Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 01, 2008

Ética Está difícil explicar a presença de Lupi no ministério

Não foi falta de aviso

Convênios suspeitos beneficiavam entidades
ligadas ao PDT, o partido do ministro Carlos Lupi


Otávio Cabral

Marcello Casal Jr/BR
Lupi: insistência em permanecer como ministro e presidente do partido

O impasse durou três meses e, no final, o ministro do Trabalho, Calos Lupi, venceu a queda-de-braço com o embaixador Marcílio Marques Moreira, ex-presidente da Comissão de Ética Pública. A comissão, que deveria funcionar como uma bússola do comportamento das autoridades do governo, apontou um tremendo conflito de interesses no fato de Lupi ocupar simultaneamente o cargo de ministro e o de presidente do PDT. Como ministro, Lupi podia tomar medidas que beneficiassem o partido. Como presidente do partido, Lupi poderia se locupletar dos atos do ministro. A comissão, por isso, recomendou que deixasse uma das funções. Ele se recusou, argumentando que tudo não passava de uma perseguição política e que nem era a primeira vez que o acúmulo de cargos acontecia no governo. Citou o caso do ministro das Cidades, Marcio Fortes, vice-presidente do PP. O impasse foi decidido pelo presidente Lula ao apoiar a decisão de Lupi. Desgastado, Marcílio Marques Moreira pediu para deixar a presidência. "Saio frustrado", lamentou. "Minha preocupação era apenas com a moralidade na administração pública."

Na mesma semana em que o litígio foi resolvido em favor de Carlos Lupi, descobriu-se que as preocupações éticas de Marcílio tinham todo o sentido. Reportagem publicada pelo jornal O Globo revelou que o Ministério do Trabalho repassou verbas suspeitas a entidades ligadas ao PDT, num total de 26 milhões de reais. Um dos contratos foi assinado com um asilo de idosos no interior de São Paulo e prevê a remessa de 3,6 milhões de reais para a qualificação profissional de 2 500 jovens. A entidade é presidida por um militante do partido do ministro. Noutro convênio, o Ministério do Trabalho pretendia repassar 5,5 milhões de reais a uma entidade que não existe. No endereço em que deveria funcionar, há uma casa onde ninguém nunca ouviu falar dela. O fundador da ONG-fantasma também é filiado ao PDT. Se tivesse deixado a presidência do partido, talvez ficasse mais fácil para o ministro explicar sua decisão de mandar dinheiro para o asilo que cuida de jovens e para a entidade que ainda vai existir.

Eliaria Andrade/Ag. Globo e Leo Pinheiro/Valor/Folha Imagem
Marcílio Moreira, ex-presidente da Comissão de Ética, e a ONG-fantasma: advertência sobre conflito de interesses

Pressionado, Carlos Lupi anunciou o cancelamento dos convênios suspeitos com entidades ligadas ao PDT, mas disse que não abre mão de continuar ministro e presidente do partido. "Isso é uma bobagem. O PSDB foi o partido que mais recebeu dinheiro do Ministério do Trabalho", justificou ele, tentando mostrar que o critério de distribuição de verbas, se existe algum, foi suprapartidário. O presidente Lula não considerou graves as denúncias de irregularidades nos convênios. Afinal, o importante é que, com Lupi e seus convênios no ministério, o governo continua com as rédeas da Força Sindical, a segunda maior central de trabalhadores do país, na mão.

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