Num post abaixo, eu tinha errado em relação a Belo Horizonte e a violência. Já corrigi. Não é a quinta capital com o maior número de mortes violentas, não. É A SEGUDA. Só perde para Recife. Ela é a quinta no ranking das cidades com mais de um milhão de habitantes. Logo, a situação é bem pior.
Como eu já conheço o eleitorado — EM ESPECIAL O ELEITORADO QUE NÃO É MEU, HE, HE —, recorro, às vezes, ao que chamo armadilhas didático-pedagógicas, coisa do tempo em que fui professor. Naquele época, claro, eu estava sinceramente interessado em fazer com que os alunos dessem um salto qualitativo no pensamento a partir da informação. Em relação aos petralhas e à turma que forma a fila do gargarejo deste ou daquele políticos, não quero nada. Nem mesmo que mudem de idéia. A rigor, como sabem, não espero nem que me leiam.
Informei os números das mortes violentas em Belo Horizonte — e nas demais capitais — e omiti a fonte. Omiti, vejam bem, neste post. Mas as informações completas estão no arquivo do blog, sim. Evidentemente, a grita não tardou: “Quem forneceu esses números? É mentira! Isso não passa de armação”.
Vou ensinar aos "espadachins da reputação alheia" (Balzac) um pouco de honestidade intelectual.
Os dados foram divulgados no dia 29 de janeiro deste ano e pertencem ao levantamento realizado pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) e pelos ministérios da Justiça e da Saúde. Eles constituem o Mapa da Violência nos Municípios referentes a 2006. Procurem nos jornais os dados completos. Os exaltadinhos não precisam brigar comigo. Briguem com os dados, com a Ritla e com os ministérios da Justiça e da Saúde. O que sei é que as autoridades mineiras não contestaram.
Eu também fiquei surpreso com os números, como devem ter ficado muitos belo-horizontinos, especialmente os leitores da imprensa local. É inútil me atacar. Por quê? No dia seguinte à divulgação, escrevi:
“Confesso que fiquei um tanto surpreso ao saber que Belo Horizonte, capital de Minas, na lista das cidades com mais de um milhão de habitantes, está em segundo lugar na lista das mortes violentas por 100 mil (56,6). Só perde para Recife, que está em primeiro (90,5). Na capital mineira, mata-se 81,99% mais do que em São Paulo (31,1), segundo o relatório divulgado ontem. Ouço tanto falar do milagre mineiro, especialmente das ‘políticas sociais inclusivas’ do PT, que completará 16 anos de poder na cidade, que imaginei, sinceramente, que os índices fossem bem menores. Afinal, como é mesmo a cantilena esquerdopata? “Mais incruzão çoçial, menas violência”. Ou será que o PT não "incrui" nada?
E voltamos àquela questão da eficiência da polícia e de prender mais ou de prender menos. Os esquerdiotas estão dizendo por aí que a queda de homicídios em São Paulo se deve ao aumento do emprego (em Belo Horizonte não aumentou?), à atuação das ONGs (as há em Minas, certo?), à organização da comunidade, sei lá o quê... Por que, então, isso tudo teria um efeito positivo em São Paulo, mas não em Belo Horizonte?
Reações
Algumas reações são mesmo engraçadas. As pessoas são tomadas de uma espécie de sentimento nativista. “Como podem falar isto na nossa cidade?” Ora, ataquem São Paulo à vontade; não lhe faltam defeitos. Mas convém não agredir suas virtudes. Sabem por que o crime caiu brutalmente na maior capital do país? Porque o estado prende muito mais do que os outros. Querem dados? Pois não:
- São Paulo tem 40% dos presos do país — não prende demais, não; os outros é que prendem de menos;
- Existem 227,63 presos por 100 mil habitantes no Brasil; em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes;
- Em 2001, o estado de São Paulo tinha 67.649 presos; em 2006, eles eram 143.310 — mais do que o dobro.
- Entre 1996 e 2006, o número de presos aumentou 10 vezes;
- Até julho de 2006, haviam ingressado no sistema prisional do estado 4.832 pessoas — 800 por mês ou um preso por hora.
- em 1999, no estado de São Paulo, havia 52,58 homicídios dolosos por 100 mil habitantes; em 2006, eles eram 18,39 por 100 mil. Atenção: esses dados são da Secretaria de Segurança Pública — que trabalha com critérios diferentes da Ritla, os mesmos para o país inteiro.
- Atenção: em 2007 (ano que está fora daquele relatório), os homicídios dolosos na capital paulista caíram outros 22% em relação ao ano anterior: de 1.984 para 1.538. Assim, em vez dos 18,39 por 100 mil, o número caiu para 15 por 100 mil;
- Dos 96 distritos da capital, já há 29 com menos de 10 mortes por 100 mil habitantes, um índice de país civilizado. O paupérrimo Sapopemba está entre eles;
- No estado, o número de assassinatos caiu18%. Num universo de 645 cidades, 427 estão com índices abaixo de 10 assassinatos por 100 mil habitantes. Em 2006, eram 396.
