O grupo do governador José Serra, ao qual se alia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chegou à conclusão de que até poderia, mas não seria conveniente "forçar a mão" pela aliança sem correr o alto risco de criar uma monumental aresta dentro do partido para o projeto presidencial de Serra em 2010.
Já os dirigentes do DEM não vêem razão alguma para o atual prefeito deixar de se candidatar. Ao contrário: com dois dígitos (12%) nas pesquisas, a máquina municipal nas mãos e o governador nesse período pré-eleitoral inaugurando obras para baixo e para cima com Kassab, os democratas acham que só têm a ganhar.
Na pior das hipóteses, o partido, que nunca teve nada em São Paulo, se estabelece como força eleitoral, levando um dos seus a subir de patamar político para, quem sabe, tentar outros vôos mais adiante. Na melhor, chega ao segundo turno. Na mais remota, ganha a eleição.
Por ora, até o tucanato mais refratário a Alckmin acha que, no fim, ele leva essa. Não se pode dizer que o cenário produza imensa felicidade no grupo, mas trata-se aqui de lidar com a realidade: sem arrumar uma confusão de proporções amazônicas, José Serra e companhia não têm condições políticas nem de comprar a briga para valer com Alckmin nem de convencer Kassab a não concorrer.
Bater pé na manutenção da aliança daria aos adversários internos de José Serra a chance de atribuírem a ele a divisão do partido. Quanto a fazer Kassab desistir, descontado o problema político com o DEM, a questão parece ser mesmo de uma imensa falta de vontade de que ele desista.
Basta ver a reação serena do DEM à evidência de que o PSDB terá mesmo candidato. O presidente do partido, Rodrigo Maia, passou o fim de semana em São Paulo, participou de duas inaugurações - ambas de secretarias comandadas pelo PSDB -, saiu "encantado" com o tratamento que recebeu dos tucanos e bastante compreensivo no tocante à candidatura própria dos parceiros.
"É claro que o ideal seria a aliança, mas compreendemos que a vontade pessoal de alguém que foi candidato a presidente da República, foi governador do Estado e tem apoio dentro do partido é difícil de ser contestada", diz Rodrigo Maia, para acrescentar uma reverência a José Serra: "Nossa relação com ele não muda nada."
E com o PSDB que ocupa 70% da máquina municipal?
Aí serão outros quinhentos a serem resolvidos pelos tucanos. Kassab não tomará a iniciativa de demitir nenhum secretário, uma vez assumidas as candidaturas.
Deixará ao encargo do PSDB, mais exatamente de Geraldo Alckmin, a decisão de bater em retirada ou de ficar. Se ficarem, estarão trabalhando para o adversário, mas a operação saída também não é tão fácil assim de ser executada sem provocar resistências e, por conseqüência, fortes divergências.
Nesse quadro, vê-se que a sinuca a ser resolvida na campanha está com o tucanato: o PT concorre como oposição, o DEM como situação, mas o PSDB ainda vai precisar encontrar uma posição.
Obediência funcional
Não há mistério na desistência do radialista Wagner Montes (PDT) de disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro, embora apareça em primeiro lugar nas pesquisas.
Ele é funcionário da TV Record, cujo candidato é o senador Marcelo Crivella. Portanto, ou desistia ou ficava sem o emprego.
O jogo de poder em favor de Crivella avizinha-se pesado, pois nele entra, ainda de forma sub-reptícia, o Palácio do Planalto.
Retalhos de cetim
O deputado Aldo Rebelo (PC do B) não enxerga implicações eleitorais imediatas na presença do primeiro time do escalão oposicionista em sua festa de 30 anos de vida pública, sábado passado.
Aldo vê ali o resultado de uma trajetória a serviço da conciliação: "Com Alckmin fiz dobradinha para eleição de deputado, Serra abriu o Congresso de reconstrução da UNE em 1979, quando fui eleito presidente, em Fernando Henrique votei três vezes (1978 para o Senado,1985 para prefeito e 1986 para o Senado outra vez), com Aécio participei da campanha de Tancredo e o DEM foi um dos meus mais firmes aliados na eleição da presidência da Câmara" (perdida para Arlindo Chinaglia).
Ex-ministro de articulação política, sucessor de Severino Cavalcanti na presidência da Câmara com o apoio de Lula, Aldo Rebelo é dos que apostam numa "grande união de forças políticas" em 2010.
Falta apenas os adversários combinarem entre si e, mais importante, abrirem mão de seus respectivos projetos em favor de, como diz o deputado, "um compromisso permanente com o País".