Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, maio 07, 2007

Antonio Sepulveda Suplício por merecimento



Confesso sentir certo prazer sádico sempre que leio ou ouço alguma queixa contra a atual situação do Brasil. As lamúrias soam como o coral de carpideiras de uma ópera-bufa. Eis aí o lado tragicômico da democracia brasílica: o povo elege seus anti-heróis e, apesar do desastre resultante, os reelege entusiasticamente ante à perplexidade do senso comum.

Gatunos, terroristas, vadios, boçalóides e gramcistas de ambos os sexos conseguem desfrutar, com impunidade cínica, o hedonismo que distingue a famigerada Praça dos Três Poderes, com os votos dos amorfos, dos indiferentes, dos medíocres, dos mal-intencionados e dos socialistas. Conclusão a que se chega: a choradeira deve ser encarada como uma autocrítica e os eleitores da matula merecem a existência lastimosa que escolheram livremente nas urnas; fazem jus ao infortúnio e têm todo direito ao peso desse aviltamento.

Nunca antes neste país, sem qualquer intenção de plágio, a verdade política foi tão límpida, tão cristalina: a safadeza vem à tona, as evidências se multiplicam, os crimes são comprovados, as mentiras se mostram transparentes e nada, rigorosamente nada, acontece. É como se todos os poderes da República fossem coniventes com a sordidez reinante sob a aclamação de uma maioria tomada por instintos bestialmente suicidas.

Não importam os dólares sonegados, os cheques assinados, as contas estrangeiras, as máquinas caça-níqueis, as gravações de voz e imagem... Todos os implicados - parlamentares, juízes, policiais, com a honrosa exceção dos bicheiros que jamais se disseram castos - são sacerdotizas de Vesta, exigem fórum especial e, com o beneplácito de uma legislação caduca e nociva, almejam outros mandatos, outras sinecuras e outras mamatas, a fim de evitar que suas falcatruas sofram solução de continuidade.

Lula da Silva, que nos deveria estar presidindo e ser atento ao que ocorre a um palmo de seus olhos opacos, repete os clichês de sempre e jura que de nada sabe, que nada viu, que nada escutou.

Conhecendo-lhe o currículo, duvidamos que não tenha visto, duvidamos que não tenha ouvido, mas acreditamos, sinceramente, que ele não saiba ou tenha discernimento para saber.

Os brasileiros nos acostumamos à lama de Brasília e perdemos a capacidade de sentir indignação, de sentir vergonha. Hoje, a podridão está às escâncaras, conquanto poucos sintam a fedentina ou estejam dispostos a denunciá-la. A verdade, ao se ver exposta, baixa a pupila e se esconde na própria desonra; a razão perde a altivez e se vê escravizada pelo sofisma; e ao se abrirem as urnas, de lá espirram, soberbos e ovantes, o vício e a mendacidade. É como se o próprio Mefistófeles nos guiasse o juízo. Os protestos, portanto, não se sustentam; colhe-se exatamente o que se plantou e replantou.

Constatamos que a saúde continua um caos. A educação é melancolicamente ineficaz e os que conseguem formação universitária esbarram na falta de emprego, porquanto as empresas não têm cacife para, simultaneamente, pagar bons salários, suportar impostos extorsivos e cumprir leis trabalhistas simplesmente inexeqüíveis. Os bandoleiros e desordeiros do movimento dos sem-terra, com verba do erário e a bênção do politburo tupiniquim, invadem, pilham, matam e morrem por uma revolução maoísta no Brasil. As rodovias sucateadas são assassinas e um entrave à economia. A dívida pública esbarra em um trilhão de reais. A carga tributária anda insuportavelmente a beirar os 40% do PIB. O cenário nacional é de violência, drogas, corrupção, criminalidade e, sobretudo, impunidade. Contudo, nossos laboriosos parlamentares só trabalham três dias por semana e se aliam aos nossos condescendentes magistrados no gozo de privilégios inaceitáveis.

Embora sejamos minoria, assestemos a fúria do verbo contra toda essa canalhice; a palavra é o canhão do homem livre.

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