O déficit nas transações correntes tem sido mensal, mostrando claramente que é uma tendência, e, neste ano, teve duas causas principais: a redução do superávit da balança comercial, de US$ 20,5 bilhões para US$ 11,3 bilhões, e o aumento do déficit na conta de lucros e dividendos: de US$ 9,8 bilhões, no primeiro semestre de 2007, para US$ 18,9 bilhões, neste ano.
Em maio, um excepcional superávit da balança comercial (US$ 4,0 bilhões), em razão do fim da greve da Receita Federal, havia permitido reduzir para US$ 649 milhões o déficit em transações correntes, que voltou a subir para US$ 2,5 bilhões em junho - um recorde desde o início da série histórica do balanço de pagamentos, em 1947.
Parece difícil que até o final do ano a balança comercial volte a apresentar superávit, como em 2007, pois, em conseqüência da política monetária, que acentua a diferença entre as taxas de juros no Brasil e nos EUA, valorizando a taxa cambial, as exportações encontrarão dificuldades para crescer, mas, especialmente, as importações crescerão a um ritmo muito maior. Essa diferença de taxa favorece os investimentos em renda fixa (até ontem somavam US$ 3,3 bilhões ante US$ 907 milhões para todo o mês de junho), fortalecendo a moeda nacional.
Os investimentos estrangeiros diretos (IEDs) líquidos (US$ 2,718 bilhões em junho, US$ 17,702 bilhões no semestre) devem permitir cobrir o déficit das transações correntes, mas estão contribuindo para aumentar as remessas de lucros e dividendos: neste mês, até o dia 24, os IEDs foram de US$ 2,9 bilhões, mas as remessas somaram US$ 2,0 bilhões.
Não se deve temer para este ano, ainda, um déficit em transações correntes insuportável; mas, a longo prazo, sem um aumento do superávit da balança comercial, vamos enfrentar uma deterioração das contas externas que poderá criar uma crise cambial como no passado, apesar do nível das nossas reservas.