Casais gays lotam os cartórios da Califórnia em busca do
papel passado – e os casamenteiros profissionais devem
faturar 700 milhões de dólares nos próximos três anos
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Vista pelo resto dos Estados Unidos como reserva não-conformista onde predominam hippies (pois é, ainda existem remanescentes), surfistas boas-vidas, cultos esdrúxulos e, claro, celebridades, a Califórnia confirmou em junho a sua imagem heterodoxa: graças a uma decisão do Supremo Tribunal estadual, tornou-se o eldorado dos casamentos gays. Bom para os casais do mesmo sexo, que lotaram os cartórios, e melhor ainda para os negócios. O ramo das festas de casamento já fez as contas e prevê nos próximos três anos faturar quase 700 milhões de dólares só em matrimônios na comunidade gay. Um estudo do Instituto Williams de Política Pública e Legal de Orientação Sexual, ligado à Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, calcula que, em decorrência da decisão, metade dos 103 000 casais do mesmo sexo instalados no estado vai trocar alianças até 2011. No mesmo período, 67 000 casais de outras partes dos Estados Unidos devem se casar na Califórnia, já que no estado, ao contrário de Massachusetts, a segunda exceção americana a permitir esse tipo de união, não existe a exigência de que os noivos sejam residentes. Preconceito, pelo menos por parte dos prestadores de serviço, não há. "Quem está nesse ramo faz qualquer casamento: hétero, gay, inter-racial, até de extraterrestres, se existissem", anima-se Richard Markel, diretor da associação Wedding Professionals International.
O mercado é vasto e disposto. Um levantamento do jornal Los Angeles Times mostra que, nos primeiros quatro dias pós-liberação, mais de 6.000 certidões foram expedidas na Califórnia, o dobro do habitual, a maioria para casais do mesmo sexo. Houve dobradinhas gays que pegaram o documento – com o espaço para "noivo" e "noiva" devidamente alterado para "parte interessada A" e "parte interessada B" – e trocaram alianças ali mesmo, nos cartórios e em cerimônias nas praças e nos auditórios vizinhos. O comércio de anéis de casamento, obviamente, foi dos que mais faturaram: na Love and Pride, joalheria on-line especializada no público homossexual, as vendas cresceram 600% no último mês. A maioria, porém, quer comemorar com uma festança. A apresentadora Ellen DeGeneres, 50 anos, homossexual assumida (na capa da revista Time) desde 1997, vai se casar em grande estilo com sua companheira há quatro anos, a atriz Portia de Rossi, 35, a quem deu aliança de noivado. "Já marcamos a data", informa, sem revelar qual é. Os cariocas Lallo Lemos, 42, designer gráfico, e José Luís Kamal, 36, publicitário, moram juntos em São Francisco há onze anos e estão armando a segunda festa. A primeira foi uma cerimônia para 100 convidados sem respaldo civil, realizada num fim de tarde de setembro passado, com bossa nova tocando ao fundo e quitutes de primeira. A segunda, oficial, será na prefeitura, no dia 29 de agosto. "Não íamos fazer festa de novo, mas não resistimos. Vamos com amigos e serviremos um bolo com champanhe depois", diz Lemos.
Os gays agora esperam por novembro, quando os californianos votarão um projeto de lei que restringe casamentos a homens com mulheres. Se ele passar, não será a primeira frustração: em 2004, o prefeito de São Francisco, Gavin Newsom, mandou os cartórios aceitar casais gays, mas a ordem foi derrubada um mês e 4 000 casamentos (todos anulados) depois. Desta vez, no entanto, as perspectivas são melhores. Pesquisas recentes indicam que, quando se trata de casamento entre pessoas do mesmo sexo, 51% dos californianos são a favor e 42%, contra – primeira vez em que o pró está na frente. Na esperança de que tudo dê certo para os gays, outro setor afia as armas: o dos escritórios de advocacia especializados em divórcio. Eles também acham que o movimento vai aumentar bastante.
