PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
30/7/2008 |
A indústria brasileira e as multinacionais no Brasil teriam que aceitar uma nova redução de até 60% nas atuais tarifas de importação caso a Rodada Doha fosse aprovada. Com o fracasso da rodada, a agricultura não terá a abertura com que sonhava, porém evitou o pior perigo: o fechamento dos mercados da China e da Índia. O grande derrotado é o governo Lula, que jogou tudo em Doha. O Brasil, nos últimos seis anos, nada fez de relevante em termos comerciais. - Não fez nenhum acordo bilateral importante, enquanto o México fez 50, e o Chile mais que isso. O Brasil fechou apenas pequenos acordos bilaterais setoriais, como o automobilístico, com alguns países como Uruguai, Argentina e México - comenta o especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian. O Itamaraty jogou todas as fichas em Doha e montou a estratégia errada só corrigida nos últimos minutos. O plano brasileiro era manter unido o Grupo dos 20 para pressionar os países ricos a fazer concessões. O problema é que as contradições internas do G-20 eram tão grandes que lá nasceu o impasse que levou ao fracasso: a exigência de Índia e China de proteger seus mercados agrícolas com salvaguardas especiais. Pontos que seriam resolvidos pela Rodada Doha agora terão outra solução. Por exemplo, a briga do algodão entre Brasil e Estados Unidos. O Brasil começou, no governo passado, a brigar na OMC para provar que os subsídios americanos ao algodão eram contra as regras. Ganhou, mas houve um acordo tácito entre os dois países de resolver isso na Rodada. Sem ela, os EUA terão que mudar seus subsídios, ou o Brasil tem o direito de retaliar. A grande lição de Doha é que a briga não é mais Norte-Sul apenas. O mundo ficou mais complexo; o Brasil, maior; e nossos interesses, mais diferenciados. O melhor é ter alianças com cada país ou grupo que, naquele específico ponto, representem nossos interesses. Ontem, no finalzinho, Brasil e Estados Unidos estavam do mesmo lado contra China e Índia; mas o Brasil estava ao lado de todos os emergentes contra os subsídios europeu e americano. Índia e Argentina estavam contra reduzir barreiras do setor industrial e nisso o Brasil assumiu posição mais flexível, a ponto de ser chamado de "traidor" pela Argentina. Para manter a suposta unidade do G-20, o Brasil tinha que ser tão protecionista nas indústrias quanto Argentina e Índia, e aceitar uma proposta que feria frontalmente nossos interesses: que China e Índia fechassem seu mercado agrícola. A posição dos pequenos Uruguai e Paraguai constrangeu o Brasil, pois eles, mesmo sem voz ativa, é que reagiram contra o protecionismo agrícola de Índia e China. Nestes sete anos, a Europa concordou com um corte de 60% nas tarifas de importação de produtos agrícolas. Os EUA aceitaram limitar em US$14,5 bilhões o subsídio à produção, o dobro do que gastaram no ano passado. Os países ricos também concordaram em pôr fim aos subsídios à exportação. Na área industrial, eles queriam utilizar uma fórmula que, segundo o embaixador Rubens Barbosa, significaria o corte de 60% das tarifas de importação de 5.000 produtos. Joseph Tutundjian diz que as concessões industriais não afetariam uma grande parte da nossa pauta de importação, composta de bens de capital que não produzimos. Mas no caso dos carros é um pouco diferente. - Na área automobilística, a alíquota hoje em 35% faz com que um carro que custe US$15.000 lá tenha um custo aqui de R$40.000, com tarifa, outros impostos, fretes. Hoje o mercado brasileiro é de 3 milhões de veículos por ano; o importado não chega a 100 mil, e são só os mais caros. Se houvesse esse corte, o custo de trazer o produto de fora cairia para R$35.000 e poderia trazer problemas para a indústria local no segmento médio do mercado O que poderia ser um problema para a indústria local, significaria a queda do preço ao consumidor. O empresário Pedro de Camargo Neto, do setor agrícola, acha que o Brasil tem muito a fazer, agora que Doha fracassou: - Não é o fim do mundo. A OMC tem 50 anos de multilateralismo e vai sobreviver. Temos que pensar na estratégia seguinte, que é trabalhar para cumprir exigências dos compradores, para aumentar as vendas. Por exemplo, na sanidade do rebanho, nas carnes. Tem mais mercado a ser aberto com sanidade que com acordos. Para ele, um acordo modesto era melhor que o fracasso, mas o mundo estava diante do risco de um retrocesso se aceitasse que China e Índia fechassem seus mercados agrícolas. Se considerado apenas o percentual que representa no comércio internacional, o Brasil é pequeno: pouco mais de 1%. Mas o país é grande produtor e exportador agrícola, sempre teve uma diplomacia ativa e hábil nas negociações comerciais e tem um mercado interno crescente. Mesmo sem Doha conseguiu, nos últimos dois anos, aumentar em mais de US$100 bilhões o volume total do comércio. Em 2006, o total de importações mais exportações era de US$228 bilhões. Este ano, a previsão média do mercado é que feche em US$356 bilhões. O comércio internacional para o Brasil é cada vez um jogo mais denso e complexo. Agora mesmo, se quiser neste pós-Doha ser mais agressivo nas negociações de acordos bilaterais, vai acabar brigando com a Argentina, que tem, em vários pontos, interesses divergentes dos interesses brasileiros. |
Entrevista:O Estado inteligente
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