Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 14, 2008

Nelson Motta Terroristas, pero no mucho



Artigo -
Folha de S. Paulo
14/3/2008

Depois de tanto sangue, suor e lágrimas, afinal, o que querem as Farc? Derrubar um governo legítimo e democrático e instalar um "governo popular" bolivariano? Usar as liberdades da democracia para acabar com ela? Seria cômico, como geralmente é a política latino-americana, se não fosse tão trágico: além dos 700 reféns, torturados e humilhados, as Farc já mataram tanta gente inocente quanto a Al Qaeda. Imaginem esse pessoal no poder, o que fariam com a oposição? Como "dialogariam" com terroristas e seqüestradores que lutassem contra o governo bolivariano e ainda fossem apoiados, digamos, pelo Brasil e pelo Chile?
Mas o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, com sua autoridade de fundador do Foro de São Paulo, disse que o Brasil tem uma posição de "neutralidade" em relação às Farc: não as considera terroristas, como Uribe, nem forças beligerantes, como Chávez. Deveria dar o mesmo status à Al Qaeda, que tem os mesmos nobres ideais de destruir "o Império" e o capitalismo, mas, em vez de cocaína, trabalha com ópio e heroína. Mas eles só vendem drogas pela causa, para destruir a juventude americana, são traficantes de esquerda.
Moralmente, nada diferencia as Farc da Al Qaeda ou do ETA, só o estilo dos atentados e seqüestros, de arrecadação de fundos para suas causas, para eles, as mais nobres do planeta. O Brasil não deveria discriminar os guerrilheiros árabes, que também são forças beligerantes lutando pelo povo de Alá.
Já o povo da Colômbia é ingrato: apenas 1% da população reconhece legitimidade nas Farc, que estão se sacrificando para livrá-lo da tirania do mercado, do voto e da democracia burguesa. Mas o assessor Garcia quer que o Brasil seja neutro, vergonhosamente neutro.

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