Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 07, 2008

Licença não deve mudar nada


editorial
O Estado de S. Paulo
7/3/2008

É um tedioso jogo de cena o modo como o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, resolveu, afinal, se afastar do comando do PDT. Era o que lhe havia recomendado, em fins de novembro, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, entendendo ser antiético o acúmulo dos cargos de ministro e de dirigente de partido. Lupi se disse vítima de perseguição pessoal e desdenhou do conselho. Diante disso, só restou ao colegiado sugerir ao presidente Lula que demitisse o ministro adepto do regime de dupla jornada. Vendo que o presidente da República ignorava a sugestão, o presidente da comissão, embaixador Marcílio Marques Moreira, deixou o posto. Foi substituído pelo ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, a quem Lula chamou para uma conversa já no dia da posse, 25 de fevereiro.

Criaram-se assim as condições para dar ao pedetista uma saída honrosa da presidência do partido e para o governo se livrar de mais um constrangimento - embora, de público, Lula tivesse ido ao extremo de dizer que Lupi é o mais republicano de seus ministros. O enredo da encenação incluiu uma reunião dele com a caciquia do seu partido e as suas bancadas no Congresso, convocadas para Lupi receber o beija-mão de solidariedade dos correligionários, e se consumará num tête-à-tête com Sepúlveda, para sugerir um desfecho negociado e não o que todos sabem ser o efeito (tardio) da deliberação do Conselho de Ética. O espetáculo decerto mereceria pouco mais do que um registro, não fosse a questão que colocou em segundo plano a dupla militância em vias de ser abandonada - e que, a rigor, mobilizou o apoio do PDT a Lupi.

A questão, evidentemente, são as denúncias publicadas na imprensa de que, na atual gestão, o Ministério do Trabalho privilegiou entidades e pessoas ligadas ao partido em pelo menos 12 convênios, cujos repasses somam R$ 50 milhões. Outros R$ 14,7 milhões foram transferidos a organizações ligadas à Força Sindical, presidida pelo deputado pedetista Paulo Pereira da Silva. Divulgou-se ainda que a Pasta estava para repassar R$ 7 milhões à Confederação Nacional dos Metalúrgicos, também vinculada à Força Sindical, por um trabalho de recolocação de mão-de-obra em São Paulo. O valor corresponderia a quase o dobro do que o governo paulista gasta para a mesma finalidade. Para o senador Jefferson Péres - quem diria! - não é o fim do mundo.

O ministro companheiro de partido, argumenta, “está sendo acusado de favorecimento ao PDT. Não está sendo acusado de corrupção”. Menos dado a distinções bizantinas sobre critérios de uso do dinheiro público, o secretário-geral da sigla, Manoel Dias, que deverá substituir Lupi na presidência, nem tenta tapar o sol com peneira. “Qual ministro não beneficiou seu partido? Isso é natural”, dá de ombros. Sendo assim, é natural que se pergunte que diferença fará para as práticas beneficentes do Ministério do Trabalho se o seu titular deixar a direção da legenda beneficiada. O Conselho de Ética pode condenar o contubérnio; nada pode contra a perpetuação das suas conseqüências, quando a ligação indesejável só na aparência se desfaz.

O aparelhamento da Pasta, sob Lupi, é de dar inveja ao PT. São pedetistas os ocupantes de seus postos-chaves. Para começar, a Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, responsável pela liberação das verbas dos convênios com prefeituras, governos estaduais e ONGs - que é onde o carro pega -, é chefiada por um vice-presidente do PDT no Distrito Federal, Ezequiel Nascimento. E, por acaso, ou não, o tesoureiro do partido, Marcelo Panella, é chefe de gabinete de Lupi. Segundo a Folha de S.Paulo, dos 27 superintendentes regionais do Ministério, 17 são pedetistas de carteirinha, e 1 foi indicado pelo PDT. A cupinchada não brinca em serviço. Paulo Pereira da Silva, achando que o noticiário vincula indevidamente a Força Sindical ao Ministério do Trabalho, anunciou que, à maneira dos seguidores do “bispo” Edir Macedo, responderá às denúncias processando os jornais que as divulgaram em 20 Estados.

Se isso não funcionar, avisou, serão mil, 2 mil as ações, no Brasil inteiro, impetradas por sindicalistas. “A Igreja Universal vai ser fichinha”, compara. E confessa: “Pode perder, não tem problema. Meu negócio é dar trabalho para eles.”

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