Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 05, 2008

Pouco-caso Celso Ming

O apagão das conexões à internet administradas pela Telefônica deve ser entendido como conseqüência de falhas mais graves do que as de uma reles pane técnica, como está nas explicações oficiais. Pedidos formais de desculpas à população não evitam os prejuízos futuros.

Nada menos que 50% dos serviços públicos municipais e estaduais, na cidade de São Paulo e em outros 406 municípios paulistas, ficaram paralisados na quarta e quinta-feira por mais de 20 horas.

Deixaram de funcionar serviços em escolas, hospitais, delegacias de polícia, bancos, casas lotéricas, INSS. Cerca de 3,5 mil empresas ficaram "sem sistema". Sabe-se lá quantos correntistas de banco não puderam quitar suas contas ou transferir recursos, perderam prazo de vencimento e, agora, como advertiu a Federação de Bancos, terão de enfrentar as conseqüências.

Até ontem, a Telefônica não havia identificado as causas da avaria. Sabia apenas que teve origem em um roteador localizado na região de Sorocaba.

Panes dessa natureza têm-se repetido, embora não com essa extensão. Isso acontece porque a Telefônica tem falhado, às vezes, em questões menos importantes; outras, em questões de importância maior. Dessa vez falhou miseravelmente.

Não só por esse episódio, mas por inúmeros outros, sabemos que a administração da empresa é caótica. Seus serviços são os campeões de reclamações no Procon. Há semanas, por exemplo, ninguém obtém informações coerentes sobre a mudança de número das agências da Caixa Econômica Federal. No endereço antigo, uma gravação avisa que o número mudou e que é preciso consultar a linha 102. Você vai para o 102 e eles dizem que não consta mudança de número... Os gerentes informam que "há muito" o problema foi comunicado à Telefônica, mas não há o que resolva. Coisas assim acontecem todos os dias.

Atribuir desastres como este a simples fatalidade ou a "anomalias raras e complexas", como ontem disse o presidente da empresa, Antonio Carlos Valente, chega a ser pouco-caso com a sociedade. Encrencas assim não acontecem por acaso. Ficou claro que a Telefônica não tem plano para rápida detecção e isolamento de problemas. O sistema de transmissão de dados e internet está vulnerável, como apontou o ministro das Comunicações, Hélio Costa.

O problema não é só de colapso de governança. Todo o sistema telefônico nacional padece de falta de competição. A Anatel, que deveria ser o organismo de controle e de garantia do cumprimento das leis, não fiscaliza como deveria seu setor, seja porque não dispõe de recursos técnicos e administrativos, seja porque alguns dos seus cordéis estão sob forte influência (digamos assim) das empresas do setor.

Enquanto isso, o governo federal faz um jogo esquisito. Em vez de buscar o aprimoramento da concorrência e da excelência no atendimento ao público, patrocina a concentração da ineficiência, como está acontecendo com o processo de fusão entre a Oi (antiga Telemar) e a Brasil Telecom.

Aí tem coisa errada demais. O consumidor, ora o consumidor... Que recorra à Justiça ou se conforme com os serviços de que dispõe.

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