Duvido que, fora de campanha eleitoral, o senador Barack Obama compre e carregue suas próprias rosquinhas, conforme a simpática foto publicada ontem na capa desta Folha. Político em campanha faz o diabo para parecer "gente como a gente", em qualquer país do mundo. No Brasil, é um esforço ainda mais necessário, porque o que vale aqui é uma historinha que já contei, ouvida do velho sábio que habitava o jornal. Ele perguntou certa vez a um governador "biônico" (já morto) por que era tão apegado ao cargo de governador se parecia mais talhado para os debates parlamentares. Resposta do governador: "Você não sabe como é bom passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta" (porque sempre há um "aspone" pronto para abrir portas e um mundão de etc.). Contei essa história no chuvoso dia em que o presidente Lula chegou a Londres para uma visita de Estado. Depois de saudá-lo às portas do Palácio de Buckingham, o então primeiro-ministro Tony Blair voltou para sua casa, ali ao lado, carregando ele próprio o guarda-chuva e ainda oferecendo "carona" nele ao então vice-primeiro-ministro, John Prescott. É cena miúda, sei bem, mas impossível de ver-se no Brasil, o que acaba sendo todo um compêndio sobre usos e costumes de um lado e de outro do mundo. Aqui, me lembro de um embaixador, então chefe do Cerimonial, que sacou de seu próprio lenço para limpar mancha de batom que uma cabrocha de escola de samba deixara no rosto de Fernando Henrique Cardoso, presidente em visita a Buenos Aires. Voltando a Obama, do meu ponto de vista, carregar "donuts" não basta para ganhar meu voto, se votasse lá. Quero é ver como se comporta se e quando chegar ao poder e tiver um mundão de mãos à disposição para poupá-lo de maçanetas, "donuts" e outras trivialidades. |