaram em outros republicanos nas primárias. Já Obama conseguiu até agora obter o apoio de apenas 69% dos eleitores da senadora Hillary Clinton. Há um contingente importante (17%) dizendo que votará em McCain, e cerca de 12% ainda indecisos. Tudo indica que a eleição deste ano terá características próprias, a começar pelo fato de que o comparecimento, que já foi alto nas primárias, será maior ainda na eleição de novembro, pois o interesse dos eleitores continua aumentando. A percentagem de eleitores que se declaram muito interessados nas eleições atinge 72%, de longe o maior índice desde a campanha de 1988. A proporção dos que se dizem interessados em política este ano é a maior desde a eleição de 1992. Ao contrário do que vinha acontecendo nas últimas eleições, os eleitores democratas estão mais engajados na campanha que os republicanos, provavelmente como reflexo da possibilidade de voltar ao poder depois de oito anos da administração George W. Bush. Pela primeira vez desde 1992, quando Bill Clinton foi eleito pela primeira vez, o Pew Center encontrou uma maior proporção de democratas demonstrando alto interesse na campanha. Cerca de 77% dos eleitores democratas mostram-se interessados, índice superior em 18 pontos ao registrado em 2004 entre eles. Também entre os republicanos o interesse aumentou desde a última eleição presidencial, mas em proporção menor, de 61% para 72%, e é a primeira vez que existem mais eleitores democratas empolgados com a eleição do que republicanos. Essa tendência pode ser comprovada quando se pesquisa o aumento do interesse entre os eleitores dos partidos desde a última eleição. Enquanto cerca de 70% dos democratas estão mais interessados, apenas 50% dos republicanos se definem como mais interessados hoje que há quatro anos, na reeleição de Bush. A candidatura de McCain não tem conseguido entusiasmar os eleitores republicanos, e apenas um terço deles se diz extremamente compromissado em votar nele, enquanto essa postura é a de mais da metade dos que dizem que votarão em Obama. O apoio que Obama está recebendo entre os trabalhadores brancos é o mesmo que receberam Al Gore ou John Kerry, apesar de eles demonstrarem conservadorismo em relação à questão racial. Mas Obama está encontrando menos apoio entre outro setor conservador do eleitorado, os brancos mais velhos. Mas o maior empecilho contra Obama é mesmo sua falta de experiência administrativa e política. Cerca de 40% dos que não gostam dele alegam essa inexperiência. Mas o candidato republicano também tem um peso grande contra si, o da idade. A chance de McCain reverter o favoritismo de Obama está nos eleitores independentes e nos classificados como "softs", isto é, que não são militantes de nenhum dos dois partidos e podem mudar seu voto de acordo com as circunstâncias. Tudo indica que haverá mais mudanças de votos do que houve na eleição passada, quando a esta altura os votos estavam mais consolidados. Os eleitores independentes estão totalmente abertos em suas escolhas, sendo que metade deles se diz indefinida. Os que já escolheram dividem-se igualmente entre os dois candidatos. É por isso que o republicano McCain apareceu à frente de Obama na pesquisa Gallup/"USA Today" entre os "prováveis eleitores", que são aqueles caracterizados pela constância com que votaram em eleições anteriores, que colocam a eleição entre suas prioridades do momento e demonstram vontade de votar em novembro. Segundo o Gallup, o número de prováveis eleitores republicanos está crescendo, como resposta à viagem exitosa de Obama e ao que consideram uma cobertura parcial e laudatória da mídia. Se McCain não consegue empolgar seu eleitorado, o tratamento de virtual eleito dado a Obama pode incentivar o eleitor conservador a sair de casa e votar em novembro. McCain estava seis pontos percentuais atrás de Obama nesse mesmo universo de eleitores há um mês, e agora está na frente, o que mostra pelo menos que ele tem capacidade teórica de reagir. No entanto, especialistas em pesquisa salientam que, neste momento da campanha, as pesquisas com eleitores registrados são as que refletem melhor a realidade da disputa. E essas mostram uma tendência clara a favor de Obama. |
Entrevista:O Estado inteligente
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