Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

MELCHIADES FILHO

Crédito ou débito?

BRASÍLIA - Matilde Ribeiro fez sua parte, claro. Flagrada no topo do ranking dos gastos (os declarados, bem entendido), enrolou-se com as justificativas. Recusou-se a relatar o que comprou no free shop, a provar que ressarciu a União e a esclarecer por que usou o cartão corporativo em plenas férias. A entressafra noticiosa ajudou.
Talvez tudo tivesse sido diferente se fosse março ou abril, quando políticos e jornalistas estaríamos atolados no debate sobre cortes no Orçamento -ou chatice parecida. Não se pode, também, descartar o ingrediente étnico. Não criaram a secretaria e nomearam uma negra justamente para forçar a sociedade a enfrentar seus preconceitos? Natural que um escândalo como esse suscitasse cobranças inflamadas.
Nada disso, porém, basta para explicar por que a ministra da Igualdade Racial acabou rifada tão rápido -em menos de três semanas. Este governo não costuma se abater com os pecados dos seus, dar bola para a oposição/mídia ou temer o confronto com a opinião pública.
E, no entanto, antes mesmo que a imprensa destrinchasse as contas, o Planalto vazou, pela ordem, que: a auditoria das despesas já tinha sido pedida, as conclusões iniciais eram comprometedoras, os colegas de gabinete estavam indignados, novas regras seriam adotadas para os cartões e a cabeça de Matilde cairia.
Falou-se, logo, que Lula teria aprendido com o mensalão. Mas as revelações, durante o feriado, dando conta de que assessores do próprio presidente (e de sua família) também fizeram a festa com os cartões indicam outra razão para tanta diligência: evitar que se cavoucasse mais fundo nas compras que, por lei, requereriam licitação.
O silêncio atípico do PT diante da fritura de Matilde; o chilique de Franklin Martins ao saber que despesas da Presidência haviam sido tornadas públicas; o embaraço da Controladoria ao (não) comentar os gastos milionários da Presidência. A novela escapou do roteiro.

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