Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 26, 2008

Estados Unidos Campanha presidencial passa pela Guerra do Iraque

A segunda guerra do Iraque

Depois de bilhões de dólares e milhares
de mortes, os EUA debatem na campanha
eleitoral o que fazer com o país invadido


André Petry, de Nova York

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Nem o velho Carl von Clausewitz, o militar prussiano autor da man-jadíssima idéia de que a guerra é uma extensão da política, poderia esperar ilustração tão literal de seu achado. O campo de batalha do Iraque, onde os EUA já despejaram 600 bilhões de dólares (mais de duas vezes o PIB da Argentina) e perderam mais de 4 000 soldados (quase o dobro das vítimas do ataque às torres gêmeas em Nova York), virou campo de batalha política. Em viagem de uma semana, o candidato presidencial Barack Obama visitou sete países e reservou dois dias ao Iraque. Passou por Bagdá e Basra, encontrou-se com as autoridades formais, incluindo o primeiro-ministro Nuri Kamal al-Maliki, e com as autoridades de fato, entre elas o general David Petraeus, comandante das forças americanas. Disse o que dissera antes: se eleito, vai acabar com a guerra, retirando as tropas americanas em dezesseis meses, ao ritmo de uma ou duas brigadas por mês.

Obama deixou o país levando na bagagem uma vitória inesperada. O primeiro-ministro iraquiano deu entrevista dizendo que apoiava a retirada de Obama, e foi abertamente pressionado pelo presidente George W. Bush a voltar atrás. Desdisse o que dissera, mas logo reafirmou o que desmentira. Conclusão: ele apóia o plano de Obama. Foi uma notícia ruim para o republicano John McCain, ele que já defendeu a permanência das tropas por um século, se necessário. Em casa, irritadíssimo com a atenção da imprensa à viagem de Obama, McCain despejou um vídeo no YouTube satirizando a "paixão da mídia" pelo democrata (para quem se interessar, o vídeo chama-se Obama Love e voltou a defender a idéia de que os americanos só podem deixar o Iraque quando a vitória sobre o terrorismo tiver sido completa. Qualquer analista militar sabe que isso significa algo próximo da eternidade.

Por trás dos planos de retirada ou não das tropas está a disputa que interessa – a imagem. McCain tenta colar em Obama a silhueta de um político ingênuo e inexperiente no cenário mundial, portanto incapaz de comandar uma potência e uma guerra. Seu discurso não cai no vazio. Uma parte do eleitorado americano tem opinião semelhante. Por isso, a viagem de Obama foi cuidadosamente montada, para dar ao candidato um status presidencial e mostrar ao eleitor que ele é capaz de desfilar pelos salões da diplomacia internacional. Em certo sentido, o sucesso foi tão estrondoso que corre o risco de azedar. Recebido por reis e chefes de governo – no Iraque, Jordânia, Kuwait, Israel, Alemanha, França e Inglaterra –, Obama às vezes comportou-se como se fosse o anfitrião. Punha seu braço sobre o do interlocutor, conduzia-o enlaçando suavemente suas costas, tudo como se fosse ele o dono da casa. Sob um clima de já ganhou, tudo isso, que deveria parecer desembaraço, corre o risco de resvalar para a arrogância.

"Ele é capaz de perder a guerra só para ganhar a eleição", alfinetou McCain. O Iraque é um bom palco para a guerra eleitoral. Obama passou a existir como candidado viável porque fez um discurso em 2004, hoje famoso, opondo-se à invasão do país. Como a guerra produziu bagunça atrás de bagunça, Obama parecia um gênio militar, enquanto McCain, sempre atuando em defesa da invasão, parecia um belicista tão tosco quanto o presidente George W. Bush. Mas, nos últimos tempos, para surpresa geral, o Iraque passou a exibir alguns sinais de estabilidade. A virada no teatro da guerra também começou a virar as impressões no teatro da política. Para alguns, Obama já não soa tão premonitório na sua oposição à invasão do Iraque, e McCain começa a parecer um velho sábio na área militar.

Nem uma coisa nem outra é verdadeira, mas o que conta é a guerra da imagem. Nesta, até agora, o único perdedor inequívoco é o presidente Bush. Apesar dos avanços no Iraque, a situação geral da guerra contra o terrorismo é precária. Depois de quase sete anos – mais tempo do que durou a II Guerra Mundial –, Bush não conseguiu capturar Osama bin Laden, o general do terrorismo. Os membros da Al Qaeda estão se reaglutinando e os guerrilheiros do Talibã estão de novo à vontade nas áreas tribais da fronteira do Afeganistão com o Paquistão. Pode-se alegar que o Paquistão passou a concentrar os terroristas porque eles foram expulsos do Iraque, mas, nesse caso, é inevitável admitir que o máximo que a guerra de Bush fez foi deslocá-los de um país para o outro. Sob qualquer ângulo que se analise, é um saldo altamente insuficiente depois de sete anos, duas Argentinas e quase duas torres gêmeas de vítimas militares.

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