PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
25/7/2008 |
A alta da taxa de juros vai derrubar o aumento do consumo? Certamente o afetará. A dúvida é se vai interromper o ciclo de crescimento da economia. O Banco Central aumentou o aperto monetário num momento em que está havendo desaceleração da inflação no varejo e queda da confiança do consumidor e do empresário. O setor de bens de consumo duráveis será mais afetado que as vendas de imóveis. O consumo vai crescer num nível mais fraco por causa do choque de juros decidido pelo Copom. Nos últimos meses, o país vinha se acostumando com taxas fortes de crescimento das vendas. Carros, celulares e computadores tiveram aumentos de vendas da ordem de 20%. O presidente Lula disse que a inflação não vai subir, e que ele não vai deixar o consumo cair. Difícil perseguir os dois objetivos ao mesmo tempo num momento como o atual. A economia é feita de escolhas. Como o governo não está cortando o consumo público - em outras palavras, não está reduzindo os gastos - o Banco Central está encarecendo o crédito para reduzir o consumo privado. O objetivo do BC é exatamente diminuir o consumo para garantir que os aumentos do atacado não cheguem ao varejo, cuja inflação já está perto do teto da meta. No IPCA-15, chegou a 6,3% o acumulado em 12 meses. Este índice registrou uma desaceleração, de 0,90%, em junho, para 0,63% no dado de julho, divulgado ontem. Os alimentos continuam representando a maior parte da alta, mesmo assim, o peso está menor. Houve, em outros índices, sinais de desaceleração dos alimentos no varejo, mas o problema é que no atacado a pressão continua forte. Talvez seja por isso que o Banco Central apertou o passo no aumento dos juros. Os juros já estavam subindo num ritmo que não se pode chamar de lento: 0,5 ponto percentual a cada 45 dias. Isso era sinal suficiente para reduzir o aquecimento da economia. Afinal nem só de elevação de taxa se faz a política monetária; os juros altos e seu aumento constante dão os sinais de que o BC não vai aceitar altas de preços. Esses 0,25 p.p. a mais, além dos 0,5 p.p., ainda que pareçam pouco, podem aumentar a queda da confiança. A tarefa do Banco Central não é só derrubar a inflação. O desafio é como mantê-la baixa no menor custo em termos de Produto Interno Bruto. Isso exige uma sintonia fina, pois pode-se derrubar mais o consumo que o necessário. Com a alta dos juros, vai cair o ritmo do aumento dos bens de consumo duráveis, mas é difícil diminuir o consumo de alimentos. A indústria ainda saboreia o gostinho do recente aumento das vendas. O Brasil deve consumir, este ano, 12 milhões de computadores pessoais. Isso é 20% além dos 10 milhões vendidos no ano passado, e quatro vezes mais que os 3 milhões vendidos em 2003. Mais importante: naquela época, mais de 70% das vendas de computadores eram o que a Abinee define como "mercado cinza", que agora caiu para 30%. A associação atribui a formalização do mercado ao crédito farto e à queda de impostos incidentes sobre a venda de produtos de informática. Este ano, o Brasil vai produzir 78 milhões de telefones celulares: 48 milhões para o mercado interno e 30 milhões para exportação. O país terminará o ano com 141 milhões de acessos; vinte vezes mais do que terminou em 1998, já com os primeiros efeitos da privatização. O crescimento esperado para as vendas de imóveis no Rio de Janeiro este ano é de 30%, segundo Roberto Kauffmann, do Sinduscon-Rio. O setor tem efeito multiplicador. A venda de cimento ficou estagnada em torno de 40 milhões de toneladas, com tendência de queda, de 1998 a 2002. Em 2003, caiu a 35 milhões. Agora está em 46 milhões, crescendo 12%. O setor de construção civil e residencial foi o último a entrar no ritmo de crescimento. E só o fez pelo aumento do crédito e queda dos juros. Este crescimento do consumo e o clima de otimismo é que reduziram o desemprego. O desemprego de junho foi de 7,8%, dois pontos percentuais menor que no mesmo mês de 2007. Esta semana, o Sinduscon-SP informou que a construção atingiu a marca de 2 milhões de empregos formais no país. A economista Monica de Bolle acha que o aperto de política monetária terá mais efeito no consumo desta vez, porque o mercado de crédito cresceu muito desde o último ciclo de aperto. "O canal de transmissão da política monetária ficou mais potente." Mas ela acredita que vai afetar muito mais o crédito ao consumidor que o imobiliário, pois este envolve financiamentos de longo prazo. É a mesma convicção de Roberto Kauffmann. Ele acha que os empréstimos com recursos do FGTS dentro do Sistema Financeiro de Habitação, que são regidos pela TR, são mais importantes para o setor. Lembra também que agora é que se atingiu a classe C, com imóveis de R$50 mil a R$150 mil, e que essa faixa do mercado depende exatamente da modalidade de crédito que será menos afetada pela taxa de juros. É este equilíbrio difícil que a economia brasileira tenta estabelecer agora: combater a inflação com o mínimo de estrago neste círculo virtuoso em que mais consumo levou a mais produção, mais emprego, mais arrecadação tributária. Caso o Banco Central optasse por não elevar os juros para não estragar o bom momento econômico, a inflação comeria a renda e a economia seria afetada de qualquer jeito. Não há decisões fáceis neste momento. O governo ajudaria se reduzisse os gastos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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