Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 27, 2008

EUA começam a rever estratégia de isolamento

Michael Slackman*
Depois de anos de crescentes tensões e derramamento de sangue, fala-se repentinamente no Oriente Médio da necessidade de negociações. A mudança ainda é tênue, mas a sugestão de uma nova abordagem do governo do presidente dos EUA, George W. Bush, alimenta pela primeira vez desde a invasão do Iraque, em 2003, esperanças de alguma estabilidade, pelo menos no curto prazo.

Há muitas coisas acontecendo neste momento que representam uma clara mudança de rumo. A Síria está sendo aplaudida na Europa por ter saído do isolamento e iniciado conversas indiretas com Israel. O Líbano instalou um novo governo. Israel fez acordos com o Hamas (um cessar-fogo) e com o Hezbollah (troca de prisioneiros).

Semana passada, os EUA concordaram em enviar um diplomata de alto escalão para participar de negociações com o Irã sobre seu programa nuclear. Pela primeira vez desde a Revolução de 1979 e da crise dos reféns, Washington avalia a possibilidade de estabelecer uma representação diplomática em Teerã. "O quadro geral está se movendo para um esfriamento do clima político", afirmou Muhammad al-Rumaihi, ex-assessor do governo do Kuwait e editor do Awan, jornal independente desse país.

Contudo, muitos problemas subjacentes, como o conflito palestino-israelense, ainda não estão perto de uma solução. No Afeganistão, houve recentemente um surto agudo de violência. Nunca é demais lembrar, porém, que até bem pouco tempo temia-se que a guerra civil explodiria no Líbano e Israel e EUA atacassem o Irã, o que hoje parece pouco provável.

EUA, Israel e alguns de seus aliados europeus começaram a reconhecer que a estratégia por eles adotada de tentar derrotar seus inimigos isolando-os fracassou. Os adversários do Ocidente - Irã, Síria, Hezbollah e Hamas - também reconhecem que o custo da elevação das tensões foi excessivo.

Síria e Irã sofrem de graves problemas econômicos e se beneficiariam com uma melhor relação com EUA e Europa. "É possível perceber contornos de um degelo geral na região", observa Osama Safa, diretor do Centro Libanês de Estudos Políticos em Beirute.

Essa não é necessariamente uma boa notícia para os aliados árabes de Washington, como Egito e Arábia Saudita. Seus líderes aprovavam o fato de os EUA manterem a pressão sobre Irã, Hezbollah e Hamas, considerados uma ameaça a seu próprio poder.

Segundo analistas, a novidade é o reconhecimento por parte das nações ocidentais de que os grupos "renegados"não deixaram de obter apoio popular na região. Hamas, Hezbollah e a Irmandade Muçulmana, no Egito, mostraram um grande instinto político que lhes permitiu explorar as aberturas democráticas, pedidas por Washington, e aumentaram sua influência.

Há também o reconhecimento de que os atores que podem influenciar lugares críticos, como Iraque, Líbano e Gaza, são os mesmos que Washington execrava: Síria, Irã, Hezbollah e Hamas. "Questões políticas devem ser tratadas com governos, mas quando o assunto é segurança, é preciso lidar com entidades não-estatais, como Hezbollah e Hamas", disse Safa.

Talvez EUA e Israel não tenham conseguido desalojar o Hamas de Gaza, enfraquecer o Hezbollah no Líbano, deter o programa nuclear do Irã ou mesmo obrigar a Síria a mudar de sua conduta. Entretanto, cada um desses atores agora se dá conta de que é do seu interesse procurar um acordo.

Essa nova fase na dinâmica do Oriente Médio ficou evidente quando Israel e Hezbollah concluíram o acordo da troca de prisioneiros xiitas por restos mortais de soldados israelenses e pelo envio de uma missão diplomática americana para negociar com o Irã.

*Michael Slackman escreveu este artigo para o New York Times

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