JB - 11/fev/2008Cartões e ladravões
De tudo que foi dito e escrito sobre a farra apoteótica da gastança de comissários e familiares do presidente da república com os cartões de crédito administrativos, faltou enunciar claramente, sem subterfúgios nem meias palavras, uma verdade conclusiva: foi roubo puro e simples, e os roubadores, se vivêssemos sob o império da lei, deveriam ser indiciados como ladrões comuns. É o espetáculo da impunidade.
O absurdo se propagou como uma metástase. Os membros do politburo petista viram, na rapinagem dos cofres públicos, um atalho para o enriquecimento ilícito. A Comissária Dilma Roussef diz concordar com a pilhagem dos cartões; tudo vale pela causa do socialismo. Seja como for, o fato nu e cru é que, nos últimos quatro anos, a roubalheira cresceu 500% e já atinge um montante anual superior a R$80 milhões; os saques em dinheiro correspondem a 60% deste total. Eles sabem saquear. São gatunos profissionais sem qualquer resquício de vergonha. É o espetáculo da desonestidade.
A bandalheira começa no gabinete da presidência da república. Lula da Silva sustenta a família com os cartões oficiais. Seus cúmplices gastam fortunas em supermercados, açougues, lojas de bebidas e padarias. Não nos referimos só às compras para o municiamento do palácio, mas das residências particulares. Lurian Cordeiro, filha do presidente, gasta R$6 mil mensais no cartão corporativo em Florianópolis onde mora; autopeças, material de construção, alimentos, livros, combustível, etc. Não é preciso ser filólogo para saber definir esse comportamento. Por qualquer padrão lingüístico, trata-se, sim, de ladroagem na genuína acepção do vocábulo. É o espetáculo da safadeza.
Na esteira do chefe, vêm os ministros, encabeçados — pasme o leitor — pelo hiperbólico Comissário Gilberto Gil que não quer explicar despesas de R$ 278 mil no seu BB Visanet chapa-branca. O que diz a autoridade cultural? O artista alça a fronte, limpa um falso pigarro e se defende: "Ganho este valor em dois shows". Então deveria ter usado seu próprio dinheiro; não precisava dissipar o nosso. Segue-se na fila, a obscura Comissária Matilde Ribeiro que, desde 2003, sob o olhar complacente ou displicente ou indecente do tribunal de contas, promovia a igualdade racial em meio a uma farra hedônica com verba do erário; hotéis cinco-estrelas, redutos da boemia, bares da moda, "free shops" e aluguéis de carros sem licitação. Interpelada, responde que cometeu um "equívoco". Eis o mais recente eufemismo da alta administração federal para ladroeira. É o espetáculo do sarcasmo.
Altemir Gregolin, Comissário da Pesca. esbaldou-se no Carnaval de 2007, esbanjou em diárias de hotéis, empanturrou-se na churrascaria e deu polpudas gorjetas aos garçons do Hera Bar. Flagrado, Gregolin não se explica nem se justifica. O Comissário dos Esportes, Orlando Silva, com a verba de inúmeros impostos extorsivos, financiou almoços e jantares para convidados durante o ano inteiro em requintados restaurantes paulistanos. Sabemos, porém, que o perdulário comissário incluiu, entre suas despesas a serviço do povo, uma modesta tapioca que nos custou apenas oito reais. Por isso, recebeu o apelido, entre os próprios subordinados, de Ministro da Tapioca. Consta que, ao perceber o escândalo, correu pressuroso a restituir R$30 mil ao erário. Será que agiria assim, se a ladroíce não fosse descoberta pela imprensa? Improvável, porque quem faz o que ele fez não costuma ter arroubos de honestidade espontaneamente. É o espetáculo da malandragem.
Falta-nos espaço para comentar as falcatruas da caterva do segundo escalão com sua enxurrada de mais de dez mil cartões sem critérios nem limites. Diante da evidência, o cinismo governamental atinge o ápice: chamaram a pilantragem de mero erro administrativo e pretendem censurar o portal da transparência de onde retiramos a informação, alegando questões de segurança. É o espetáculo da impudência.
