Procuremos desvendar o arsenal. Está mais do que evidente que Lula começou a burilar o amanhã. Confirma-se, a cada dia, a preferência que tem pela poderosa chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pessoa de absoluta confiança, como candidata à sua sucessão. A ministra discursou em palanque, em Aracaju, semana passada, obedecendo ao figurino de expurgar estatísticas e verberar o “populês” lulista. A idéia em curso é a de que o presidente correrá o País com a ex-guerrilheira a tiracolo para ver se ela emplaca e, ainda, para avaliar o potencial de transferência de votos. Na rebarba das conversas, a confissão de que poderia até se abrigar em um mandato de senador por Pernambuco, terra natal, onde teria condições de capturar cerca de 90% dos votos. Caso o teste de adesão à Dilma dê negativo, Lula tem a alternativa de pinçar um nome do PT ou da base aliada - Patrus Ananias, Ciro Gomes, Sérgio Cabral - ou mesmo o tucano amigo, Aécio Neves, a partir do ingresso deste na seara peemedebista. O presidente sabe que 2010 será um ano especial para Minas Gerais. Na esteira das comemorações do centenário de Tancredo, sob o sorriso de Kubitschek e o recorrente discurso de que os mineiros - o segundo colégio eleitoral do País - precisam resgatar a Presidência perdida com a morte de seu avô, em 21 de abril de 1985, Aécio poderia empolgar a população. O jovem governador, contrário à reeleição, abriria espaço para o lulismo voltar em 2014.
Nomes à parte, retornemos às manobras de Lula. Seja qual for o candidato, o cenário estará pronto para acolher o candidato situacionista. Os valiosos e monumentais arabescos terão alta visibilidade. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais adiante, multiplicará obras por todos os espaços. Contingentes das margens sociais estarão sob o abrigo das bolsas que continuarão a despejar a mesada de cada família, e engordadas com os bilhões do Programa Territórios da Cidadania, voltado para irrigar a área rural. Depois de fechar as porteiras das margens, o estilo providencial do mandatário cuida de ajustar o apito dos condutores dos rebanhos. Gado sem aboio do vaqueiro se dispersa. Vale lembrar a imagem de John Stuart Mill: os governantes preferem súditos dóceis ou indiferentes, que podem ser “transformados num bando de ovelhas dedicadas tão-somente a pastar capim uma ao lado da outra”. Os vaqueiros de Lula serão as Centrais Sindicais e seus respectivos sindicatos, a miríade de organizações não-governamentais e os movimentos étnico-raciais.
Após promover o grande acordo e esfriar a competição entre as Centrais, com sua legalização, o presidente amplia o espaço do sindicalismo com o pedido de ratificação pelo Congresso das Convenções 151 e 158. A primeira diz respeito à negociação coletiva no setor público e a segunda proíbe as demissões imotivadas na iniciativa privada. É evidente que os servidores públicos têm direito à negociação coletiva, mas a questão, hoje, transborda para o campo da luta ideológica, deixando antever um Estado partidarizado, repartido entre interesses de grupos e castas. O conceito de serviço público essencial e o direito de greve, por exemplo, devem integrar essa discussão. A Convenção 158, por seu lado, além de tornar letra morta a legislação trabalhista que permite a dispensa injustificada, desestimulará o emprego em vez de dar mais garantias aos empregados, já que no Brasil há excesso de encargos trabalhistas. Países desenvolvidos que a ratificaram, entre os quais Espanha, Finlândia, França, Portugal e Suécia, tiveram de criar novas formas de contrato de trabalho para compensar as restrições da Convenção.
Ademais, por que, até hoje, o Brasil não ratificou a Convenção 87, que estabelece o direito de trabalhadores e empregadores de criarem ou se filiarem a entidades que considerem “convenientes, sem prévia autorização”? Hoje, o Estado intervém fortemente na organização sindical, dizendo como e quando os trabalhadores podem se sindicalizar. Por que o governo não tem interesse em ratificar a Convenção 181, que trata das agências de emprego privadas? Ou seja, algumas Convenções da OIT prestam e outras, não. O governo, na verdade, quer afinar a orquestra. Lula contará com exércitos sindicais e suas inúmeras divisões para expandir o barulho das Convenções da OIT no Congresso. Para aumentar o bumbo, ele ainda conta com a balbúrdia da reforma tributária. Eis o mistério lulista. Enquanto as atenções se voltam para a confusão arrumada na esfera parlamentar, Lula continuará a reinar absoluto. Convenhamos, é muito bode para pouca sala. E, assim, enchendo o meio do prato e comendo pelas bordas, Sua Excelência prepara o cardápio presidencial dos anos que virão.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, março 09, 2008
