Claus Meyer/Tyba |
Amazônia: regiões diferentes sob um mesmo rótulo |
O grande biólogo Edward Wilson, da Universidade Harvard, comparou a selva amazônica a uma catedral, que deveria despertar em todas as pessoas sentimentos simultâneos de temor e admiração. A reportagem especial de 22 páginas que a presente edição de VEJA dedica à Amazônia também encara a região como uma catedral, mas não propriamente na conotação reverencial que lhe empresta o biólogo de Harvard. A reportagem de VEJA se propõe a explicitar o que há de confiável e verdadeiro em meio à selva de números e análises conflitantes que são divulgados freqüentemente sobre o estado de conservação da mais extraordinária malha de vida vegetal e animal da Terra.
A imagem de uma catedral é apropriada nesse caso. Como a nave e os altares de um templo, a Amazônia também possui regiões que podem abrigar altas concentrações humanas ao lado de outras que são sagradas do ponto de vista da biodiversidade, áreas em que a atividade econômica pode ter efeito devastador não apenas sobre a manutenção da vida local, mas sobre todo o mecanismo climático do planeta. Os repórteres de VEJA levaram em conta esses contrastes entre glebas amazônicas com solo rico em nutrientes, propícias à ocupação humana, e outras de terreno arenoso cuja vocação natural única é ser para sempre floresta. Sem essa distinção, as reportagens sobre a Amazônia tendem a ficar tão impenetráveis quanto a própria mata.
Leonardo Coutinho, correspondente de VEJA em Belém, visitou a cidade paraense de São Félix do Xingu. Ali encontrou uma fronteira inóspita, com pistoleiros e ruas esburacadas. Foi ameaçado, e durante a noite invadiram o hotel em que estava hospedado. José Edward, correspondente em Belo Horizonte, avaliou a situação no norte de Mato Grosso, onde estão dezenove municípios campeões de derrubada da floresta. Encontrou uma realidade diferente. A região tem grande produtividade agrícola, cidades modernas e o maior PIB per capita do estado. O repórter Rafael Corrêa foi à sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para entender por que sozinhos os satélites que diuturnamente vigiam a região não são suficientes para flagrar os destruidores do tesouro natural brasileiro. VEJA espera que esta grande reportagem contribua efetivamente para que a Amazônia continue despertando temor e admiração para sempre.