Desmoralizados, são mais do que ladrões; são ladravazes, são ladravões.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
Antonio Sepulveda"Cartões e ladravões".
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
fevereiro
(481)
- A Sociologia do Pessimismo dos motoristas de táxi
- Nelson Motta Descontrole remoto
- Clipping de 29 de fevereiro
- Viaje a seu risco e perigo
- Restrições ao meu otimismo
- A perversidade das Farc
- Eliane Cantanhede - Abrindo o apetite
- Dora Kramer - As lides da embromação
- Clóvis Rossi - Crimes, pequenos ou grandes
- Celso Ming - Sacrifícios a Moloque
- Sou, mesmo, um pequeno burguês
- Sócio incômodo
- Luiz Garcia - Fígado, e também tutano
- Merval Pereira - Visões de Estado
- Míriam Leitão - A reforma da vez
- Lula fala sobre economia e o brasileiro no Rio
- Clipping de 28 de fevereiro
- Miriam Leitão Nas duas pontas
- Merval Pereira - A aposta
- Jânio de Freitas - Caminhos do roubo
- Dora Kramer - Soro da verdade
- Clóvis Rossi - O Estado caixa-preta
- Celso Ming - Questão de prioridade
- A resposta de FHC às grosserias de Lula
- Clipping de 27 de fevereiro
- O ministro não se abala
- AUGUSTO NUNES- O Magnífico Reitor e seu lixo de luxo
- Roberto DaMatta O lugar da polícia
- Confusão na reforma
- Villas-Bôas Corrêa A ressurreição do escândalo Pal...
- Míriam Leitão - O veio da mina
- Merval Pereira - O ilusionista
- Dora Kramer - A correlação da força
- Clóvis Rossi - O melhor cinema brasileiro
- Celso Ming - Morro abaixo
- Clipping de 26 de fevereiro
- Ligações duvidosas
- Emprego vitalício
- Nada de novo em Havana
- Dora Kramer - Fazer acontecer
- Celso Ming - Sem riscos
- Celso Ming - O que é bom a gente esconde
- Clóvis Rossi - Fome mil
- Eliane Cantanhede - Amizade colorida
- Merval Pereira - O papel de Lula
- Míriam Leitão - Arco de fogo
- Rubens Barbosa Fidel - O homem e o mito
- A quem serve a tal liberdade de imprensa?
- Clipping do dia 25/02/2008
- Clipping do dia 24/02/2008
- Clipping do dia 23/02/2008
- Antonio Sepulveda- "El Comandante é o outro".
- AUGUSTO NUNES- SETE DIAS
- Miriam Leitão
- Merval Pereira
- Daniel Piza
- João Ubaldo Ribeiro
- Mailson da Nóbrega
- Alberto Tamer
- Suely Caldas
- Celso Ming
- Dora Kramer
- Verdades, mentiras e versões
- Mais recursos para a educação básica
- A reforma tributária possível
- CLÓVIS ROSSI
- Esboço positivo
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR
- De devedor a credor
- Contratos sob suspeita
- Miriam Leitão
- Merval Pereira
- RUY CASTRO
- Forno de Minas
- CLÓVIS ROSSI
- Tailândia, Brasil
- Convenioduto
- Celso Ming O frango sob ameaça
- Dora Kramer
- O fim das ameaças à imprensa
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Alice Braga
- Stephen Kanitz
- MILLÔR
- André Petry
- J. R. Guzzo
- REINALDO AZEVEDO
- Diogo Mainardi
- RADAR
- Roberto Pompeu de Toledo
- O momento econômico e os méritos da gestão Lula
- O roubo dos laptops: que informações foram levadas?
- As ações da Igreja Universal contra a Folha de S.P...
- Liminar do Supremo revoga Lei de Imprensa
- Naufrágio mostra os perigos do transporte na região
- O futuro sem Fidel
- Independência de Kosovo anima outros separatistas
- Míssil dos EUA destrói satélite
- A ONU cria banco de sementes no Ártico
-
▼
fevereiro
(481)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA