Clique para ampliar |
Ouro Branco/MG
Um metal precioso
O ferro convertido em aço produz riqueza,
desenvolvimento e cultura em Minas Gerais
José Edward
Fotos Anderson Schneider |
Kênia Libânio, com alunos da Casa de Música: melodia forjada em altos-fornos |
A riqueza produzida pelo ferro e pelo aço reluz em Ouro Branco, no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Nos anos 70, o governo federal escolheu a cidade como sede da Açominas, então uma siderúrgica estatal. Ouro Branco deve o investimento à sua localização estratégica, eqüidistante das jazidas de ferro e dos centros consumidores de aço. Seis municípios situados em um raio de 100 quilômetros fornecem todo o minério necessário para que a usina seja considerada uma das mais produtivas e eficientes do Hemisfério Sul. O ferro e o aço desencadearam um surto de progresso comparável ao que teve início no século XVII, quando bandeirantes paulistas descobriram lá o ouro claro que dá nome à cidade e com o qual ela concorreu com a então mais bem-sucedida Ouro Preto. Nos últimos cinco anos, a demanda internacional por aço reaqueceu a economia local. Atual dono da siderúrgica, o grupo Gerdau está investindo 2,5 bilhões de dólares para diversificar e ampliar sua produção em 50%. A economia de Ouro Branco cresceu 140% nesta década. O surto de prosperidade se disseminou pelos municípios que detêm as minas, onde mora grande parte dos funcionários da Açominas. Essas cidades são sustentadas pelas mineradoras, que pagam royalties para a exploração do metal.
Ouro Branco não passava de um lugarejo quando recebeu a Açominas. Há trinta anos, só 7 000 pessoas moravam no local. A indústria precisou importar um exército de operários tanto para construir quanto para operar os altos-fornos. O comércio e os outros serviços se expandiram para atendê-los. Boa parte da população que, até então, vivia da cultura da batata na zona rural foi atraída para os empregos criados na área urbana. Foi necessário abrir oito bairros para abrigar todos os migrantes – três dos quais nas imediações da siderúrgica. Hoje, só 15% dos 35 000 habitantes de Ouro Branco ainda vivem em fazendas. A qualidade de vida da população evoluiu rapidamente. Um dos rankings elaborados por VEJA para a confecção desta reportagem combinou a evolução dos dados econômicos e demográficos com a proporção de médicos, crianças matriculadas na escola e moradores com acesso à banda larga. Ouro Branco ocupa o sexto lugar dessa lista. O ciclo virtuoso se espalhou pelos municípios que fornecem ferro à siderúrgica. Quatro deles, Ouro Preto, Mariana, Congonhas e Brumadinho, estão entre os sessenta primeiros colocados.
Os engenheiros Roberto Geraldo e Leonardo Polido, da Açominas: migrantes com salários altos e curso superior |
Com dinheiro no bolso, os cidadãos de Ouro Branco demandaram serviços mais sofisticados, como o esporte. Ex-funcionária da Açominas, Virgínia Leles aproveitou a transformação. Há cinco anos, ela percebeu que o tênis tinha se tornado moda na elite local e construiu uma academia para a prática do esporte, que já está em ampliação. A presença da siderúrgica também impulsionou os indicadores sociais. Sua contribuição mais sólida ocorreu no campo da educação. A Açominas povoou Ouro Branco de engenheiros e outros profissionais de nível superior. Esse contingente mandou seus filhos para a faculdade. Hoje, 18% dos habitantes têm curso superior, quase três vezes mais que a média do país. E educação trouxe mais educação. As escolas públicas passaram a ser geridas por um regime de metas, semelhante ao adotado pelas empresas privadas. Agora, o desempenho de cada aluno é monitorado semanalmente por meio de gráficos. "Temos dados e ferramentas para diagnosticar problemas, corrigir erros e planejar o futuro", diz Lourdes Furtado, diretora de uma das escolas rurais de Ouro Branco.
A educação também trouxe cultura. Desde 2001, as empresas instaladas na cidade mantêm a Casa de Música, uma instituição privada que ensina música erudita a crianças e adolescentes pobres. Os que mais se destacam ingressam na orquestra de câmara municipal. A experiência foi tão bem-sucedida que, em 2004, a entidade passou a promover um festival anual de música erudita. Durante uma semana, instrumentistas brasileiros e estrangeiros dão concertos gratuitos e transmitem conhecimento em workshops. "Esse ciclo de enriquecimento é ainda mais virtuoso do que o do ouro, porque está beneficiando cidades inteiras, e não só os donos das minas", diz Paulo Camillo Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração.