Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 25, 2008

Beasil "Emergente atípico",prevê Krugman

efeitos da crise serão diferentes no país, prevê Krugman

Catherine Vieira e Rafael Rosas*
Valor Econômico
25/7/2008

Com câmbio flutuante, fartos recursos naturais e política monetária no 'caminho certo', o Brasil é considerado um emergente atípico pelo economista americano Paul Krugman. Para ele, com esse perfil, o país vai sofrer de modo um pouco diferente os efeitos das crises, que continuarão afetando as economias globais, como os problemas no setor financeiro americano, o choque das commodities e o contágio da inflação.

"O Brasil é um emergente atípico, é totalmente diferente da Ásia, que é uma região que demanda commodities e na qual muitos países têm o câmbio atrelado ao dólar", analisou Krugman, que falou ontem, no BNDES, sobre o tema "Crise Financeira Internacional e Crescimento da Economia Brasileira."

Para o economista e professor da Universidade de Princeton, os países asiáticos estão sofrendo, por conta de seus sistemas de câmbio, o efeito expansionista da política monetária dos EUA, o que vem alastrando a pressão inflacionária nesses países e também contribui para o grande aumento dos preços das commodities. Outra questão é que muitos dos países da Ásia aplicavam seu excesso de poupança nos EUA. Esses emergentes, acredita Krugman, terão mais dificuldades em ajustar os efeitos das crises atuais que, na visão dele, devem durar pelo menos mais dois anos.

O Brasil, diz, deverá ser afetado com o ajuste dos preços das commodities. "Os preços das commodities devem cair, mas não acredito que vão voltar ao nível em que estavam antes", avalia Krugman. Diz, por exemplo, que se surpreenderá se o preço do barril do petróleo cair abaixo dos US$ 100, embora não acredite ficará em patamares tão altos quanto até há pouco.

Esse movimento dos preços pode ter alguns lados positivos para a economia brasileira, na avaliação de Krugman. "O país está do lado ganhador." A queda de preços de commodities, por exemplo, alivia a pressão sobre a inflação. O outro aspecto é que o câmbio tende a ficar mais competitivo para indústria local. "O Brasil precisa diversificar mais a pauta de exportações."

O economista contou que a imprensa especializada em economia do seu país trata o Brasil como uma espécie de queridinho do momento. "O Brasil e as empresas brasileiras têm tido um tratamento muito favorável, talvez até demais", ponderou ele, comparando essa 'badalação' com o que ocorreu no fim dos anos 90 com a Argentina. "Mas não acredito que o desfecho será o mesmo", disse ele, tranqüilizando a platéia.

Espirituoso e bem-humorado, Krugman respondeu amistosamente às perguntas que lhe foram colocadas por intermédio do presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A este coube receber e ler as questões da platéia. Mesmo as mais delicadas, como a que questionava o espaço entre a taxa Selic, agora em 13% e a Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), de pouco mais de 6%, praticada pelo BNDES. Krugman saiu-se bem da saia-justa: não quis comentar por não conhecer muito o assunto.

Mas respondeu a outras questões mais atípicas, como a de um membro da associação de funcionários que quis saber quem ia "colocar o sininho no gato, um gatão bravo e cheio de armas que pode explodir o mundo", em referência à economia dos EUA. Como deixou claro durante a palestra, porém, o economista está agora mais tranqüilo em relação a isso depois que o Fed (Banco Central americano) demonstrou que vai agir para enfrentar o problema. "O tio Ben está fazendo um ótimo trabalho", disse, referindo-se a Ben Bernanke, presidente do Fed.

Para o economista, porém, "o presidente [Barack] Obama" vai ter de enfrentar um desafio no próximo ano, que é o de discutir e aprovar uma regulamentação para os bancos de investimento que não são hoje regulados, mas receberam apoio do Fed , para evitar a crise. Admitindo que "'estamos todos keynesianos", Krugman diz que o excesso de liberdade no mercado mostrou sintomas e que assim será preciso ter um pouco mais de regras. Para ele, que trata Obama já como presidente, a possibilidade de o candidato democrata perder é pequena.

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