O "normal" e o nada a fazer
BRUXELAS - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já disse que a alta do real era "inevitável". Agora, vem o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, dar de ombros para a quebra de empresas, por ele mesmo prevista, porque "é normal que algumas empresas quebrem, e isso em qualquer setor, se não tiverem boa gestão".
Muito antes de Jorge nascer já se dizia que quem não tem competência não se estabelece. O problema é que a avaliação do ministro é, no mínimo, vesga ao comparar a quebra de empresas por conta do real sobrevalorizado (e a conseqüente concorrência com a produção estrangeira que entra a baixo preço no Brasil) com a quebra de bancos após o Plano Real, quando a inflação foi controlada, em 1994.
No pós-Real, um ou outro banco de fato quebrou, mas a grande maioria lucrou como nunca antes neste país, como diria Lula se não tivesse perdido a eleição de 1994, em parte, aliás, por conta do real forte e da inflação baixa.
Agora, os bancos, de um dos quais saiu Miguel Jorge para o Ministério do Desenvolvimento (que, por definição, não poderia achar normal que empresas quebrem, em vez de se desenvolverem), continuam lucrando uma barbaridade, mas alguns setores produtivos andam para trás ou, no mínimo, com o freio de mão puxado.
Quando o ministro da Fazenda acha inevitável a alta da moeda que leva à quebra de algumas empresas, quando o ministro do Desenvolvimento acha normal que quebrem, se está diante da evidência da inutilidade dos gestores oficiais. Se é para ficar olhando o real subir e as empresas quebrarem, o que fazem os ministros?
Não sei o que fazem, mas certamente não fazem nada para a queda dos juros, porque, aqui, está-se no território de Henrique Meirelles, que, por sua vez, acha que não é o real que está subindo, mas o dólar que está caindo, no mundo todo. Logo, nada a fazer também.
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