Ontem foi dia de urso porque o mercado baqueou. Por coincidência, o protagonista do episódio é um banco que tem no nome a palavra que pode significar tanto carregador de peso como o próprio urso: Bear Stearns.
No início da semana passada, rumores intensos e fortemente desmentidos diziam que o Bear, um banco médio de investimentos, vinha enfrentando uma corrida aos saques pelos seus depositantes. Logo se viu que devia mesmo ter problemas porque tinha aplicações de peso num fundo, o Carlyle Capital, que ficou insolvente. Ontem, o presidente do Bear, Alan Schwartz, que dois dias antes desmentira enfaticamente problemas de solvência, reconheceu que o banco enfrentava uma onda irresistível de pedidos de resgate. Os preços das ações caíram ontem 45,9% e esse número já diz tudo.
O banco central americano (Fed) providenciou um proer salvador. Por meio do JP Morgan, abriu ao Bear - um banco de investimento que não leva supervisão direta do banco central - a mesma janela do redesconto oferecida aos bancos comerciais de varejo. Na prática, ofereceu dinheiro vivo ou títulos do Tesouro americano em troca dos papéis encalhados no seu ativo.
A corrida ao Bear teve características semelhantes à que ocorreu em setembro do ano passado com o inglês Northern Rock. Mas a solução dada foi diferente. O Bear recebeu uma linha temporária de crédito, que provavelmente poderá ser renovada até que o banco se aprume ou seja vendido. O Northern acabou estatizado pelo Banco da Inglaterra (banco central inglês).
A pronta intervenção do Fed no Bear mostra que as autoridades estão determinadas a ir fundo, já que o socorro alcançou um banco privado que está fora da linha normal de assistência, para evitar uma crise sistêmica, ou seja, para evitar o efeito dominó sobre outros bancos.
Uma ajuda assim mostra que o Fed já não está dando ouvidos a sermões de que é um erro grave socorrer com dinheiro do contribuinte bancos que fizeram maus negócios.
Muito provavelmente o Bear não será, nesta crise, o único caso de quebra virtual. Aliás, a intervenção está sendo feita para que não quebre. O próprio presidente do Fed, Ben Bernanke, avisou há duas semanas que poderá ser inevitável a falência de alguns bancos de menor porte. O Fed deverá, afinal, eleger algum critério para salvar os que têm de ser salvos e deixar perecer os que tiverem de perecer.
Um dos maiores problemas da crise é que os bancos não sabem nem sequer a que preço acolher os pedidos de resgate, porque são ativos sem avaliação, uma vez que não têm comprador no mercado.
Vá lá, mal ou bem a encrenca dos bancos está sendo enfrentada. Mas até agora não há solução para o problema do mutuário que assumiu um empréstimo hipotecário, não consegue pagar suas prestações e vê o preço de sua casa cair para níveis inferiores ao do próprio financiamento.