Papel crepom ou aço?
Artigo -
Folha de S. Paulo
8/2/2008
Para que algo mais grave ocorra no Brasil, será preciso que a China também desabe, o que parece improvável
UM DOS temas recorrentes neste início do ano tem sido a questão envolvendo os impactos da crise externa sobre o Brasil. Afinal, estamos blindados com aço ou, como dizem outros, com papel crepom?
Para alguns analistas -entre os quais eu me incluo-, a economia brasileira tem hoje condições estruturais novas e que fazem com que a tempestade nos países mais avançados aqui chegue com ventos bem mais suaves. Para outros, tudo isso não passa de invenção de uns poucos e que vamos sofrer -como sempre sofremos- os efeitos da desaceleração nas economias do Primeiro Mundo. Para facilitar o entendimento sobre esse debate, vou recorrer a uma imagem muito utilizada na época da Guerra Fria: a teoria dos dominós.
Neste novo mundo, criado pela ascensão da China e de outras economias emergentes, existem três grandes dominós: a economia americana; a economia da União Européia; e a China e outros emergentes, como os países exportadores de petróleo e de outras commodities. Em 2007, os Estados Unidos contribuíram com 25% do crescimento do PIB mundial, a Europa, com 29%, e a China e outros emergentes, inclusive o Brasil, com 30%.
Em 2008, esses números vão mudar bastante em razão da recessão americana. A parcela do aumento do PIB mundial devida aos Estados Unidos deve encolher para cerca de 10%, a da Europa, para algo próximo a 20%, e a das economias emergentes vai aumentar para mais de 50%. Chega-se a esses números assumindo um crescimento de 1,2% nos Estados Unidos, de 1,4% na Europa e de 8% na terceira peça do dominó.
A economia brasileira em 2008 vai crescer basicamente por forças internas, principalmente o consumo das famílias e o investimento privado. Já o dinamismo criado pelas exportações está concentrado nos segmentos de commodities agrícolas e de metais. E os mercados futuros desses produtos não mostram sinais de quedas significativas de preços, mesmo no caos que atinge os ativos financeiros.
Como exemplo claro desse descolamento podemos citar o fato de que se espera hoje um aumento de cerca de 50% nos preços do minério de ferro embarcados ao longo de 2008.
Com isso nossas exportações desse produto devem adicionar cerca de US$ 5 bilhões à balança comercial deste ano. Se acreditarmos nas promessas da Petrobras, outros US$ 4 bilhões poderão vir do aumento da produção interna de petróleo.
Esse cenário benigno só poderá ser afetado se a crise externa mudar de maneira importante as expectativas, principalmente do setor empresarial, inclusive o financeiro. E isso só ocorrerá caso tenhamos uma desvalorização importante do real. Mas basta olhar para o mercado de câmbio e notar que nossa moeda -já com seis meses de crise- é hoje uma das mais fortes e estáveis no mundo emergente. Nesse período, o real praticamente não se moveu. Entre outubro -que marca o agravamento da crise no Primeiro Mundo- e janeiro passado, o Banco Central acumulou US$ 14 bilhões em reservas internacionais. Além disso, muito por conta da valorização dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos em razão da queda dos juros, ocorreu uma alta adicional de mais US$ 10 bilhões no valor de nossas reservas.
Para que algo mais grave ocorra no Brasil, será preciso que a peça final do dominó, a China, também desabe por conta da crise americana. Hoje isso parece improvável, mas certamente é o risco mais grave para o cenário brasileiro.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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