NOVA YORK. Tudo parece conspirar a favor de Barack Obama na véspera desta Superterça, quando 22 estados escolhem o candidato democrata, até mesmo a possibilidade real de que o senador pelo Arizona John McCain já surja como o virtual candidato republicano à sucessão de Bush. Pesquisas recentes mostram que, no momento, McCain venceria Hillary Clinton, mas perderia para Obama, o que acrescenta mais uma razão para que eleitores democratas indecisos o apóiem hoje. Obama vem reduzindo a vantagem de Hillary desde a Carolina do Sul e está praticamente empatado com ela na Califórnia, estado que escolhe o maior número de delegados hoje, exatos 441, e onde Hillary já esteve com folgada maioria.
Hoje, o voto latino certamente fará a diferença a favor de Hillary em vários desses estados, como a Califórnia, Nova York, Nova Jersey, Arizona, Novo México, Illinois, Massachusetts e Colorado.
Mesmo que Barack Obama venha se esforçando para não ser identificado como um candidato representante dos negros, ele vem recebendo cada vez mais o apoio desses eleitores, reduzindo uma supremacia nesse eleitorado que era da senadora Hillary Clinton até antes das primárias.
Obama sempre disse que faltava aos eleitores negros a certeza de que ele poderia vencer as eleições, e quando isso ficasse demonstrado, teria o apoio majoritário desse eleitorado. É o que vem acontecendo, tendo ele ficado com impressionantes 80% dos votos dos negros na Carolina do Sul. O peso do voto latino, no entanto, está do lado de Hillary, que ainda mantém também forte apoio na comunidade negra.
Na Califórnia, os latinos são cerca de 25% dos votantes, superando os negros.
Mas nos 22 estados que escolherão o candidato democrata hoje, o voto negro e o hispânico praticamente se equivalem: 10, 9 milhões de negros contra 10, 5 milhões de hispânicos, restando saber qual dos dois grupos vai comparecer mais fortemente às urnas.
Uma das variáveis sensíveis na eleição de hoje é o chamado “efeito Bradley”, segundo o qual o eleitor branco diz aos pesquisadores que vota em candidato negro, mas, na decisão da urna, não vota. Essa história vem de uma eleição ao governo na Califórnia em 1982, na qual o então prefeito de Los Angeles, o negro Tom Bradley, muito popular, liderou as pesquisas até o final, mas perdeu a eleição.
Uma eventual vitória de Barack Obama na Califórnia provavelmente dominaria o noticiário e o transformaria em um potencial vencedor final, mas todas as pesquisas sugerem que ele e Hillary dividirão os delegados nesta Superterça.
Como o sistema de escolha dos democratas divide os delegados proporcionalmente aos votos dos candidatos, é praticamente impossível que hoje exista um vencedor definitivo, embora a vantagem de um dos dois, especialmente Obama, pela reversão de expectativas, deva fazer com que sua candidatura ganhe força até a convenção.
Ao contrário, entre os republicanos há diversos estados, alguns deles importantes, como Nova York, em que o vencedor leva todos os delegados. O senador McCain aparece como franco favorito nas pesquisas nacionais entre os republicanos, com praticamente o dobro de votos que o ex-governador Mitt Rommey, e pode sair da Superterça com a indicação praticamente assegurada.
Mas não se deve excluir a possibilidade de o senador do Arizona, uma figura imprevisível, perder força, advertem analistas da política americana. McCain fez sua campanha como um dissidente da política oficial de George W. Bush e, se isso o destaca como uma opção mais moderada entre os conservadores, atrai a ira de setores do partido re p u b l i c a n o .
McCain, pelo equilíbrio fiscal, votou contra a redução de impostos defendida pelo governo Bush, alegando que não estavam previstos cortes equivalentes de despesas. Votou também contra a lei que proibia o casamento gay, defendendo que os estados decidissem, e propôs que fosse encontrada uma maneira de legalizar os imigrantes ilegais, cuja expulsão é defendida por setores radicais de seu partido.
Os republicanos, que começaram as primárias sem um candidato favorito, e divididos entre pelo menos três opções, começam a convergir para McCain, enquanto, do lado dos democratas, a antes franca favorita Hillary Clinton é prejudicada pela percepção de que o ódio dos conservadores a ela é a única coisa que une os republicanos, a ponto de tornar McCain favorito na disputa presidencial.
Além do mais, a maneira agressiva como ela e seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, conduziram a campanha até aqui — a ação conjunta é tão forte que já existe um candidato identificado como Billary — faz com que sejam acusados de dividir o partido democrata, divisão que seria a grande chance de os republicanos, com um candidato palatável à opinião pública, não perderem a Presidência depois de um governo desastroso como o de George W. Bush.
A impressão que ficou no ar no último debate antes desta Superterça, de que poderia sair da disputa uma chapa unindo os dois candidatos democratas, durou pouco, e a campanha dos últimos dias já mostrou que a disputa voto a voto não ajudará a uma união de forças.
Hillary Clinton, uma vez favorita, surpreendida pela força eleitoral de Obama, não teria humildade suficiente para aceitar ser vice, cargo que já teria ocupado de fato durante a gestão do marido. E Obama, exatamente pela força da candidatura Billary, sabe que o posto de vice-presidente em uma eventual gestão de Hillary Clinton será ofuscado pela ação do ex-presidente Bill Clinton.
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Entrevista:O Estado inteligente
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