Para o Tibete, a Olimpíada de Pequim já
começou e seu esporte é a pedrada
Brian Soko/The New York Time |
Soldados chineses defendem-se de pedras jogadas por tibetanos, em Lhasa, e monge ferido no Nepal |
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Os tibetanos não se rendem facilmente. Há duas décadas, a China alicia o Tibete com todo tipo de agrado econômico. Construiu ferrovias, aeroportos, estradas, escolas e prédios públicos em uma província que, na primeira metade do século passado, ainda tinha padrão de vida medieval. Pouco adiantou. Nos últimos dez dias, os tibetanos foram às ruas para dizer que sua identidade não está à venda. No aniversário de 49 anos do maior levante contra a invasão chinesa, ocorrida em 1950, cerca de 300 monges budistas fizeram uma passeata pacífica pedindo o retorno do Dalai-Lama, o líder espiritual máximo do budismo tibetano, exilado na Índia. A manifestação foi reprimida com violência pela polícia e dezenas de monges foram presos. Nos dias que se seguiram, tibetanos de outras províncias e de países vizinhos se rebelaram. Lojas de chineses, carros e agências do Banco da China foram destruídos. Nos conflitos, quase 100 pessoas morreram. Em Lhasa, a capital do Tibete, mais de 900 foram presas.
Para o mundo não testemunhar a brutalidade, isolou-se completamente a região. Barricadas foram montadas nas estradas e jornalistas estrangeiros, expulsos. Para o regime chinês, é uma questão de segurança nacional. A China considera que o Tibete sempre lhe pertenceu e teme que a independência da região leve ao esfacelamento de seu território. A verdade é que, antes de ser invadido, em 1950, o Tibete era um país independente com status reconhecido por outras nações. Do exílio, o Dalai-Lama disse que não almeja a independência, apenas mais autonomia. Os tibetanos querem ensinar a própria língua nas escolas e adorar os seus líderes religiosos. Desde setembro do ano passado, uma lei chinesa estabelece que um religioso precisa do aval do Partido Comunista Chinês para ser considerado reencarnação de Buda. Em um mundo em que até os albaneses da Sérvia se viram, no mês passado, no direito de ter um estado independente, o Kosovo, fica difícil negar o mesmo ao Tibete. E a proximidade da Olimpíada de Pequim torna mais visível a luta dos tibetanos.