Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Eliane Cantanhede - O "cruel", o "emotivo"

Eliane Cantanhede - O "cruel", o "emotivo"
Folha de S. Paulo
22/2/2008

Em 1964, Mário Soares saiu de Lisboa, escapuliu para a então Tchecoslováquia, voou para o Canadá e depois de mil peripécias enfim chegou a Cuba, com nome e passaporte falsos. Comunista depois convertido ao socialismo, estava louco para conhecer Fidel Castro e o regime de Havana, um orgulho para a esquerda mundial. 
Qual foi o resultado? "Fiquei decepcionado. Fidel era cruel, contra a liberdade, perseguia os adversários. Não era nada do que eu imaginava. Voltei triste para Portugal", me contou Mário Soares anteontem. "E o regime [de 1959] ainda estava começando!", acrescentou, agora com 83 anos. 
Se ele considera Fidel Castro "cruel", dedica adjetivos simpáticos ao maior aliado do ditador cubano na América Latina, Hugo Chávez: "Ao contrário do que dizem, o Chávez é um homem emotivo, que tem princípios democráticos e preocupação social. Foi uma pena ter insistido no referendo [para ter mandatos infinitos]", disse o velho líder, um humanista que foi duas vezes primeiro-ministro e duas vezes presidente de Portugal. 
Soares veio ao Brasil para entrevistas com Lula, com Serra e com Aécio quando a notícia da renúncia de Fidel explodiu. Na sua opinião, o governo Bush errou ao reagir com pedras na mão, anunciando que manteria o embargo e exigindo mudanças em Cuba, como se fossem donos da ilha. 
Bem fez Lula, "hábil e sensato", ao elogiar Fidel e dizer que o povo cubano é soberano para decidir o que é melhor para o país. Posicionou-se assim para ajudar na transição, analisou Mário Soares, que mantém um equilíbrio saudável que os próprios brasileiros não conseguem ter nas relações com tucanos, especialmente FHC, e com petistas, especialmente Lula. 
Soares, aliás, estava impressionado com os 66,8% (CNT/Sensus) de aprovação de Lula. Ele acha que o Brasil vai de vento em popa.

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