Economistas revêem previsões em mais uma semana de paz na crise
No Brasil, mais uma dose do amargo remédio dos juros, mais 0,75 ponto. Agora, a taxa básica está em 13%, sem sinais de se estabilizar por aí, pois persistem as pressões sobre os preços. Houve um ligeiro alívio, mas o Banco Central prevê ainda um índice acima de 6,5% neste ano, o que exige forte aperto monetário.
O governo decidiu avançar um pouco mais e anunciou novo corte de R$ 3 bilhões nos gastos. Somados ao anterior, sobe para cerca de R$ 14 bilhões o que se gastará a menos este ano, para desaquecer a economia. Lula reclamou que "não há mais onde cortar". Embora continue a apoiar a política monetária do BC, ele espera que, com mais esse corte, os juros não precisem aumentar tanto. Pode ser, mas isso vai depender do comportamento dos preços. Talvez nos próximos meses teremos de sofrer com mais juros altos e cortes no orçamento, num processo cruel - pois segura o crescimento -, mas necessário para evitar o retorno de taxas de inflação de dois dígitos em 2009. Antes o Banco Central e, agora, o governo estão antecipando-se a isso.
É uma tarefa difícil, pois continuamos sofrendo a contaminação da inflação externa. O importante é que vemos os bancos centrais agindo responsavelmente e o governo, embora tardiamente, conscientizando-se de que não pode jogar lenha no consumo quando o BC tenta apagá-lo.
LUCRO DE US$ 1,5 TRILHÃO
Na verdade, o mercado superou rumores até agora não confirmados de que mais alguns bancos estavam em dificuldade. Na sexta-feira, em artigo publicado no Estado, o respeitado colunista e economista do Washington Post Robert J.Samuelson apresentou um balanço feliz e realista da conjuntura atual. É uma leitura essencial para quem quiser entender o que está acontecendo. Ele mostrou que bancos e instituições americanas, mesmo imersos na crise, estão se saindo. "No primeiro trimestre de 2008, os lucros foram 46% menores do que no mesmo período do ano passado e isso mesmo depois de ter separado reservas de US$ 37 bilhões contra perdas em empréstimos." E acrescentou Samuelson: "Mesmo assim, os lucros totais das corporações (financeiras) ainda chegam ao valor quase recorde de US$ 1,5 trilhão".
Artigos idênticos foram publicados esta semana também no New York Times, no Financial Times, no Wall Street Journal e na agência de notícias Bloomberg. Como os leitores podem ver, a coluna não está só. Na verdade, apenas reflete a opinião média dos economistas e só se afasta, conscientemente, das análises impregnadas de nervosismo dos atores do mercado. Só refletem o calor do dia, não o cenário mais amplo do mercado, onde nada indica que estamos afundando. Muito pelo contrário, a economia reage muito bem, diante das circunstâncias.
BEM-VINDO, KRUGMAN
O famoso e polêmico economista Paul Krugman, professor da Universidade Princeton, colega de Ben Bernanke (presidente do banco central americano), aderiu ao clube dos realistas. É o segundo, após Alan Greenspan, a dizer agora que a crise vai ser longa, mas sem colapso.Em palestra feita em São Paulo, ele afirma que o mundo pode se preparar para alguns anos de desaceleração, mas sem nenhuma catástrofe. Os bancos centrais a afastaram com uma política monetária correta, oportuna e agressiva.
Outros economistas brasileiros presentes ao seminário concordam. E Krugman era um dos que mais falava que a economia americana ia entrar em recessão. Agora, ele é até otimista: "A inflação cheia deve cair com força assim que acabar o choque dos preços de alimentos e energia. Eles nem tem de cair. Acho que é um choque que ocorre de uma vez. Não vejo uma espiral inflacionária", declara ele ao Valor. E a recessão em que, afirmava, estava a economia americana?
Louve-se, repito, a coragem e honestidade de Paul Krugman em voltar atrás e afirmar que apenas vamos ter anos de desaceleração econômica, sem inflação com estagnação.
Se é que estou certo, vejo cada vez mais economistas e organismos públicos respeitados virem a público rever suas previsões. A economia mundial levou um choque, mas reagiu e até deve crescer 4% este ano.
Palavra do Fundo Monetário Internacional.
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