KENNETH MAXWELL
FIDEL CASTRO continua a ser o coringa no baralho. Ele sabe que nenhum dos candidatos, em meio à campanha presidencial dos Estados Unidos, vai querer assumir um compromisso quanto a mudar radicalmente a política norte-americana com relação a Cuba, especialmente tendo em vista o fato de que a situação eleitoral na Flórida continua em aberto, como continuará até novembro. Assim, ao renunciar ao seu posto como chefe de Estado na terça-feira, Castro uma vez mais desconcertou seus inimigos e recolocou seu país na agenda internacional.
Os especialistas em assuntos cubanos estão confusos com o que está acontecendo; nisso eles não diferem muito dos velhos "kremlinólogos", que foram apanhados completamente despreparados quanto o sistema soviético implodiu. Um famoso kremlinólogo que eu conhecia na época, quando questionado sobre o papel dos dissidentes, disse que "jamais conversou com eles", o que explica muita coisa! Mas será que teremos uma transição tão descomplicada em Cuba como os especialistas acreditam?
Existem dois modelos de sucessão de ditaduras prolongadas que vale a pena considerar: Espanha e Portugal, nos anos 70. Em Portugal, o velho ditador Salazar morreu e foi sucedido por um de seus veteranos colaboradores, Marcelo Caetano. Mas Caetano era tímido demais.
Ele não pôs fim às guerras coloniais de Portugal na África e não procurou uma aproximação com forças democráticas moderadas na sociedade portuguesa, que desejavam ajudá-lo a modernizar a economia e as instituições do país. Em cinco anos, o edifício do regime ruiu completamente, e o país caiu no caos político e social.
Na Espanha, Francisco Franco também morreu de causas naturais. O velho ditador havia estabelecido procedimentos institucionais para perpetuar o regime. Mas o sucessor que escolheu, o rei Juan Carlos, não seguiu o roteiro. A Espanha negociou uma clara ruptura institucional com o passado, e a Europa acolheu o novo regime democrático em Madri e ajudou em sua consolidação por meio de uma grande transferência de verbas.
Cuba seguirá o exemplo de Portugal ou o da Espanha? Muito dependerá do bom senso dos governos latino-americanos, especialmente o brasileiro, bem como dos europeus. A verdade é que chegou a hora de criar um novo grupo de "amigos de Cuba", uma organização de alto nível cuja função seria ao menos a de indicar aos Estados Unidos que a era das ações unilaterais norte-americanas contra Cuba é coisa do passado.
Castro jogou sua carta. E ele observará as conseqüências atentamente.