O Globo |
12/3/2008 |
A possibilidade de o Democratas vir a apoiar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República em 2010, admitida em entrevista pelo presidente do partido, deputado Rodrigo Maia, um comentário despretensioso, aparentemente deslocado do contexto previsível, tem na verdade uma significação política mais profunda e, principalmente, um endereço certo: o PSDB, que não fará aliança com o DEM em São Paulo para a prefeitura. Segundo Rodrigo Maia, o Democratas tem suas posições programáticas, não abrirá mão delas, por isso tende à candidatura própria, não necessariamente para vencer, mas para marcar uma posição, como fez na votação da CPMF. Mas deixa abertas alternativas, valorizando o passe de seu partido e o papel do imponderável na política. O diálogo parlamentar que manteve com os integrantes do bloco de esquerda Eduardo Campos, atual governador de Pernambuco, do PSB, Aldo Rebelo, do PCdoB, e com aqueles que eram os líderes desse lado da base do governo e que apoiaram a candidatura de Aldo à presidência da Câmara, esse diálogo nunca acabou, cimentado por uma dessas situações particulares que só a política cria: os problemas que o bloco de esquerda tem são os do Democratas. Há uma vontade dos dois lados de quebrar a polarização PT-PSDB, que quer mantê-los como satélites periféricos. Por vias distintas, os dois têm o mesmo objetivo, deixar de ser apêndice dessa polarização e tentar construir caminho próprio que dê maior espaço para a atuação a nível nacional. Na avaliação do Democratas, o PSDB, de forma clara, a nível nacional, tem procurado uma parceria preferencial com o PPS, com a ajuda dos dois candidatos potenciais à Presidência da República. O governador de São Paulo, José Serra, quer caminhar para a centro-esquerda a nível nacional, embora mantenha a aliança regional com o Democratas, e o governador de Minas, Aécio Neves, que é muito mais radical nessa posição, nem cita o Democratas quando faz a análise da situação política nacional. O governador paulista saudou a aliança do Rio do PSDB com o PPS e o PV no apoio à candidatura de Fernando Gabeira à prefeitura como sendo "a aliança de 2010". O Democratas vê nessa coligação um sinal claro de que o PSDB está escolhendo uma outra parceria para a eleição de 2010, mais à esquerda. O problema não é o Rio, ressalva Rodrigo Maia, mas o que está sendo montado quando as figuras nacionais do partido, como os governadores Serra e Aécio e o ex-presidente Fernando Henrique, vêm a público festejar a coligação. "Estão querendo sinalizar alguma coisa contra a gente", reage Maia. A disputa de São Paulo colocou o Democratas em situação delicada: existe uma lealdade do governador José Serra a Gilberto Kassab, prefeito da capital candidato à reeleição pelo DEM, na execução do governo, mas há a divisão provocada pela candidatura de Geraldo Alckmin pelo PSDB. Mesmo com a impossibilidade de fechar o apoio tucano ao candidato do Democratas, Rodrigo Maia acha que Kassab trabalhará para que, a nível nacional, se Serra for o candidato do PSDB, seja apoiado por seu partido. Se for reeleito, terá influência evidente na decisão nacional. O Democratas, que está perdendo a vergonha de assumir uma posição de direita, embora sempre que um deles diga disso coloque como atenuante a palavra "centro" antes da "direita", considera que, na hora em que o PSDB tenta ocupar todos esses espaços na esquerda, abre o caminho para ele ocupar o espaço da direita política. A eventual ligação do Democratas com o bloco de esquerda pode levar a uma estranha aliança, pelo menos no segundo turno das eleições presidenciais de 2010. Mas dará liga para um governo? Com Ciro Gomes talvez não, que ele é muito "complexo" no relacionamento, mas com Eduardo Campos ou com Aldo Rebelo, até que daria, na avaliação de Rodrigo Maia. Ele lembra a atuação do Democratas na Câmara quando Rebelo foi presidente, dando suporte político à sua atuação, quase sempre contra a posição do PT. Quem dava consistência política era o Democratas, lembra ele, se referindo à reforma política parcial que foi aprovada acabando com outdoor, brindes de campanha e fazendo outras pequenas alterações nas campanhas eleitorais. Uma combinação aparentemente esdrúxula como essa, com o Democratas apoiando um candidato de uma coligação de esquerda, pode ser comparável à aproximação do PSDB em 1994 com o PFL, na construção do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi um escândalo político, mas deu certo. O candidato do Real poderia até mesmo vencer a eleição presidencial sem fazer alianças, mas não governaria, como ressaltava sempre o próprio Fernando Henrique. Cada vez mais essa hipótese, no entanto, está minoritária internamente no partido, que tende para uma candidatura própria no primeiro turno. A tendência majoritária é buscar o eleitorado que ficará órfão com candidatos todos à esquerda, marcar posições de redução do Estado, que preste serviços nas áreas essenciais, com uma carga tributária menor. Se optar pela candidatura própria, o Democratas sabe que não tem nenhum nome em nível nacional que seja viável, pois não construiu a candidatura nos últimos anos, tendo atuado mais como coadjuvante do PSDB na eleição presidencial. O início da construção de uma candidatura viável seria a eleição de 2010, com objetivos de longo prazo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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