Angela Merkel fala no Knesset em alemão – e se
compromete com a segurança do estado judeu
Diogo Schelp
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Merkel fala aos deputados de Israel e, ao lado, soldado da SS executa judeu na Polônia, em 1942: vergonha |
"Alemanha e Israel são e permanecerão, para sempre, ligados de maneira especial pela lembrança do holocausto", disse a primeira-ministra alemã Angela Merkel, na semana passada, ao Parlamento israelense, em Jerusalém. Merkel discursou em sua língua materna, com algumas frases em hebraico, e se disse envergonhada, como alemã, pelos 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas durante a II Guerra Mundial e pelo sofrimento dos sobreviventes do holocausto. Cinco deputados israelenses se sentiram ofendidos com o fato de que a "língua do assassino" seria ouvida na sede do legislativo do estado judeu. Eles boicotaram a sessão. O restante de seus colegas aplaudiu de pé as palavras da chanceler. A visita de três dias de Merkel a Israel, a terceira em seu governo, iniciou um novo estágio nas relações entre os dois países. Merkel é a primeira chefe de governo da Alemanha a falar no Knesset. A honra já havia sido concedida a dois presidentes alemães. Por isso, o ineditismo do discurso de Merkel está principalmente em seu conteúdo. Nunca antes um presidente ou chanceler alemão foi tão longe em seu compromisso com a segurança de Israel. Depois de listar o que considera as principais ameaças ao estado judeu (a ambição atômica do Irã, a influência síria no Líbano e o terrorismo do Hamas), Merkel disse que a existência de Israel é parte da razão de estado da Alemanha, ou seja, é inegociável. Essa foi a forma que a Alemanha encontrou para reparar o genocídio dos judeus promovido pelos nazistas. É a reafirmação da realidade indiscutível do holocausto – cuja existência ainda é contestada aqui e ali por mentes doentias.
A aproximação entre Israel e Alemanha começou sete anos após o fim da guerra, quando o chanceler alemão Konrad Adenauer negociou a indenização de 3 bilhões de marcos paga a Israel pelo holocausto. Desde então, adotou-se o mais eficiente dos instrumentos de normalização nas relações entre dois povos: o comércio. Já em 1957, Israel exportava suas submetralhadoras Uzi para o Exército alemão, e hoje a Alemanha é o maior parceiro comercial dos israelenses, depois dos Estados Unidos. Na semana passada, pela primeira vez, oito ministros alemães fizeram uma reunião conjunta com seus colegas israelenses. Com todo o comércio e cooperação, no entanto, Merkel demonstrou, em seu discurso de vergonha e humildade no Knesset, que normal, mesmo, a relação entre os dois países nunca será. A dívida moral da Alemanha é eterna: Merkel nem sequer era nascida quando os nazistas cometeram seus crimes.