Gaudêncio Torquato Encher o prato e comer pelas bordas
Que há alguma coisa no ar do País fora os aviões de carreira e os tucanos da Força Aérea, há muito já sabemos. Os sinais também indicam que não se trata de extraterrestres tentando abduzir o presidente Luiz Inácio para averiguar por que um humanóide resiste tanto às intempéries brasileiras, mesmo as que destroem células vitais do organismo político, como as irrupções de natureza ética que assolam o corpo governamental. O que tem chamado a atenção, nas últimas semanas, é o conjunto de movimentos ensaiados pelo presidente da República, alguns apontando para a visão estratégica que o torna um disciplinado aluno de Maquiavel, outros fechando o feixe de armas táticas, necessárias para vencer obstáculos, abrir rotas e alinhar exércitos. Nos horizontes estratégicos, desponta o ciclo pós-Lula, dentro do qual o presidente insere os primeiros perfis para sucedê-lo. Nas sombras táticas, as balas atiradas para confundir e dispersar adversários saem do cartucho pesado da reforma tributária com recheio de chumbo trabalhista, no caso, as Convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
março
(456)
- do Blog REINALDO AZEVEDO
- Ricardo Noblat Dilma é mãe duas vezes
- Clipping de 31/03/2008
- Clipping do dia 30/03/2008
- Clipping do dia 29/03/2008
- AUGUSTO NUNES- SETE DIAS
- O tribunal do tráfico em ação - O GLOBO
- Miriam Leitão Terreno fino
- Merval Pereira Manobra arriscada
- Dora Kramer Quinze minutos
- João Ubaldo Ribeiro As causas da dengue
- Daniel Piza
- ESTADÃO entrevista: Antônio Barros de Castro
- Alberto Tamer Economia americana resiste à recessão
- Mailson da Nóbrega A usina fazendária
- Suely Caldas A quem servem as elétricas
- Celso Ming
- Gaudêncio Torquato O fogo e a água
- A América se move
- FERREIRA GULLAR Uma questão teológica
- Eliane Cantanhede - Neo-aloprados
- Jânio de Freitas - O dossiê da maternidade
- A República dos dossiês Ruy Fabiano
- do Blog REINALDO AZEVEDO
- Celso Ming A enrascada argentina
- Miriam Leitão
- Merval Pereira Aliança ética no Rio
- Dora Kramer O fiador da reincidência
- FHC afirma que Dilma precisa demitir responsável p...
- RENATA LO PRETE "Pós-Lula", só em 2011
- RUY CASTRO
- MELCHIADES FILHO Ser mãe é...
- CLÓVIS ROSSI Carícias no pântano
- Fausto tropical
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista:Garibaldi Alves
- Lya Luft
- MILLÔR
- RADAR
- Roberto Pompeu de Toledo
- J. R. Guzzo
- Diogo Mainardi
- REINALDO AZEVEDO
- Corrupção Lula afaga os decaídos
- Cartões Assessora da Casa Civil é acusada de mo...
- Comentårio de Reinaldo Azevedo
- Aloprando no armazém
- O primeiro panelaço de Cristina Kirchner
- Tecnologia O maiô que produz recordes nas piscinas
- O reaquecimento das vocações pastorais no Brasil
- Placar expõe a luta do ex-jogador Casagrande contr...
- Cidades O vetor da dengue: descaso generalizado
- Hannah Montana, o novo ídolo das menininhas
- A classe C já é maioria e revoluciona a economia
- O conteúdo da rede agora em 3D
- Aeroportos tentam amenizar o tormento da espera
- A salada das mil calorias
- Ciência num lugar inesperado
- História A estupidez da censura guardada no Arq...
- Dicas para fazer um bom MBA
- Humor Riso com inteligência no Terça Insana
- Livros Para Ler Como um Escritor, de Francine P...
- Tratados de "pobrologia"
- O documentário de Scorsese sobre os Rolling Stones
- Nelson Motta AMIGO É PARA ESSAS COISAS
- O CRÉDITO E OS MOSQUITOS
- LULA, A ESFINGE SEM SEGREDOS
- Clóvis Rossi - Corrupção por quilo
- Míriam Leitão - Voltas do mundo
- Merval Pereira - No limite
- Luiz Garcia - Coisas municipais
- Com vento de popa
- Celso Ming - Pepino torto
- Dora Kramer - Continuidade entra na pauta
- Clipping de 28 de março
- BRAÇO DIREITO DE DILMA MONTOU DOSSIÊ
- Não falta ninguém em Nuremberg. Falta Nuremberg
- A vivandeira e o destrambelhado
- O espectro do blog ronda o comunismo
- Lula sai em defesa de "Severino Mensalinho"
- Míriam Leitão - Dois detalhes
- Merval Pereira - Armando o tabuleiro
- Jânio de Freitas - O escandaloso sem escândalo
- Eliane Cantanhede - O olho da cara
- Dora Kramer - Latifúndio improdutivo
- Clóvis Rossi - Desigualdade secular
- Celso Ming - A galinha do vizinho
- Clipping de 27/03/2008
- A candidatura de Alckmin
- FHC cobra dados de cartão de Lula, que reage e diz...
- Aula magna de FHC sobre despesas sigilosas
- PSDB se esforça para perder a sucessão de Lula
- Arrogância e audácia
- Dora Kramer - A sinuca do dossiê
- Celso Ming - Trégua nos mercados
- Paulo Rabello de Castro Esta reforma não reforma
- RUY CASTRO Datas
- Clóvis Rossi - Memórias e vergonhas
- Míriam Leitão - O saldo que cai
- Merval Pereira - Tragédia oculta
-
▼
março
(456)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA