Álvaro Vargas Llosa, jornalista e ensaísta peruano, filho do renomado Mário Vargas Llosa, é co-autor do Guia do perfeito idiota latino-americano, em parceria com o colombiano Plinio Apuleyo Mendoza e o cubano Carlos Alberto Montaner. O livro investe contra aventureiros típicos da zona tropical que abraçam ideologias comprovadamente malsucedidas até em plagas temperadas; e conclui que esses idiotas são responsáveis pelo subdesenvolvimento da região. As contumazes mazelas latinas - revolução, nacionalismo econômico, rancor contra os Estados Unidos, fé no governo como um agente de justiça social, submissão ao Estado e preferência por ditaduras em detrimento da legalidade - seriam uma fábrica laboriosa de nossa mediocridade política. A conclusão do argumento é o retrato da realidade.
Ao longo do século 20, o populismo latino-americano brandiu bandeiras totalitárias e idéias marxistas, berrou clichês estéreis contra imperialistas estrangeiros e prometeu livrar os povos da pobreza. Uma após outra, as políticas movidas a ideologia mostraram-se míopes e indolentes. Os fracassos sucessivos provocaram uma retirada provisória dos ditadores; mas uma nova geração de revolucionários de estilo bizarro tenta restaurar o flagelo deixado pela escória de seus predecessores. São os idiotas de sempre.
Dois idiotas em especial, hoje em dia, inspiram outros idiotas delirantes: "el presidente" Hugo Chávez, da Venezuela, e "el presidente" Evo Morales, da Bolívia. Chávez é visto como um sucessor perfeito para o famigerado ditador cubano, Fidel Castro, também reverenciado por uma chusma de idiotas vocacionais. Ao contrário de Fidel, que jamais aprovou a realização de eleições livres, Chávez, tal e qual Adolf Hitler, o nacional-socialista alemão, foi eleito pelos idiotas, e os idiotas o consideram o mais progressista de toda essa matulagem neo-socialista.
Evo Morales baixa decretos e se apropria de nossas refinarias sob o olhar compreensivo do governo brasileiro que não deseja criar antagonismos com um companheiro de verve socialista; fosse Morales liberal e defensor do livre mercado, e o Planalto não faria tantas concessões inaceitáveis. Logicamente, liberais não estatizam; mas a comparação serve para demonstrar a tendência da lealdade das esquerdas, que se sobrepõe aos interesses da pátria; tamanho é o sectarismo ideológico desses idiotas.
Teóricos e militantes marxistas dão crédito a essa alienação e querem ressuscitar idéias que nos pareciam justamente extintas. O ódio irracional contra a livre iniciativa lhes propicia uma experiência de imenso gozo espiritual. Não percebem a sutil falsidade de sua premissa maior: o populismo latino-americano não tem qualquer ligação com as aspirações à tão almejada justiça social.
A praga populista começou com a reação dos caudilhos à frente de movimentos de massa contra as oligarquias do século 19. Culpavam as nações ricas européias pelo atraso da América Latina. Buscavam sua precária legitimidade no voluntarismo político, em substituição ao império da lei; no protecionismo e na redistribuição de renda, por meio da impugnação da oligarquia vigente e a criação de outra oligarquia ainda mais voraz e concentradora; na denúncia do neocolonialismo, elegendo-se os Estados Unidos como o império do mal; na projeção sobre as relações internacionais da luta de classes entre ricos e pobres; na idolatria estatal que os idiotas transformaram em força redentora dos oprimidos; no autoritarismo fantasiado de segurança nacional; e na abominação do clientelismo, com base na crença disparatada de que o empreguismo - não a criação de riquezas - é o conduto da mobilidade social e a maneira eficaz de se manterem votos cativos para as eleições seguintes.
Resultado de tudo isso, hoje visível: governos inchados, burocracia asfixiante, subserviência das instituições jurídicas ao poder político, muita corrupção, economias parasíticas e, pior ainda, uma edição indigenista das cruezas do socialismo.