Então não me venham com história. Ninguém dirá que morro de simpatias por Geraldo Alckmin, não é mesmo? Mas que se lhe reconheça o mérito e a Covas de terem aplicado políticas de segurança que reduziram de modo formidável o número de homicídios no Estado e na cidade. Redução que continua na gestão Serra. “Ah, mas essa política de prender ‘muito’ inchou os presídios e viu nascer o PCC”. Sei. Melhor um crime organizado preso do que solto. E o número de mortos prova isso. Em Recife, não há nas cadeias nada parecido com PCC. Eles estão nas ruas.
Finalmente...
“Mas quem você está culpando, Reinaldo? Aécio e Pimentel?” Eu não estou culpando, em princípio, ninguém e, ao mesmo tempo, estou atribuindo responsabilidades a todo mundo. Estou afirmando que um dos principais problemas do país (se não for o principal), a violência, exibe uma situação bastante grave em Belo Horizonte. Dêem-me uma boa razão, a não ser uma política pública errada, para a cidade perder apenas para Recife nesse ranking negativo — embora não pareça e, sobretudo, não apareça. A infra-estrutura urbana, que cabe ao município, e a política de segurança, que cabe ao Estado, devem ter alguma coisa a ver com isso, não? Ou é obrigação cobrar de Sérgio Cabral que coíba a violência no Rio, mas falta de educação cobrar a Aécio que faça o mesmo em Belo Horizonte?
E a política com isso? O tão demonizado “conflito” de São Paulo — hoje entre PSDB e PT; mas já foi entre PT e Maluf; entre Maluf e tucanos — faz mais bem à cidade do que mal. É bom que os adversários se vigiem e se cobrem. Sabem por quê?
Porque, quando eles aplaudem uns aos outros, a pobretada vai morrendo e nem vira notícia nos jornais. Que também estão aplaudindo. Essa é a democracia de Putin, do PUN da Rússia. Eu prefiro a democracia ocidental, feita com e por adversários.
Inexiste demonização da divergência política em benefício do povo. O conflito democrático, nos limites da lei, é muito mais saudável à vida das pessoas do que a conciliação e o consenso. Uma democracia sem confronto só daria frutos no Brasil? Se só nasce aqui, para lembrar frase já célebre, não sendo jabuticaba, é besteira. Fui claro ou preciso desenhar?
Como eu já conheço o eleitorado — EM ESPECIAL O ELEITORADO QUE NÃO É MEU, HE, HE —, recorro, às vezes, ao que chamo armadilhas didático-pedagógicas, coisa do tempo em que fui professor. Naquele época, claro, eu estava sinceramente interessado em fazer com que os alunos dessem um salto qualitativo no pensamento a partir da informação. Em relação aos petralhas e à turma que forma a fila do gargarejo deste ou daquele políticos, não quero nada. Nem mesmo que mudem de idéia. A rigor, como sabem, não espero nem que me leiam.
Informei os números das mortes violentas em Belo Horizonte — e nas demais capitais — e omiti a fonte. Omiti, vejam bem, neste post. Mas as informações completas estão no arquivo do blog, sim. Evidentemente, a grita não tardou: “Quem forneceu esses números? É mentira! Isso não passa de armação”.
Vou ensinar aos "espadachins da reputação alheia" (Balzac) um pouco de honestidade intelectual.
Os dados foram divulgados no dia 29 de janeiro deste ano e pertencem ao levantamento realizado pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) e pelos ministérios da Justiça e da Saúde. Eles constituem o Mapa da Violência nos Municípios referentes a 2006. Procurem nos jornais os dados completos. Os exaltadinhos não precisam brigar comigo. Briguem com os dados, com a Ritla e com os ministérios da Justiça e da Saúde. O que sei é que as autoridades mineiras não contestaram.
Eu também fiquei surpreso com os números, como devem ter ficado muitos belo-horizontinos, especialmente os leitores da imprensa local. É inútil me atacar. Por quê? No dia seguinte à divulgação, escrevi:
“Confesso que fiquei um tanto surpreso ao saber que Belo Horizonte, capital de Minas, na lista das cidades com mais de um milhão de habitantes, está em segundo lugar na lista das mortes violentas por 100 mil (56,6). Só perde para Recife, que está em primeiro (90,5). Na capital mineira, mata-se 81,99% mais do que em São Paulo (31,1), segundo o relatório divulgado ontem. Ouço tanto falar do milagre mineiro, especialmente das ‘políticas sociais inclusivas’ do PT, que completará 16 anos de poder na cidade, que imaginei, sinceramente, que os índices fossem bem menores. Afinal, como é mesmo a cantilena esquerdopata? “Mais incruzão çoçial, menas violência”. Ou será que o PT não "incrui" nada?
