Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 23, 2008

DANUZA LEÃO

Nossos nobres colegas

Minha sugestão é que os deputados e senadores passassem a ter um salário de R$ 70 mil

QUEM NÃO GOSTARIA de ter seu salário triplicado? Todos nós, inclusive - e sobretudo - os deputados. Então, vamos batalhar para que isso aconteça.
Sinceramente, acho que deputados e senadores ganham pouco. O salário não passa de R$ 12 mil e uns quebrados, mais R$ 35 mil de despesas de gabinete e R$ 15 mil de verba indenizatória. Total: R$ 62 mil. Minha sugestão é que os deputados e senadores passassem a ter um salário de R$ 70 mil. Em qualquer lugar do mundo R$ 70 mil é um belíssimo salário, só que todas as despesas -todas - teriam que ser pagas pelos próprios.
Vamos organizar: para começar, o governo deveria vender todos os apartamentos que, supostamente, serviriam de moradia a seus congressistas e cortar a ajuda de custo de R$ 3.000 para quem preferisse morar num apart.
Com R$ 70 mil dá para pagar aluguel, não dá? Vendendo os apartamentos, cairiam as despesas de geladeira, máquina de lavar, televisão, sofás, roupa de cama, enfim, tudo que é necessário para que um representante do povo more com conforto. Ah, e os carros: cada um compraria o seu, pagaria seu próprio motorista, suas multas, quando elas existissem, e sobretudo a gasolina, aquela que daria para ir à lua não sei quantas mil vezes. E os assessores; cada um teria quantos quisesse, e nada os impediria de contratar a mãe, a mulher, os filhos, noras, genros, etc. O dinheiro sendo deles, teriam todos o direito de fazer o que quisessem com ele.
Também poderiam alugar uma casa para dar suas festas com direito às mais lindas moças da cidade, pois a conta não seria paga pelo governo.
As passagens poderiam ser quantas fossem, desde que pagas do seu próprio bolso e a imprensa, que no fundo é a culpada de tudo, não poderia reclamar de nada, pois cada um faria do seu dinheiro, ganho honestamente, exatamente o que quisesse.
Seria necessário um conselho de ética para fiscalizar tudo, inclusive para escolher quais os deputados que não perdem as reuniões da ONU, mas não sei se essa seria uma boa idéia (aliás, o que fazem esses deputados em Nova York?). O último Conselho de Ética acabou desmoralizado, quando Marcílio Marques Moreira foi contra um ministro que era também presidente de um partido. E como hoje, com a informática, qualquer empresinha chinfrim pode fazer "conference calls", todas as reuniões que custam fortunas, inclusive a de Davos, poderiam ser feitas pelas tais "conference calls", o que seria uma imensa economia para todos os países. E o deputado que quisesse ir a Paris com sua esposa compraria passagens em cinco módicas prestações, pelo cartão. Mais: os deputados trabalhariam onze meses por ano, sem direito a faltar, tendo apenas um mês de férias, como qualquer cidadão. O único problema é que para que tudo isso acontecesse seria preciso que os 500 e não sei quantos deputados votassem a favor dessas medidas - aliás, pra que tanto deputado?-, e fosse diminuído também o número de senadores. Tem sentido, Roraima ter o mesmo número de senadores que São Paulo?
Mas sabe quando é que alguma dessas coisas vai acontecer? Nunca. Porque ninguém, sobretudo os políticos, vão querer abdicar de nenhum dos privilégios que eles mesmos criaram para si. Se não fosse pela bela arquitetura de Niemeyer, a vontade que dá é de jogar uma bomba - várias, aliás - e acabar com Brasília.

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