editorial |
O Estado de S. Paulo |
5/3/2008 |
Impedido pela Constituição de disputar um terceiro mandato, depois de dois períodos sucessivos, a contar de 2000, o presidente russo, Vladimir Putin, poderia tranqüilamente extrair do dócil Parlamento nacional, a Duma, uma nova lei que derrubasse o impedimento - e que, submetida a um eventual referendo, decerto seria aprovada por maioria absoluta, não apenas do Parlamento, mas também do povo russo, que, além de não demonstrar qualquer pendor para a prática da democracia, deve a Putin a recuperação de uma economia que só se deteriorava na fase da perestroika, até ele chegar ao governo. Mas, para não ser denunciado no Ocidente como inimigo da democracia, criando um problema desnecessário para as relações externas de seu país, ele preferiu dar um golpe ainda mais branco: para todos os efeitos práticos, transformou o regime presidencial russo numa espécie de parlamentarismo, com um presidente no papel de coadjuvante do primeiro-ministro - Putin, naturalmente. Parlamentarismo peculiar: nele, o chefe de Estado escolhe para chefe de governo o ex-presidente que o escolhera para sucedê-lo. No ano passado, depois de anunciar que deixaria a presidência, Putin selecionou a dedo o novo residente do Kremlin, o advogado Dmitri Anatolievitch Medvedev, seu braço direito há 17 anos, e se declarou aspirante ao cargo de primeiro-ministro. Um dos vices-primeiros-ministros da Rússia e presidente nomeado por Putin da megaestatal de energia Gazprom - a terceira do mundo, com interesses numa ampla variedade de setores da economia nacional -, Medvedev foi eleito domingo com 70% dos sufrágios. Foram às urnas 2/3 dos eleitores (não raros sob coação: um comparecimento dessa ordem de grandeza era ponto de honra para Putin, decidido a dar à sucessão o máximo de legitimidade). Vitorioso, Medvedev fez o óbvio ululante: confirmou que, a partir da data prevista de 7 de maio, Vladimir Putin, aos 55 anos, assumirá o comando do Gabinete de Ministros. Oficialmente, como chefe de Estado, caberá a Medvedev definir, entre outras, a política externa do país. Mas Putin avisou desde logo que seguirá falando pela Rússia - e é apenas de esperar que continue a fazê-lo com a costumeira dureza, talvez a maior fonte de sua popularidade. Respaldado, agora, pelas imensas reservas de petróleo e gás de que depende vitalmente a economia da União Européia, insistirá na obsessiva aspiração nacional ao status de grande potência, que remonta a Pedro, o Grande (czar de 1682 a 1725). Aos olhos de Moscou, é o que os Estados Unidos e a União Européia tratam de solapar, apoiando, por exemplo, desde a eleição de candidatos filoocidentais nas antigas repúblicas soviéticas, como a Ucrânia e a Geórgia, até a independência da província de Kosovo, numa afronta à Sérvia, a aliada etnocultural russa nos Bálcãs. A isso se soma a estulta iniciativa do presidente Bush de instalar um sistema de mísseis de defesa na República Checa, além de uma dezena de mísseis antibalísticos na Polônia. Talvez com mais wishful thinking do que senso de realidade, diversos russólogos invocam a carreira, o perfil e as palavras de Medvedev para sugerir que, malgrado Putin, ele poderá dar início a uma transição política que tornaria a Rússia mais liberal e menos hostil ao Ocidente. A ascensão desse “civil” de 42 anos, argumentam, foi um golpe para a influente máfia do aparato dos serviços presentes e passados de segurança, cujo membro mais distinguido foi o próprio ex-oficial da KGB Vladimir Putin, e cujo candidato natural à sua cadeira era outro vice-premiê e ministro da Defesa, Sergei Ivanov. Pessoalmente, Medvedev é quase a antítese do seu empertigado benfeitor: afável, simpático, acessível, fluente em inglês, faz praça de ser fã da banda de rock Deep Purple. O seu mote - “a liberdade é melhor do que a não-liberdade” - está longe de ser uma pérola de filosofia política, mas ele diz que se aplica à economia, aos direitos individuais, à imprensa e ao primado da lei. No entanto, à parte a catadura insondável do personagem, era essa a mensagem que o então semidesconhecido Putin enviou ao Ocidente, em 2000, antes de passar os sete anos seguintes a picotá-la. A Rússia é uma autocracia plena - e desde Stalin não conheceu um autocrata que enfeixasse tamanhos poderes pessoais como Putin. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 05, 2008
Medvedev na Rússia de Putin
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