Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 06, 2008

Celso Ming - Calote induzido




O Estado de S. Paulo
6/3/2008

Há dois dias, Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), conclamou os bancos dos Estados Unidos a reduzir unilateralmente a dívida dos seus mutuários.

O problema que o Fed quer resolver é conhecido. Em geral, qualquer financiamento habitacional consiste em alocar capitais (quase sempre de curto prazo) levantados com aplicadores no financiamento hipotecário, que levam de 20 a 30 anos para retornar, em suaves prestações mensais.

Nos últimos dez anos, os preços dos imóveis nos Estados Unidos subiram como rojão e os financiamentos se multiplicaram. Por ganância ou falta de critério na concessão desses créditos, um grande número de mutuários não conseguiu honrar a prestação mensal. Foi quando os imóveis novos passaram a encalhar e os preços em queda ajudaram a provocar o estouro da bolha.

O celebrado analista Nouriel Roubini fez lá seus cálculos e concluiu que a crise está reduzindo ou vai reduzir a pó alguma coisa entre US$ 4 trilhões e US$ 6 trilhões do valor do patrimônio imobiliário das famílias americanas.

Em questão de meses, cerca de 8,8 milhões de mutuários estão no pior dos mundos: passaram a ser forçados a pagar um financiamento habitacional maior do que o valor do imóvel.

Haviam sido atraídos para o negócio pelo argumento de que a prestação habitacional seria menor do que o valor do aluguel. Agora, tanto os aluguéis como os preços não param de cair.

Não bastasse esse contrapé no orçamento familiar, o mutuário enfrenta outros problemas como a alta dos alimentos e dos combustíveis, que lhe corrói o poder aquisitivo, e a perspectiva de recessão, que se encarregou de reduzir empregos e salários.

Assim, a inadimplência que vinha aumentando porque o mutuário não conseguia honrar sua prestação foi engrossada por nova onda: passou a valer mais a pena devolver o imóvel do que continuar pagando por ele um preço muito mais alto do que vale.

Os bancos, que hoje estão mal das pernas, puseram-se a executar hipotecas (retomar o imóvel) para os recolocar à venda. O aumento da oferta de residências no mercado contribui para derrubar os preços o que, por sua vez, tende a aumentar a inadimplência... É um círculo vicioso amedrontador. Os bancos reagiram mal à proposta de Bernanke. Reclamaram de que, na condição de presidente do Fed, não pode dar força ao calote da clientela, que tende a aprofundar seus problemas patrimoniais.

Mas é difícil tirar a razão de Bernanke. Nas crises financeiras das décadas de 80 e 90, foi inevitável que os credores aceitassem perder um pedaço do capital financiado. Foi assim na crise das dívidas soberanas dos países da América Latina (Brasil incluído) e foi assim na quebra do Long-Term Capital Management (LTCM). Bernanke não faz outra coisa senão sugerir a adoção do mesmo procedimento.

Apesar da chiadeira, os bancos vão concluir que ficará mais barato chamar os devedores e propor-lhes um bom corte na dívida para que possam continuar pagando suas prestações do que tomar-lhes os imóveis e colocá-los à venda com o deságio inevitável, fato que provocaria nova rodada de queda geral dos preços...

Confira

Não dá para comparar - O Ibama levou nada menos que 20 anos apenas para dizer se o Grupo Votorantim poderia ou não construir a Usina de Tijuco Alto. Acabou por dar sinal verde. Não importa se o projeto é bom ou ruim. O que importa é a falta de senso de urgência.

A China precisou de apenas 5 anos para construir 192 mil km de rodovias, 6 mil km de ferrovias e aumentar em 350 MW a capacidade de geração de energia elétrica. No período, o PIB chinês cresceu 65,5%. É só conferir o que está no discurso do primeiro-ministro Wen Jiabao, feito na abertura do Congresso Nacional do Povo.


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