Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 19, 2008

Carnes Um rebanho para o mundo

3. Economia com tração bovina
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Vilhena/RO
Cidade em regime de engorda

Em trinta anos, um entreposto de gado no Norte passou
a ostentar indicadores sociais dignos do Sul Maravilha


Igor Paulin

Manoel Marques

Vilhena já foi apenas uma das fronteiras do gado
no Norte do país. Hoje, é também um entreposto
comercial que centraliza a economia de outros
sete municípios

Se há um lugar onde o mito do eldorado amazônico ganha contornos de verdade, é em Vilhena, no sul de Rondônia. A cidade surgiu do nada há trinta anos. Hoje, ostenta índices de qualidade de vida semelhantes aos do Paraná. É a metrópole dos criadores de gado. Seus pastos e os dos sete municípios do entorno alimentam 2,5 milhões de reses. Centro regional de serviços, Vilhena também é o principal destino dos fazendeiros de outras cidades. Eles gastam, em média, 30 milhões de reais por ano na feira agropecuária local. Mesmo que não morem nos limites do município, dependem de Vilhena para o dia-a-dia. Lá compram veículos, roupas e fazem supermercado. Vão ao médico, ao banco e põem seus filhos na escola. Apesar de ter apenas 67 000 habitantes, Vilhena já mantém três instituições de ensino superior. Não falta trabalho e os salários são superiores aos de Porto Velho, a capital do estado. A regra vale até para o futebol. Na temporada passada, o atacante Souza, um dos artilheiros do campeonato estadual, defendia as cores da cidade de Ji-Paraná. Virou a casaca para ganhar 30% a mais no Vilhena Esporte Clube.

Vilhena está estrategicamente posicionada no meio da Rodovia BR-364, que liga Porto Velho a Cuiabá. Foi povoada por agricultores do Sul e do Sudeste, atraídos por loteamentos feitos por Brasília e slogans como "Integrar para não entregar" e "Terras sem homens para homens sem terras". Foi uma verdadeira conquista do Oeste – ou do Noroeste. Em boléia de caminhão, o percurso até Vilhena levava quinze dias. A estrada só recebeu asfalto em 1982, o mesmo ano em que foi inaugurado seu aeroporto. As obras provocaram um surto de crescimento. A cidade se tornou um dos principais entrepostos comerciais da Região Norte. Em quatro anos, sua população triplicou e atingiu 36 000 habitantes. Ao facilitar o transporte dos bois, a rodovia enriqueceu os criadores de gado e proporcionou à prefeitura sua principal fonte de arrecadação.

A estrada deu novo impulso ao comércio. A BR-364 é cortada diariamente por 700 caminhões de soja, que se dirigem a Porto Velho, onde embarcam o grão nas barcaças que cruzam o Rio Madeira. Vilhena é ponto de parada dos caminhoneiros, que lá abastecem seus veículos e fazem compras. O gado, os serviços e a soja fizeram com que nesta década o PIB municipal crescesse 73% e a população, 25%. Os vilhenenses solicitaram um comércio mais sofisticado. Em 1975, o grupo Pato Branco era só uma mercearia de secos e molhados. Depois que a rodovia foi construída, a empresa abriu um posto de gasolina, uma revendedora de pneus e, hoje, possui o maior supermercado da região. Agora, constrói o primeiro shopping center da cidade. "Quando ele ficar pronto, Vilhena vai parecer uma Suíça rondoniense", sonha Selito Bagatini, dono do Pato Branco.

Como não poderia deixar de ser, apareceu um clã para tomar conta da política. Detalhe: quando os Donadon chegaram, a economia local já estava em disparada. Vilhena já elegeu quatro Donadon: dois prefeitos, um deputado estadual e outro federal. O negócio da família é o gogó. Tanto que ela não se contenta apenas com o poder. Quer dominar também os palcos de Vilhena. Os parlamentares Natan e Marcos exibem um repertório sertanejo em shows. "Quase viramos profissionais", diz o deputado estadual Marcos, que se submeteu até a um implante capilar para não comprometer a estampa da dupla. Suas irmãs, Miriam e Raquel, enveredaram pelo gospel. O prefeito Marlon, primo deles, ataca no pop. Todos cantaram para a reportagem de VEJA.

O eldorado amazônico é o mais bem posicionado do Norte e do Nordeste em todos os rankings elaborados por VEJA. É a única cidade destas regiões a aparecer entre as vinte primeiras colocadas quando é considerado o desenvolvimento da economia e da qualidade de vida (educação, saúde, segurança e acesso à tecnologia). O futuro promete ser alvissareiro. Brasília pretende conectá-la à costa baiana por meio de uma ferrovia. Mais avançado está o projeto de ligá-la a um porto no Pacífico. Os primeiros trechos da rodovia, que se estenderá até a costa do Peru, já estão concluídos.

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