Crises demoram a chegar. Isso é o que ensina a História recente; recentíssima. A crise da Ásia estourou na Tailândia em julho de 1997. O colapso cambial do Brasil só aconteceu um ano e meio depois e, nesse meio tempo, as autoridades nos fizeram perder muito do nosso tempo garantindo que o Brasil não era a Tailândia, não era a Coréia, não era a Malásia, não era a Rússia.
Cada país é um país com suas características, mas as crises se espalharam, em um contágio paulatino, que tomou dois anos indo de um país ao outro. Eles eram diferentes, mas tinham os mesmos problemas de desequilíbrio no balanço de pagamentos e no câmbio fixo. O Brasil também viu, na História recentíssima, que, tenha ou não motivos para ser atingido, um país é afetado quando os capitais, cada vez mais conectados, tomam decisões de ida e vinda. Para cobrir perdas, investidores liquidam ativos em outros mercados que estejam bem e, assim, derrubam cotações de empresas e ativos bons. Um dia ruim no mercado americano eleva o risco-Brasil.
Isso se viu nos últimos dias.
Há esquisitices do mundo atual que parecem contrasenso.
A crise começou nos Estados Unidos, mas, quando ela provoca um aumento da percepção de risco, há uma procura maior exatamente por títulos americanos. Esta semana os juros caíram lá, em mais um sinal de preocupação das autoridades sobre a situação do país. Por isso, os investidores ficaram mais medrosos e elevou-se a chamada aversão a risco. Isso aumentou, justamente, a procura por títulos do Tesouro dos EUA, o país encrencado.
Há vários canais pelos quais a crise americana pode chegar aqui, mesmo estando o Brasil num momento excepcional se comparado a outros em que enfrentou crises externas. Uma delas se viu esta semana também: os preços das matérias-primas exportadas que têm cotação no mercado caíram. Isso derrubou a bolsa aqui e elevou o risco. Assim, é melhor se prevenir que bater no peito e afirmar que a crise não chegou ao nosso querido Brasil.
Querido sim, mas não imune.
Se houver desaceleração mais forte da economia americana que leve a uma desaceleração mais forte da economia chinesa, certamente o Brasil sentirá os efeitos diretamente pelos canais do comércio. A inflação chinesa está subindo há meses, em 8,7%, e isso é um dos sinais de preocupação, como o próprio governo chinês admitiu.
Os dois maiores destinos dos produtos brasileiros são Estados Unidos e China.
As commodities oscilaram muito nos últimos dias, mas, no ano, ainda acumulam uma alta impressionante para uma conjuntura de desaceleração da economia mundial. A continuação da queda das commodities nos atingirá certamente, já que somos grandes exportadores desses produtos.
Ainda assim, segundo o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, uma certa queda é desejável: — O petróleo tem que vir para uns US$ 90. O ouro precisa cair também, porque subiu muito nos últimos tempos.
Isso é normalização.
É preciso separar o chacoalhar dos ativos financeiros da economia real, aonde a crise demora mais a chegar. A volatilidade das bolsas tem contágio instantâneo, principalmente em momentos de pânico. Mas os problemas na economia real levam mais tempo a acontecer. Na época da crise da Ásia, as elevações de risco-país ocorriam ao mesmo tempo, e cada vez que um país era mais severamente atingido. Foram em série, a começar pela Tailândia, em julho de 1997, até agosto de 1998, quando a Rússia decretou moratória.
Em todos esses momentos, o Brasil teve ataque à moeda, fuga de capitais, sobe-e-desce de bolsa e alta de risco-país.
Mas o colapso cambial do Brasil aconteceu em janeiro de 1999. Portanto passaramse 18 meses entre o primeiro evento e sermos atingidos em cheio. A economia real não está desligada desses movimentos de ativos financeiros e câmbio. O Brasil enfrentou a recessão de 1999.
As crises são diferentes.
Esta de agora tem características e intensidade inteiramente diferentes daquela.
A outra foi uma crise cambial de países emergentes com persistentes déficits em transações correntes e câmbio fixo. O ataque dos especuladores foi exatamente sobre a cotação das moedas; até forçar os bancos centrais a deixarem as moedas flutuar.
Houve o exagero da desvalorização em cada país, o que virou recessão e inflação. Todos os países asiáticos tiveram recessões: dos 6% (Coréia) até 17% (Indonésia). O Brasil até que não se saiu tão mal: ficou na linha-d’água, ligeiramente negativo.
A crise atual tem também um país com enorme e persistente desequilíbrio externo que está vendo sua moeda perder valor diante das demais.
A diferença é que se trata da economia que ainda representa 25% do PIB mundial, e a queda do dólar é o menor dos seus problemas, até porque seu Tesouro emite títulos que continuam sendo aceitos pelos bancos e bancos centrais do mundo todo.
O que torna tudo mais confuso agora é que uma perturbação numa fatia do mercado de crédito hipotecário travou o mercado de crédito e está virando uma crise de confiança em relação ao sistema bancário.
A economia brasileira pode ser afetada pela recessão americana, pelos movimentos bruscos de capitais, pela queda dos preços das commodities.
O ambiente econômico estará mais hostil daqui em diante. Isso demora a ficar mais visível; enquanto isso, as autoridades dirão que a crise não é nossa.
Entrevista:O Estado inteligente
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