E voltamos àquela questão da eficiência da polícia e de prender mais ou de prender menos. Os esquerdiotas estão dizendo por aí que a queda de homicídios em São Paulo se deve ao aumento do emprego (em Belo Horizonte não aumentou?), à atuação das ONGs (as há em Minas, certo?), à organização da comunidade, sei lá o quê... Por que, então, isso tudo teria um efeito positivo em São Paulo, mas não em Belo Horizonte?
Reações
Algumas reações são mesmo engraçadas. As pessoas são tomadas de uma espécie de sentimento nativista. “Como podem falar isto na nossa cidade?” Ora, ataquem São Paulo à vontade; não lhe faltam defeitos. Mas convém não agredir suas virtudes. Sabem por que o crime caiu brutalmente na maior capital do país? Porque o estado prende muito mais do que os outros. Querem dados? Pois não:
- São Paulo tem 40% dos presos do país — não prende demais, não; os outros é que prendem de menos;
- Existem 227,63 presos por 100 mil habitantes no Brasil; em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes;
- Em 2001, o estado de São Paulo tinha 67.649 presos; em 2006, eles eram 143.310 — mais do que o dobro.
- Entre 1996 e 2006, o número de presos aumentou 10 vezes;
- Até julho de 2006, haviam ingressado no sistema prisional do estado 4.832 pessoas — 800 por mês ou um preso por hora.
- em 1999, no estado de São Paulo, havia 52,58 homicídios dolosos por 100 mil habitantes; em 2006, eles eram 18,39 por 100 mil. Atenção: esses dados são da Secretaria de Segurança Pública — que trabalha com critérios diferentes da Ritla, os mesmos para o país inteiro.
- Atenção: em 2007 (ano que está fora daquele relatório), os homicídios dolosos na capital paulista caíram outros 22% em relação ao ano anterior: de 1.984 para 1.538. Assim, em vez dos 18,39 por 100 mil, o número caiu para 15 por 100 mil;
- Dos 96 distritos da capital, já há 29 com menos de 10 mortes por 100 mil habitantes, um índice de país civilizado. O paupérrimo Sapopemba está entre eles;
- No estado, o número de assassinatos caiu18%. Num universo de 645 cidades, 427 estão com índices abaixo de 10 assassinatos por 100 mil habitantes. Em 2006, eram 396.
Então não me venham com história. Ninguém dirá que morro de simpatias por Geraldo Alckmin, não é mesmo? Mas que se lhe reconheça o mérito e a Covas de terem aplicado políticas de segurança que reduziram de modo formidável o número de homicídios no Estado e na cidade. Redução que continua na gestão Serra. “Ah, mas essa política de prender ‘muito’ inchou os presídios e viu nascer o PCC”. Sei. Melhor um crime organizado preso do que solto. E o número de mortos prova isso. Em Recife, não há nas cadeias nada parecido com PCC. Eles estão nas ruas.
Finalmente...
“Mas quem você está culpando, Reinaldo? Aécio e Pimentel?” Eu não estou culpando, em princípio, ninguém e, ao mesmo tempo, estou atribuindo responsabilidades a todo mundo. Estou afirmando que um dos principais problemas do país (se não for o principal), a violência, exibe uma situação bastante grave em Belo Horizonte. Dêem-me uma boa razão, a não ser uma política pública errada, para a cidade perder apenas para Recife nesse ranking negativo — embora não pareça e, sobretudo, não apareça. A infra-estrutura urbana, que cabe ao município, e a política de segurança, que cabe ao Estado, devem ter alguma coisa a ver com isso, não? Ou é obrigação cobrar de Sérgio Cabral que coíba a violência no Rio, mas falta de educação cobrar a Aécio que faça o mesmo em Belo Horizonte?
E a política com isso? O tão demonizado “conflito” de São Paulo — hoje entre PSDB e PT; mas já foi entre PT e Maluf; entre Maluf e tucanos — faz mais bem à cidade do que mal. É bom que os adversários se vigiem e se cobrem. Sabem por quê?
Porque, quando eles aplaudem uns aos outros, a pobretada vai morrendo e nem vira notícia nos jornais. Que também estão aplaudindo. Essa é a democracia de Putin, do PUN da Rússia. Eu prefiro a democracia ocidental, feita com e por adversários.
Inexiste demonização da divergência política em benefício do povo. O conflito democrático, nos limites da lei, é muito mais saudável à vida das pessoas do que a conciliação e o consenso. Uma democracia sem confronto só daria frutos no Brasil? Se só nasce aqui, para lembrar frase já célebre, não sendo jabuticaba, é besteira. Fui claro ou preciso desenhar?
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