Sérgio Castro/AE |
Alunos voltam às aulas: só para uma minoria vale realmente a pena |
A preocupação com o rumo (ou a falta dele) da educação nacional está presente em VEJA desde o seu lançamento, há quarenta anos. Nas coberturas sobre o tema, a revista sempre tentou evitar os lugares-comuns que, em geral, contaminam as discussões. Nesta edição, dois artigos e uma entrevista passam ao largo dos clichês e jogam luz sobre o problema educacional brasileiro. Em seu artigo, Claudio de Moura Castro mostra como é uma falácia imaginar que basta aumentar o salário dos professores para garantir um melhor ensino. Gustavo Ioschpe, em sua coluna, questiona as visões elitistas e utilitaristas da educação, argumentando que é preferível ter um país com balconistas com diploma superior a analfabetos na mesma função. Na entrevista das páginas amarelas, por fim, a secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, anuncia que as escolas estaduais paulistas serão as primeiras do país a ter metas acadêmicas e um prêmio em dinheiro pelo seu cumprimento. Alargar os horizontes, em busca de soluções, e banir as idéias feitas é o primeiro passo para resgatar nossos alunos do sistema perverso que reproduz a ignorância e, conseqüentemente, a desigualdade.
As abordagens acima mostram que ler sobre educação pode ser tão agradável quanto é importante. Mais ainda no momento em que milhões de estudantes brasileiros estão retomando as aulas. Para uma pequena parte, isso significa voltar a escolas bem equipadas e conservadas, com currículos modernos e professores preparados e estimulados a ensinar. No caso da imensa maioria, a realidade é oposta. As escolas estão em ruínas, os currículos insatisfatórios e ideologizados e os professores com um nível rudimentar de conhecimento de suas disciplinas – e encaram a profissão como simples bico, na falta de coisa melhor. O resultado de tamanha precariedade está expresso, com a clareza de que só a aritmética é capaz, no desempenho sofrível dos alunos brasileiros em provas de avaliação nacionais e internacionais. Em certas áreas, a educação entre nós chegou a uma situação para a qual – para citar diagnóstico semelhante feito sobre a educação americana nos Estados Unidos nos anos 80 – o pior inimigo do país a teria conduzido se pudesse. A boa notícia é que nunca houve tanta disposição, recursos e ferramentas quanto agora para reverter essa derrota histórica.