Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 13, 2008

Míriam Leitão - PIB e câmbio


PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
13/3/2008

Um dia cheio na economia: o PIB de 2007 e medidas cambiais. O PIB cresceu acima do que o mercado tinha previsto no começo do ano passado, e foi um bom resultado: mas o aumento do investimento é menos impressionante do que parece, e o consumo das famílias é muito dependente do endividamento. As medidas que a Fazenda anunciou sobre câmbio não seguram o dólar, mas estão na direção certa.

O consumo das famílias brasileiras chegou ao impressionante número de R$1,5 trilhão e, em 2007, cresceu a 6,5%, marcando o quarto ano de expansão. O aumento da massa salarial de 3,6% explica uma parte, e a outra parte é explicada pelo aumento de 28,8% do crédito das pessoas físicas.

- Isso mostra que as famílias estão mais confiantes na estabilidade da economia; assim estão se arriscando mais, financiando mais seu consumo - comenta o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto.

Nos últimos dois anos, a taxa de investimento cresceu dois pontos percentuais como proporção do PIB; saiu de 15,9% do PIB para 17,6%, mas já há muitos anos ela tem oscilado entre 15% e 17%, e o investimento em infra-estrutura é muito baixo.

De qualquer forma, o Credit Suisse ressaltou, na sua análise, que o investimento foi o destaque. Ele cresceu em 2007 mais que o dobro do PIB; aliás o que vem se repetindo há seis trimestres. Foi o quarto ano seguido, diz o banco, em que o investimento aumentou mais que o PIB.

No investimento, a compra de máquinas e equipamentos cresceu 19,3%, o que é uma boa notícia, principalmente pelo que conta Roberto Olinto:

- Está havendo mais compra de máquinas e equipamentos mais modernos do que de máquinas convencionais, mostrando que há uma inovação na economia brasileira - diz.

Ainda assim, adianta pouco construir mais fábricas, mais modernas, e não haver estradas e portos para transportar os produtos. O investimento em infra-estrutura está baixo demais para um país que, supostamente, está entrando numa outra fase, de crescimento mais acelerado. Isso, claro, sem se falar nas ameaças de recessão externa cada vez mais concretas sobre a economia brasileira.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, me disse ontem que as medidas que tomou não foram para segurar o dólar exatamente, mas para ajudar o exportador.

- Nós sabemos que este momento da economia brasileira foi decorrência do ajuste externo conseguido pelo aumento das exportações. Não queremos repetir o erro do passado em que cada crescimento interno acabava levando a uma deterioração das contas externas.

Os economistas que eu ouvi acham que as medidas são boas e mais do que bem-vindas, principalmente o fim da cobertura cambial - exigência de que o exportador traga para o Brasil 70% dos dólares gerados pela atividade exportadora. Isso vai reduzir os custos do exportador, contudo, vale lembrar, se a expectativa continuar de dólar em queda e real se valorizando, a tendência do exportador será trazer assim mesmo, ainda que não seja mais obrigado.

Pode-se olhar o dado do PIB como se fosse um campeonato em relação a outros governos. Ou pode-se olhar de forma sóbria, notando melhoras e problemas. O país está acelerando a taxa de crescimento médio anual. Nos últimos dez anos, cresceu, em média, a 2,8%; nos últimos cinco anos, a 3,8%. Ou seja, estamos apressando o passo. Porém os últimos cinco anos foram uma época de ouro da economia internacional, e o nosso desempenho ficou abaixo da média mundial. Daqui para diante, a economia internacional está numa fase perigosa; imprevisível. Será mais desafiador manter o crescimento. O PIB per capita cresceu 4%. Um dado excelente para o nosso histórico. Nos últimos dez anos, teve só um ano melhor, o de 2004, em que aumentou 4,2%.

O Bradesco chamou a atenção para outra boa notícia: a alta constatada no último trimestre de 2007, em relação ao mesmo período de 2006, foi a 24ª alta consecutiva nessa base de comparação. "Trata-se do maior ciclo de crescimento de toda a série histórica trimestral disponibilizada pelo IBGE, com início em 1991", segundo o banco.

Há alguns detalhes curiosos nos dados de ontem das Contas Nacionais. A indústria extrativa mineral cresceu abaixo do PIB, 3%. Mas o que puxou para baixo foi o item petróleo e gás, que teve um crescimento pífio de 0,8%. Em plena era de ouro dos preços do petróleo, em plena era da alardeada auto-suficiência, num bom ano, esse número é realmente muito ruim. O que salvou foi a produção de minério de ferro, que cresceu 10,7%.

Apesar de, ao comentar ontem as medidas cambiais, o ministro Guido Mantega ter dito que elas não tinham o objetivo de segurar o dólar, evidentemente o que o governo busca é isso. Só que, se por um lado o dólar que derrete aflige o exportador e ameaça deteriorar a balança comercial; por outro, explica boa parte da redução da inflação dos últimos tempos.

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