31/7/2008 |
O governo brasileiro terá de reformular sua diplomacia comercial depois de mais um fiasco, talvez definitivo, da Rodada Doha. Anunciado o fracasso da reunião ministerial de Genebra, o chanceler Celso Amorim falou em mudança de rumos. “A Organização Mundial do Comércio (OMC) era a prioridade, mas agora vamos ter de nos concentrar em coisas que dão resultados.” Acordos bilaterais devem ir para o topo da agenda e um dos primeiros objetivos será, provavelmente, o reinício das conversações entre Mercosul e União Européia. O ministro também não descarta a hipótese de negociações com os Estados Unidos, interrompidas quando os governos brasileiro e argentino torpedearam o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A prioridade concedida à OMC era compreensível. A negociação global era o melhor cenário para a discussão de temas como a eliminação de subsídios à agricultura. Além disso, a rodada poderia estabelecer uma base equilibrada para acordos bilaterais e regionais. Enfim, há excelentes motivos para se buscar a consolidação de uma ordem multilateral, com regras válidas para todos. Mesmo um acordo com ambições moderadas poderia ter proporcionado ganhos em todas essas áreas. Perdeu-se uma grande oportunidade e não se sabe quando se poderá retomar, e a partir de que base, uma negociação multilateral. Outros países também deram prioridade à rodada, mas não deixaram de celebrar acordos bilaterais com grande número de parceiros. Coisas que dão resultados, sobre as quais Amorim poderia ter-se debruçado sem prejuízo da sua atuação na OMC. Sem esperar o fim da rodada, o governo dos Estados Unidos buscou entendimentos com países centro e sul-americanos. Foi a sua reação ao fracasso da Alca. Chile e México tomaram rumo semelhante, negociando pactos comerciais com a União Européia e com outros mercados. Movimento parecido vem ocorrendo, há anos, na área do Pacífico. O Brasil, portanto, está simplesmente atrasado, não por ter dado prioridade à OMC, mas por haver negligenciado as oportunidades de acordos com o bloco europeu e os Estados Unidos. A aproximação com os grandes emergentes, como China, Índia e México, não rendeu nenhum acordo de livre-comércio, porque Brasil e Mercosul não estavam no alto da agenda desses países. O comércio cresceu muito, em alguns casos, mas teria crescido mesmo sem o carnaval diplomático promovido pelo governo petista. Basta consultar as estatísticas para identificar as tendências. O fiasco da rodada comprovou de novo o caráter fantasioso da estratégia Sul-Sul adotada pelo Itamaraty. A intransigência americana pode ter contribuído para o impasse final, mas do outro lado do cabo-de-guerra estavam os negociadores indiano e chinês, empenhados em promover o protecionismo agrícola em seus países. China e Índia integraram desde o início o Grupo dos 20 (G-20), criado em 2003, por iniciativa brasileira, para combater a política agrícola do mundo rico. O G-20 cumpriu seu papel durante algum tempo, mas sua limitação logo ficou clara. Alguns de seus integrantes, como Índia e China, faziam campanha, com o Brasil, contra as subvenções e as barreiras americanas e européias, mas não estavam dispostos a enfrentar a concorrência dos produtores eficientes no mercado agrícola. Se a proposta defendida em Genebra pelos dois países fosse aceita, seus mercados seriam facilmente fechados ao Brasil. No esforço final para tentar um acordo, o ministro Celso Amorim negociou concessões na área industrial consideradas inaceitáveis pelo governo argentino. Com um esforço de acomodação, essa iniciativa poderia ter dado certo, se o impasse entre Estados Unidos, China e Índia a respeito de salvaguardas especiais para a agricultura não houvesse levado a reunião ao fracasso. Mas o episódio mostrou também, de novo, a dificuldade dos sócios do Mercosul para negociar em bloco. Essa dificuldade reaparecerá, se forem retomadas as discussões com a União Européia. A boa novidade foi a disposição do chanceler Amorim de se descolar do Mercosul e de batalhar pela conclusão de um acordo interessante para o Brasil, sem se deixar amarrar pelos parceiros de bloco ou de alianças “estratégicas”, que foram um dos pilares da política externa petista. Se essa disposição for mantida, talvez possa haver de fato a indispensável revisão da diplomacia comercial do País. |
Entrevista:O Estado inteligente
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