Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 02, 2008

RUY CASTRO A última do carioca

RIO DE JANEIRO - O carioca às vezes se cansa do abandono a que é relegado pelo poder público e sai de seus cuidados para reinventar a si próprio ou à cidade. Foi assim que, de dez anos para cá, sem um centavo oficial, ele salvou a Lapa da morte a que ela fora condenada pelo desprezo de várias gerações de administradores e transformou-a no que é hoje: o bairro mais vivo e vibrante do Rio.
Às 10 da noite, às 2 da madrugada ou, pelo que escuto dizer, às 6 da matina, o movimento é igual: a avenida Mem de Sá e as ruas do Lavradio e do Riachuelo duras de gente, com tudo funcionando -bares, restaurantes, gafieiras, casas de shows, templos de sinuca. Seu público tem gente de todas as origens, classes sociais, cores e sexos. É de novo a Copacabana dos anos 50, exceto que com chope, jeans e shortinhos em vez de uísque, gravata e decotes, samba no lugar do fox e Teresa Cristina no de Dolores Duran.
Mas, para que não se pense que a Lapa é só uma grande fuzarca, diga-se que, em sua vida civil, durante o dia, ela tem também farmácia, quitanda, floricultura, editora de livros, escola de teatro, loja maçônica, uma igreja tricentenária, vários museus, dezenas de antiquários. Gente famosa mora na Lapa e há edifícios residenciais em construção. Logo será um dos IPTUs mais caros do Rio. Mas isso não garante que o poder público passe a fazer por lá o que já não faz, hoje, no resto da cidade: recolher o lixo, melhorar a iluminação, disciplinar os ambulantes, conter a desordem urbana.
É por essa grita contra a atual desadministração, sentida em todos os bairros, que o carioca apresenta a sua última invenção: o boicote ao IPTU. Não é um calote, mas um protesto enfático -e fácil de ser adotado por qualquer cidade que se sinta, como o Rio, entregue a si própria. Então, quem sabe, os prefeitos aprenderão.

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